sexta-feira, 29 de julho de 2011

30/07: Decálogo (Krzystof Kieslowski, 1989) - CAPÍTULOS IX e X

Decálogo - Krzystof Kieslowski (1989)

*Sobre a série Decálogo: São 10 capítulos com cerca de uma hora cada. O cineclube exibirá 2 episódios por sábado. Os capítulos são independentes, portanto não tem importância caso você perca algum sábado. Entretanto, para o total deleite desta bela obra, recomenda-se que se vejam todos os capítulos.
Não são filmes religiosos.

Sinopse
Realizado para a televisão polonesa em 1989, Decálogo é um conjunto de filmes inspirados nos Dez Mandamentos. Ambientadas no mesmo condomínio de Varsóvia, a capital da Polônia, as histórias ilustram conflitos morais e dramas familiares. Vencedor do Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cinema de Veneza, Decálogo consagrou internacionalmente Kieslowski. Uma obra simplesmente monumental. Direção: Krszystof Kieslowski.

Decálogo 9 - Não Desejarás a Mulher do Próximo
Ao descobrir que o marido é impotente, mulher envolve-se co um jovem amante, criando uma situação conflituosa para si e seu marido. 56 minutos.

Decálogo 10 - Não Cobiçarás As Coisas Alheias
Com a morte de um filatelista que em vida mal se dedicava a sustentar a família, uma verdadeira fortuna em selos é descoberta. Seus dois filhos são obrigados a tomar medidas de segurança para proteger a inesperada herança. 56 minutos.


"O único trabalho que pode ser chamado de obra-prima no cinema de meu tempo" (Stanley Kubrick sobre o 'Decálogo')

sexta-feira, 22 de julho de 2011

23/07: Decálogo (Krzystof Kieslowski, 1989) - CAPÍTULOS VII e VIII

Decálogo - Krzystof Kieslowski (1989)

*Sobre a série Decálogo: São 10 capítulos com cerca de uma hora cada. O cineclube exibirá 2 episódios por sábado. Os capítulos são independentes, portanto não tem importância caso você perca algum sábado. Entretanto, para o total deleite desta bela obra, recomenda-se que se vejam todos os capítulos.
Não são filmes religiosos.

Sinopse
Realizado para a televisão polonesa em 1989, Decálogo é um conjunto de filmes inspirados nos Dez Mandamentos. Ambientadas no mesmo condomínio de Varsóvia, a capital da Polônia, as histórias ilustram conflitos morais e dramas familiares. Vencedor do Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cinema de Veneza, Decálogo consagrou internacionalmente Kieslowski. Uma obra simplesmente monumental. Direção: Krszystof Kieslowski.

Decálogo 7 - Não Furtarás
Garota entrega sua filha para a avó criar, e se passa por sua irmã. Quando a criança está com 6 anos, a verdadeira mãe resolve aproximar-se, levantando antigas mágoas entre as duas mulheres. 57 minutos.

Decálogo 8 - Não Levantarás Falso Testemunho
Pesquisadora judia encontra-se com uma professora de Ética da universidade que, há 45 anos, negara-lhe ajuda durante a Segunda Guerra Mundial, pois sendo católica, não podia cometer falso testemunho. 56 minutos.


"O único trabalho que pode ser chamado de obra-prima no cinema de meu tempo" (Stanley Kubrick sobre o 'Decálogo')

Artigo: O Decálogo de Kieślowski e o debate sobre os Mandamentos

por Márcia Junges e Patricia Fachin
Extraído de
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3072&secao=321

Marcus Mello analisa a exibição do Decálogo I e acentua que essa série divide a produção do cineasta polonês

Uma obra que marca uma guinada temática na filmografia do diretor polonês Krzysztof Kieślowski. De acordo com Marcus Mello, da Usina do Gasômetro, de Porto Alegre, “Kieślowski aborda cada um dos mandamentos de forma extremamente original, colocando em permanente discussão a verdade de cada um deles. Sua relação com os dogmas da Igreja Católica não é nem um pouco tranquila e, embora o sentido de sagrado em seus filmes seja uma constante, sua visão muito pessoal dos mandamentos parece revelar uma leitura agnóstica da chamada ‘Lei de Deus’”.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - O senhor pode fazer uma breve apresentação de quem foi Krzysztof Kieślowski?

Marcus Mello - Kieślowski foi o principal nome do cinema polonês entre os anos 1980 e 1990, e, sem dúvida alguma, é um dos mais importantes e influentes diretores surgidos nos últimos 50 anos. Sua morte prematura não o impediu de deixar como legado uma obra grandiosa, que reflete sobre o mundo contemporâneo com impressionante lucidez.

IHU On-Line - Como o senhor caracteriza as produções cinematográficas de Kieślowski? Há diferença entre a fase polonesa e a francesa?

Marcus Mello - Kieślowski tem uma obra vasta, mas sua primeira fase é menos conhecida pelo público. Na Polônia, dedicou-se inicialmente ao cinema documental, realizando vários filmes que abordam questões sociais e políticas importantes, mas sem muita repercussão internacional. É a partir do reconhecimento da crítica estrangeira em relação à série Decálogo que seu nome passa a ser conhecido fora da Polônia. O Decálogo também marca uma guinada temática em sua filmografia. Seus filmes da fase francesa, que viriam a seguir (A Dupla Vida de Verônica e a Trilogia das Cores), iriam revelar um cineasta mais preocupado com questões metafísicas, para quem a morte torna-se um tema recorrente e crucial.

IHU On-Line - A série Decálogo é baseada nos Dez Mandamentos. Como o diretor aborda cada um deles e os relaciona com conflitos morais?

Marcus Mello - Kieślowski aborda cada um dos mandamentos de forma extremamente original, colocando em permanente discussão a verdade de cada um deles. Sua relação com os dogmas da Igreja Católica não é nem um pouco tranquila e, embora o sentido de sagrado em seus filmes seja uma constante, sua visão muito pessoal dos mandamentos parece revelar uma leitura agnóstica da chamada “Lei de Deus”.

IHU On-Line - Como os temas ética e estética se relacionam na obra do diretor polonês?

Marcus Mello - Ética e estética são elementos indissociáveis no cinema de Kieślowski. Ele foi um diretor que sempre foi movido por preocupações éticas, traduzidas numa obra de profundo sentido humanista.

IHU On-Line - Em que medida o Decálogo proporciona aos espectadores a oportunidade de refletir sobre os conflitos contemporâneos?

Marcus Mello - Cada episódio do Decálogo está ambientado num conjunto gigantesco de apartamentos em Varsóvia. Este cenário pode ser visto como um microcosmo no qual estão representados os principais conflitos do final do século XX, com suas vertiginosas transformações políticas, tecnológicas e comportamentais. Para muitos críticos, o Decálogo é a grande obra sobre o estertor do regime comunista no leste europeu, cuja derrocada (em 1989) ele irá anunciar claramente.

IHU On-Line - Como os pilares dos princípios cristãos são retratados na obra? De que maneira o diretor conseguiu torná-los universais?

Marcus Mello - Como eu já havia dito, a questão da religião em Kieślowski é nebulosa. Ele chegou a ser acusado de agnóstico por publicações católicas em diversos momentos de sua carreira, já que sua relação com Deus é sempre problemática. Tome-se como exemplo o primeiro episódio do Decálogo, que coloca em cena a morte de uma criança e a revolta de seu pai diante desse fato terrível. Ao invadir a igreja e destruir o altar no final do filme, esse pai desesperado desperta no espectador sentimentos ambíguos em relação à justiça de Deus, o que acaba tendo um efeito bastante perturbador.

IHU On-Line - A partir dos princípios dos Dez Mandamentos, como Kieślowski retrata os ideais da humanidade: ódio, amor, culpa, sob a perspectiva humanística?

Marcus Mello - O Decálogo, assim como os filmes da fase francesa de Kieślowski, são um libelo humanista de enorme densidade e profundidade filosófica. São filmes que revelam sim um sentido de sagrado, mas é como se o diretor identificasse esse sentido apenas no humano e em suas contradições e imperfeições. Sua obra parece dizer que, se Deus existe, esse Deus é cruel e ausente, cabendo apenas ao homem a responsabilidade de alcançar alguma forma de transcendência na vida. Transcendência que se dá, quase sempre, através da criação artística, como mostram as personagens de Irène Jacob em A Dupla Vida de Verônica e Juliette Binoche em A Liberdade é Azul

sexta-feira, 15 de julho de 2011

16/07: Decálogo (Krzystof Kieslowski, 1989) - CAPÍTULOS V e VI

Decálogo - Krzystof Kieslowski (1989)

*Sobre a série Decálogo: São 10 capítulos com cerca de uma hora cada. O cineclube exibirá 2 episódios por sábado. Os capítulos são independentes, portanto não tem importância caso você perca algum sábado. Entretanto, para o total deleite desta bela obra, recomenda-se que se vejam todos os capítulos.
Não são filmes religiosos.

Sinopse
Realizado para a televisão polonesa em 1989, Decálogo é um conjunto de filmes inspirados nos Dez Mandamentos. Ambientadas no mesmo condomínio de Varsóvia, a capital da Polônia, as histórias ilustram conflitos morais e dramas familiares. Vencedor do Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cinema de Veneza, Decálogo consagrou internacionalmente Kieslowski. Uma obra simplesmente monumental. Direção: Krszystof Kieslowski.

Decálogo 5 - Não Matarás
Um crime ocorrido em Varsóvia une três personagens: um desocupado, um taxista e um advogado em início de carreira. Episódio que deu origem, posteriormente, ao longa Não Matarás. 57 minutos.

Decálogo 6 - Não Pecarás Contra a Castidade
Jovem tímido declara seu amor a uma vizinha e fica decepcionado ao descobrir que ela encara com extrema liberdade uma possível relação entre eles. Foi posteriormente transformado no longa Não amarás. 56 minutos.


"O único trabalho que pode ser chamado de obra-prima no cinema de meu tempo" (Stanley Kubrick sobre o 'Decálogo')

Artigo: Um cinema humanista de primeira qualidade

Na visão do cineasta Carlos Gerbase, Kieślowski conseguiu construir uma obra verdadeiramente autoral e coerente


Nesta semana, entrevistamos o cineasta Carlos Gerbase sobre o diretor. Gerbase respondeu as breves perguntas que seguem, por e-mail, falando não apenas do Decálogo, mas comparando com outra obra prima de Kieślowski: a Trilogia das Cores. Nela, Gerbase crê que “há uma preocupação com os grandes desafios éticos do mundo contemporâneo, ao mesmo tempo em que certos valores ditos ‘universais’ são questionados e, de certa forma, resgatados”. Para ele, principalmente no filme Branco, Kieślowski “oferece ao espectador sua perplexidade com algumas soluções do nosso tempo. É como se ele dissesse: esse mundo parece tão sem sentido, tão absurdo, que alguém precisa encontrar, urgentemente, bases um pouco mais sólidas para aliviar a nossa angústia”. “Mas, é claro”, continua Gerbase, “ele não sabe que bases são essas. A filosofia e as religiões procuram essas bases, e talvez, por isso, o trabalho de Kieślowski possa ser classificado como filosófico e religioso”.

Carlos Gerbase é um cineasta gaúcho, integrante da Casa de Cinema de Porto Alegre. É também professor de cinema na PUCRS, escritor e músico, tendo sido membro da banda Replicantes como baterista e depois, vocalista.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Quais os principais pontos que marcam a trajetória do diretor polonês Krzysztof Kieślowski?

Carlos Gerbase - Ele é um cineasta que conseguiu construir uma obra verdadeiramente autoral e coerente, que alcançou distribuição internacional. Não são muitos os diretores do leste europeu que conseguem, em relativamente pouco tempo, um reconhecimento assim.

IHU On-Line - Como você define ou qualifica a obra Decálogo, projeto de dez médias-metragens?

Carlos Gerbase - Prefiro destacar apenas um filme da série: "Não matarás". É um dos filmes mais impressionantes sobre a morte (e a culpa de quem mata) que já foram produzidos. A cena em que o motorista de táxi é assassinado dura tanto tempo, e é tão angustiante, que o espectador pode ficar nauseado. Nesses tempos de mortes espetaculares, executadas às dúzias, com sentido mais coreográfico que emocional, essa cena é um exemplo de cinema humanista de primeira qualidade.

IHU On-Line - O que caracteriza a ética do cotidiano e o sentido da vida humana na obra de Kieślowski?

Carlos Gerbase - Na Trilogia das Cores, creio que há uma preocupação com os grandes desafios éticos do mundo contemporâneo, ao mesmo tempo em que certos valores ditos "universais" são questionados e, de certa forma, resgatados. A moral é sempre histórica, como já dizia Nietzsche, mas isso não resolve todos os nossos problemas de avaliação. É muito difícil fazer uma reflexão sobre o sentido da vida no cinema, mas Kieślowski não foge da luta. E me parece que, principalmente no "Branco", ele oferece ao espectador sua perplexidade com algumas soluções do nosso tempo. É como se ele dissesse: esse mundo parece tão sem sentido, tão absurdo, que alguém precisa encontrar, urgentemente, bases um pouco mais sólidas para aliviar a nossa angústia. Mas, é claro, ele não sabe que bases são essas. A filosofia e as religiões procuram essas bases, e talvez por isso o trabalho de Kieślowski possa ser classificado como filosófico e religioso.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

09/07: Decálogo (Krzystof Kieslowski, 1989) - CAPÍTULOS III E IV

Decálogo - Krzystof Kieslowski (1989)

*Sobre a série Decálogo: São 10 capítulos com cerca de uma hora cada. O cineclube exibirá 2 episódios por sábado. Os capítulos são independentes, portanto não tem importância caso você perca algum sábado. Entretanto, para o total deleite desta bela obra, recomenda-se que se vejam todos os capítulos.
Não são filmes religiosos.

Sinopse
Realizado para a televisão polonesa em 1989, Decálogo é... um conjunto de filmes inspirados nos Dez Mandamentos. Ambientadas no mesmo condomínio de Varsóvia, a capital da Polônia, as histórias ilustram conflitos morais e dramas familiares. Vencedor do Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cinema de Veneza, Decálogo consagrou internacionalmente Kieslowski. Uma obra simplesmente monumental. Direção: Krszystof Kieslowski.

Decálogo 3 - Guardarás Domingos e Feriados
Para procurar seu marido, desaparecido durante a véspera do Natal, mulher pede ajuda a um antigo amante, relembrando, durante o encontro, o relacionamento tumultuado que tiveram no passado. 56 minutos.

Decálogo 4 - Honrarás Pai e Mãe
O relacionamento afetuoso entre um viúvo e sua filha de 20 anos sofre alterações quando esta descobre, por meio de cartas escritas pela mãe, que ele não é seu verdadeiro pai. 56 minutos.


"O único trabalho que pode ser chamado de obra-prima no cinema de meu tempo" (Stanley Kubrick sobre o 'Decálogo')

Artigo: "Decálogo" de Kieślowski: o cinema repensando a ética

por Moisés Sbardelotto
Extraído de http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3071&secao=321

Em "Decálogo", diretor polonês Krzysztof Kieślowski aborda questionamentos éticos a partir de cenas do cotidiano, embasadas nos mandamentos bíblicos.

É difícil qualificar o que o diretor polonês Krzysztof Kieślowski (1941-1996) conseguiu realizar em sua obra "Decálogo" (1988), um projeto de dez médias-metragens. Seria um filme dividido em dez partes ou uma série para a televisão? Uma obra laica, já que nunca se refere a Deus, ou que possui uma teologia profunda, cujo título apenas faz referência? Seria uma obra que faz refletir sobre graves questões éticas que embasam o agir humano, ou, pelo contrário, apresenta a complexidade da vida humana, mostrando que qualquer lei moral ou valor ético são de um simplismo quase infantil?

O próprio Kieślowski nos ajuda a desfazer um pouco o mistério de sua obra. "Durante 6.000 anos, essas regras [os Mandamentos] estiveram inquestionavelmente certas. E, mesmo assim, nós as desobedecemos todos os dias. As pessoas sentem que algo está errado na vida. Há uma espécie de atmosfera que faz com que as pessoas, agora, se voltem para outros valores. Elas querem contemplar as questões básicas da vida, e provavelmente é essa a real razão para querer contar essas histórias [em 'Decálogo']".

A ética do cotidiano

Em "Decálogo", as dez histórias, independentes, possuem uma unidade temática e narrativa rara. Kieślowski manteve a mesma equipe técnica durante a realização de todos os episódios, com exceção do diretor de fotografia, que mudava em cada filme. A série completa, originalmente, foi produzida para a TV polonesa, coescrita por Krzysztof Piesiewicz, com trilha sonora de Zbigniew Preisner.

As dez histórias se passam em um conjunto residencial da Varsóvia, na Polônia contemporânea, onde pessoas comuns enfrentam problemas cotidianos, mas que apresentam profundas questões existenciais sobre amor, culpa, solidão, amizade, tristeza, medo, colocando em xeque o sentido da condição humana.

A obra, muito aclamada pela grande maioria dos críticos, é hoje considerada a obra-prima de Kieślowski, um dos diretores europeus mais influentes da história do cinema. É autor de outros clássicos como "A dupla vida de Veronique" (1990) e a "Trilogia das Cores" ("A liberdade é azul", 1993, "A igualdade é branca" e "A fraternidade é vermelha", ambos de 1994). Com "Decálogo", Kieślowski ganhou nove prêmios internacionais, incluindo o prêmio da crítica da 13ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, de 1988, e o prêmio FIPRESCI do Festival de Cinema de Veneza do mesmo ano.

O projeto inicial da obra envolvia a produção de um pequeno filme sobre cada um dos Dez Mandamentos, a ser exibido na TV local. Mas Kieślowski preferiu uma reflexão mais ampla, a partir da decadência dos valores em uma Polônia em transformação durante o século XX, marcada pelo nazismo e pelo ateísmo. Ao iniciar os trabalhos, porém, preferiu retirar todas as referências históricas e geográficas locais e deu dimensões mais universais à obra.

Assim, mesmo que a história se passe em um apartamento frio e monótono de um país do Leste Europeu, na verdade, dentro daquelas paredes, desenvolve-se um drama universal: um pai e professor universitário, dividido entre a crença científica e a fé religiosa; uma mulher que engravida de seu amante e resolve abortar; outra mulher que, para procurar seu marido desaparecido, pede ajuda a um antigo amante; uma jovem de 20 anos que descobre, por meio de cartas escritas pela mãe, que o homem viúvo com quem vive não é seu verdadeiro pai; três personagens (um desempregado, um taxista e um advogado novato) reunidos por causa de um crime; um jovem que declara seu amor a uma vizinha; uma garota que entrega sua filha para a avó criar; o encontro entre uma pesquisadora judia com sua ex-professora universitária que, há 45 anos, negara-lhe ajuda durante a Segunda Guerra Mundial; uma mulher que se envolve com um jovem amante após descobrir a impotência sexual de seu marido; uma família em busca de segurança após a morte de seu patriarca, um filatelista, que deixou uma grande fortuna.

Histórias singelas e comuns, mas que questionam profundamente, em cada decisão, em cada circunstância, as "certezas" da vida. Nem tudo é preto ou branco: é em uma zona incerta que a desobediência dos personagens a um dos mandamentos bíblicos se coloca. Decisões certas ou erradas? O espectador não é convidado a dar seu veredito final: espera-se que ele reflita eticamente: o que eu faria em seu lugar?

Os desafios da convivência humana

Foi por isso que outro grande diretor do século XX, Stanley Kubrick, do clássico "Laranja Mecânica" (1971), relutou em escrever um posfácio ao livro publicado com os roteiros de "Decálogo", exatamente para não simplificar e reduzir a obra. Porém, afirma Kubrick, Kieślowski e Piesiewicz "tiveram a habilidade muito rara de dramatizar suas ideias, em vez de apenas falar sobre elas". Ao apresentá-las por meio da ação dramática da história, comenta Kubrick, "eles ganharam o poder adicional de permitir que os espectadores descubram o que realmente está acontecendo", em vez de simplesmente ficarem sabendo por meio de um narrador. Segundo ele, em "Decálogo", "você nunca vê as ideias vindo e só percebe muito depois o quão profundamente elas atingiram o seu coração".

Em época de preparação para a Páscoa, a obra irá permitir uma reflexão profunda sobre as possibilidades e os limites éticos da convivência humana nas situações mais comuns do dia-a-dia. Em uma análise cristã, a Páscoa nos relembra as consequências extremas que nossas decisões podem acarretar, mesmo que vislumbremos sempre a vitória, manifestada na Ressurreição de Cristo. Em uma perspectiva laica, a vida nos propõe desafios e situações em que nos é exigido um posicionamento, uma resposta pessoal. Nossa esperança é que essa contrapartida pessoal nos leve à felicidade. Por isso, acompanhando as histórias de "Decálogo", podemos pensar sobre a nossa postura ética diante de situações extremas que talvez ainda não vivemos, ou diante de situações comuns que enfrentamos cotidianamente, mas cujas consequências passam-nos despercebidas.

Nesse sentido, há em toda a série um personagem anônimo, interpretado por Artur Barciś, que não fala absolutamente nada, em nenhum dos filmes, apenas presenciando os momentos chave das histórias, sem nunca tomar parte neles. Alguns veem nesse personagem a representação do divino. Mas, talvez, essa seja a postura que nós, enquanto espectadores, somos chamados a ter: durante a exibição, apenas acompanhar de perto tudo aquilo que os personagens vivem, sem julgá-los. Depois que as luzes se acendem, do lado de fora da sala de exibição, nossa vida diária nos oferecerá, talvez, as mesmas situações. E, nesse momento, seremos convidados a fazer uma escolha pessoal, não mais embasada em "tábuas de pedra", mas sim em "tábuas de carne", em nossos corações, como diria Paulo de Tarso, séculos mais tarde, a respeito do Decálogo bíblico. Para que "vivais e sejais felizes, e vossos dias se prolonguem", como disse Moisés, há 6.000 anos, ao transmitir os mandamentos ao povo.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

02/07: Decálogo (Krzystof Kieslowski, 1989) - CAPÍTULOS I E II

Decálogo - Krzystof Kieslowski (1989)

*Sobre a série Decálogo: São 10 capítulos com cerca de uma hora cada. O cineclube exibirá 2 episódios por sábado. Os capítulos são independentes, portanto não tem importância caso você perca algum sábado. Entretanto, para o total deleite desta bela obra, recomenda-se que se vejam todos os capítulos.

Sinopse
Realizado para a televisão polonesa em 1989, Decálogo é... um conjunto de filmes inspirados nos Dez Mandamentos. Ambientadas no mesmo condomínio de Varsóvia, a capital da Polônia, as histórias ilustram conflitos morais e dramas familiares. Vencedor do Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cinema de Veneza, Decálogo consagrou internacionalmente Kieslowski. Uma obra simplesmente monumental. Direção: Krszystof Kieslowski.

Decálogo 1 - Amarás a Deus Sobre Todas as Coisas
O primeiro episódio trata das emoções a que o ser humano está exposto durante sua passagem pela Terra. Neste, um professor universitário que acredita na razão e nas forças das leis da ciência, convive com seu filho de 10 anos, dividido entre a crença científica paterna e a fé religiosa de uma tia. 53 minutos.

Decálogo 2 - Não Tomarás Seu Santo Nome em Vão
Mulher engravida de seu amante e resolve abortar, caso seu marido, gravemente enfermo, se recupere. Uma reflexão profunda sobre morte e uma nova vida, quando elas conflitam entre si, e a visão do grande diretor polonês. 57 minutos.


"O único trabalho que pode ser chamado de obra-prima no cinema de meu tempo" (Stanley Kubrick sobre o 'Decálogo')

Crítica: Decálogo (Krzystof Kieslowski, 1989)

por Rodrigo Carreiro
Extraído de http://www.cinereporter.com.br/criticas/decalogo/

“Decálogo” (Dekalog, Polônia, 1987), do grande diretor polonês Krzysztof Kieslowski, é um projeto difícil de classificar e árduo de descrever. Alguns críticos preferem vê-lo não como um filme, mas como dez médias-metragens independentes entre si. Eles não estão errados, mas também não estão certos. Difícil de entender? É o seguinte: as dez histórias independentes de “Decálogo” possuem uma unidade temática e narrativa rara. Você pode ver um só episódio ou os dez, e então perceber conexões aparentemente invisíveis entre elas. De qualquer forma, a minissérie filmada para a TV polonesa está sendo, desde 2000, comercializada como um único pacote de três DVDs, nos EUA.

O formato é virtualmente perfeito para introduzir o espectador num dos projetos mais densos e belos já formatados para a telinha da TV. “Decálogo” é Kieslowski – o último dos grandes cineastas europeus a beber na fonte do existencialismo, a exemplo de Bergman e Antonioni – na plenitude de seus poderes de dramaturgo. Nas dez histórias, todas ambientadas em um conjunto residencial de Varsóvia, pessoas comuns enfrentam problemas cotidianos que se manifestam em diversas camadas de significados. Nas histórias, Kieslowski propõe uma discussão livre sobre temas universais da condição humana: amor, culpa, solidão, amizade, tristeza, ética, medo.

A idéia inicial do cineasta, que escreveu os dez roteiros junto com o parceiro Krzysztof Piesiewicz, era fazer um pequeno filme sobre cada um dos Dez Mandamentos. O projeto partiria de uma reflexão mais ampla a respeito da decadência dos valores católicos em uma Polônia transformada durante o século XX em terra devastada, pelos nazistas, e depois em território de ateísmo obrigatório, pelos comunistas. Enquanto escrevia as histórias, contudo, KIeslowski mudou de idéia. Retirou todas as referências à política, ao tempo e ao país, e deu dimensões mais universais à narrativa.

Além disso, o diretor não cometeu o erro de restringir cada história à abordagem de um único mandamento. Essa abordagem, pelo contrário, era sempre fluida, mera desculpa para a investigação de problemas que todos nós vivemos, em algum momento de nossas vidas. O fio narrativo comum é o espaço em que as tramas se desenrolam. O conjunto de apartamentos, com sua arquitetura monótona típica dos países do Leste europeu, sugere que, dentro de cada uma daquelas janelas, um drama universal e, ao mesmo tempo, particular se desenrola. Kieslowski sugere ter escolhido, quase aleatoriamente, dez dessas histórias para narrar.

Agindo assim, o diretor conseguiu produzir uma pequeno conjunto de filmes que pode ser assistido tanto como um projeto único quanto como dez pedaços de vida independentes. Coletivamente, “Decálogo” ganha ares de obra-prima; trata-se de uma coleção completa de histórias intimistas, que cobre todo o espectro de emoções a que um ser humano está exposto durante sua breve passagem pela Terra. Nesse sentido, “Decálogo” consegue algo que nem mesmo os melhores trabalhos de Kieslowski (“A Dupla Vida de Verónique” e a trilogia das Cores) ousou atingir: transcendência. A soma dos dez fatores supera, e muito, o valor individual de cada um deles. É um caso atípico em que 2 mais 2 são 5.

Quando se observa os dez pequenos filmes como um conjunto único, fica difícil apontar destaques. Os episódios têm uma admirável coerência e uma força coletiva inigualável. Entre os meus preferidos está o terceiro, em que uma mulher desesperada bate à porta da casa de um ex-amante, em plena noite de Natal, e pede a ajuda dele para encontrar o marido desaparecido. O sexto, que narra a história de um rapaz tímido que se apaixona por uma vizinha e adquire o hábito de espiá-la e segui-la sempre que tem chance, é também surpreendente. Mas todas as histórias, de certa forma, o são. Elas estão muito distante do tipo de narrativa clássico, com começo, meio e fim bem demarcados. São pequenas fatias de vida, como se o Robert Altman de “Short Cuts” fizesse um filme menos dramático e enfocasse problemas mais banais.

Kieslowski filmou os dez episódios com diferentes diretores de fotografia, mas a unidade visual é bastante evidente. Ele também providenciou que os diferentes protagonistas de cada episódio aparecessem, como figurantes, em outros; assim, o espectador atento pode reconhecer o médico do episódio 2 dividindo um elevador com o casal que protagoniza o episódio 3, e assim por diante. Há ainda um personagem misterioso, que não tem nome e jamais abre a boca, que aparece nos dez episódios, observando a ação sem nunca tomar parte dela. O sujeito é um mistério que Kieslowski nunca quis elucidar. Ele só pediu que o “homem sem nome” não servisse de distração para os verdadeiros mistérios que quis apresentar nos enredos de cada história. Que assim seja. “Decálogo” é cinema em um nível de excelência que não existe mais, obrigatório na coleção de qualquer cinéfilo que se interessa pelos mistérios da natureza humana.

Decálogo de Kieslowski. Uma provocação

por Graziela Wolfart
Extraído de http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3108&secao=323

Ao refletir sobre a importância da série de dez filmes Decálogo, do diretor polonês Krzysztof Kieslowski, a jornalista e crítica de cinema, Neusa Barbosa, lembra que os dez mandamentos, inspiração para a obra, “falam de não matar, não roubar, não cobiçar a mulher do próximo. Eles tentam cobrir algumas das que seriam as questões principais da vida, mas não conseguem. A primeira discussão é essa: os dez mandamentos encerram toda a ética da humanidade, tudo o que se precisa saber ou pensar sobre o comportamento humano? Não. Mesmo que se fizessem 20 mandamentos, 30, 50 ou 100 mandamentos, também não esgotaria, porque a vida humana é complexa. Isso que Kieslowski coloca na obra dele. A vida é mais complexa do que nossas tentativas de colocar regras nas coisas”. Na entrevista que concedeu por telefone à IHU On-Line, Neusa considera que “Kieslowski olha para a vida humana e tenta ser honesto com o retrato da humanidade. Ele não está querendo criar receitas com seus filmes. Os personagens que ele cria e coloca em determinadas situações e interações uns com os outros, mostram que ele tenta olhar para a vida humana e evidenciar o quanto ela é rica, complexa e difícil também”. Ela não percebe uma ética clara nos filmes de Kieslowski. “Existe um amor pelo ser humano nos filmes dele, um amor pelos personagens em todas as suas fraquezas, limitações, até sob os personagens marginais, criminosos, ele tem um enfoque que permite que vejamos o ser humano, não um monstro, não um maniqueísta. Ele não julga os personagens”.

A série de filmes Decálogo está sendo exibida na Unisinos, como parte da programação de Páscoa IHU 2010. Nesta semana, serão exibidos os Decálogos V, VI, VII, VIII, IX e X.

A jornalista, crítica e pesquisadora paulistana Neusa Barbosa trabalhou no jornal Folha de S. Paulo e na revista Veja S. Paulo. Atualmente, edita o site "Cineweb" (www.cineweb.com.br), especializado em cinema, e colabora com as revistas Bravo e Wish Report. Especialista em crítica de cinema, costuma participar da cobertura de festivais internacionais, como Cannes e Veneza, e nacionais, como Brasília, Recife e Gramado. Além disso, dedica-se a cursos sobre cinema. Entre seus livros publicados citamos Gente de Cinema – Woody Allen (Editora Papagaio, 2002), e Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão: Analisando Cinema (Imprensa Oficial SP, 2006).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O que caracteriza a carreira do diretor polonês Krzysztof Kieslowski?

Neusa Barbosa – Ele foi um dos diretores mais importantes do século XX. A obra dele repercute até hoje, principalmente pela maneira como retratou as relações humanas. Ele é um diretor humanista, acima de tudo, e conseguiu fazer filmes de uma enorme sensibilidade e uma obra que não foi muito grande, em termos numéricos, mas com filmes muito intensos, e que influenciaram vários outros diretores.

IHU On-Line - Como você define ou qualifica a obra Decálogo, projeto de dez médias-metragens?

Neusa Barbosa – Esse projeto é interessante, porque a Polônia é um país católico, de tradição católica. Mas no momento em que Kieslowski se torna cineasta, eles estão sob o regime comunista e, na verdade, escolher o Decálogo, que tem uma correspondência com os dez mandamentos cristãos, não deixa de ser uma provocação kieslowskiana. A maneira como ele aborda as situações dos filmes, em cada um deles, não é nada cristã. Quem achou que ele faria uma abordagem religiosa, perdeu o bonde. É uma provocação artística, principalmente em termos políticos. É algo curioso, porque ele produzia para a televisão. E a televisão com certeza era estatal, num regime comunista. Ele estava testando os limites. E, ao fazer os filmes, ele não respeita uma liturgia católica, porque em todos os filmes as problemáticas pessoais de cada uma das pessoas são profundamente humanas e também há a interferência do acaso, que é muito forte na obra do Kieslowski. O acaso é tão importante quanto a vontade, o desejo, o sonho do personagem; é o acaso que muda tudo. E o acaso é algo cego, que não é moral, não é religioso. O acaso é como um raio que cai na cabeça de alguém. E não teve diretor que retratou de maneira melhor a dualidade da vida humana, mostrando que a intenção, o sonho e tudo o que o ser humano faz deliberadamente, achando que tem livre arbítrio, é algo que dura até que o acaso modifique a situação. Mas, reitero, não é um acaso religioso. Kieslowski não era uma pessoa religiosa. Ele era um humanista.

IHU On-Line - Como as questões da ética e da complexidade da vida humana aparecem na obra?

Neusa Barbosa – Em muitos de seus filmes, no Decálogo e fora dele também, Kieslowski coloca os personagens confrontados com dilemas morais, pois têm que fazer escolhas muito drásticas. A questão ética percorre toda a obra dele. Por exemplo, no filme Não matarás, tem toda uma discussão sobre alguém que comete um crime hediondo, mas existe também a pena de morte, que é algo eticamente discutível. Ele nunca facilita. Os filmes do Kieslowski nunca são maniqueístas. Ele sempre tenta compreender a complexidade das questões de vários ângulos.

IHU On-Line - Como entender que os dez mandamentos tenham inspirado a obra cinematográfica Decálogo?

Neusa Barbosa – A própria existência dos dez mandamentos tem uma preocupação ética por trás. Fazer dez mandamentos para pautar a conduta humana, significa procurar impor limites éticos para as coisas, definir o que é crime, que limites se devem respeitar. E isso encontra um espaço na doutrina religiosa. Só que Kieslowski, ao colocar isso como tema, faz uma provocação artística mesmo. Ele quer colocar isso em questão, que não dá para seguir uma regra 100%, porque a vida humana é muito mais complicada do que isso. Por mais que você queira seguir um Abraão, não vai conseguir totalmente. E daí você fica sozinho com a sua ética, com a sua vontade, e tendo que lidar com o imponderável, que é um acaso, um acidente, que é uma escolha a fazer naquele momento. A obra Decálogo tem várias questões. Os dez mandamentos falam de não matar, não roubar, não cobiçar a mulher do próximo. Eles tentam cobrir algumas das que seriam as questões principais da vida, mas não conseguem. A primeira discussão é essa: os dez mandamentos encerram toda a ética da humanidade, tudo o que se precisa saber ou pensar sobre o comportamento humano? Não. Mesmo que se fizessem 20 mandamentos, 30, 50 ou 100 mandamentos, também não esgotaria, porque a vida humana é complexa. Isso que Kieslowski coloca na obra dele. A vida é mais complexa do que nossas tentativas de colocar regras nas coisas. Embora o fato de ter uma ética seja positivo.

IHU On-Line - O que caracteriza a ética do cotidiano e o sentido da vida humana na obra de Kieslowski?

Neusa Barbosa – Kieslowski olha para a vida humana e tenta ser honesto com o retrato da humanidade. Ele não está querendo criar receitas com seus filmes. Os personagens que ele cria e coloca em determinadas situações e interações uns com os outros, mostram que ele tenta olhar para a vida humana e evidenciar o quanto ela é rica, complexa e difícil também. Não sei se podemos ler uma ética tão clara nos filmes dele. Existe um amor pelo ser humano nos filmes dele, um amor pelos personagens em todas as suas fraquezas, limitações, até sob os personagens marginais, criminosos, ele tem um enfoque que permite que vejamos o ser humano, não um monstro, não um maniqueísta. Ele não julga os personagens.

IHU On-Line - Qual é a visão da "Lei de Deus" de Kieslowski?

Neusa Barbosa – Não sei se Kieslowski acreditava em Deus. Pelos filmes, para mim, passa que não. Ele não seguia os dez mandamentos. Vejo que os dez mandamentos no filme aparecem como um pretexto para ele olhar para a situação das pessoas, naquele momento, naquele lugar. Não acho que vamos ver lei de Deus nos filmes do Kieslowski, vamos ver a lei dos homens. Não vejo religião nos filmes do Kieslowski a não ser para colocar em dúvida, para mostrar que a religião não dá conta da complexidade da vida humana. Talvez ele nem fosse ateu. A leitura que faço é que ele não está reafirmando a lei de Deus nos filmes, mas a está colocando em questão, e está refletindo sobre os limites que ela tem. Kieslowski faz muita falta, sinto muita falta do toque que ele tinha para contar suas histórias, com delicadeza e intensidade. Ele não tem um herdeiro à altura. Sinto saudades dele.

Para saber mais:

* "Decálogo" de Kieślowski: o cinema repensando a ética, artigo de Moisés Sbardelotto, publicado na IHU On-Line número 321, de 15-03-2010;

* O Decálogo de Kieślowski e o debate sobre os Mandamentos, entrevista com Marcus Mello, publicada na IHU On-Line número 321, de 15-03-2010;

* Um cinema humanista de primeira qualidade, entrevista com Carlos Gerbase, publicada na IHU On-Line número 322, de 22-03-2010.

Programação de Julho: Decálogo (Krzystof Kieslowski, 1989)

Decálogo - Krzystof Kieslowski (1989)

*Sobre a série Decálogo: São 10 capítulos com cerca de uma hora cada. O cineclube exibirá 2 episódios por sábado. Os capítulos são independentes, portanto não tem importância caso você perca algum sábado. Entretanto, para o total deleite desta bela obra, recomenda-se que se vejam todos os capítulos.

Sinopse
Realizado para a televisão polonesa em 1989, Decálogo é... um conjunto de filmes inspirados nos Dez Mandamentos. Ambientadas no mesmo condomínio de Varsóvia, a capital da Polônia, as histórias ilustram conflitos morais e dramas familiares. Vencedor do Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cinema de Veneza, Decálogo consagrou internacionalmente Kieslowski. Uma obra simplesmente monumental. Direção: Krszystof Kieslowski.

"O único trabalho que pode ser chamado de obra-prima no cinema de meu tempo" (Stanley Kubrick sobre o 'Decálogo')

"“Decálogo” é Kieslowski – o último dos grandes cineastas europeus a beber na fonte do existencialismo, a exemplo de Bergman e Antonioni – na plenitude de seus poderes de dramaturgo." -> http://www.cinereporter.com.br/criticas/decalogo/

"O cinema de Kieslowski justifica que se faça a pé, e de joelhos, o caminho de São Tiago." -> http://blogs.estadao.com.br/luiz-carlos-merten/kieslowski/