sábado, 26 de novembro de 2011

26/11: Curta-metragem: Canabraba - A Necessidade da Expressão e Longa-Metragem: O Profeta das Águas - COM A PRESENÇA DE REINALDO VOLPATO

Curta-metragem: Canabrava - A Necessidade da Expressão (Romildo Sant'Anna e Reinaldo Volpato, 1987)
Documentário sobre os irmãos Scarelli, dois bóias frias que pintam quadros. Recebeu o prêmio de melhor filme no Rio Cine Festival em 1988.

Longa-metragem: O Profeta das Águas (Leopoldo Nunes, 2005; Produção e Montagem: Reinaldo Volpato)

De 1986 até 2005, o diretor acompanhou a Aparecido Galdino Jacintho, conhecido como Profeta das Águas. O líder religioso liderou, nos anos 70, em plena ditadura militar, um exército de salvação para proteger o rio Paraná da construção da hidrelétrica de Ilha Solteira. Galdino ficou detido como preso político no DOPS e DOI-CODI e depois foi internado no hospital psiquiátrico de Franco da Rocha. Hoje, aos 80 anos, Aparecido Galdino ainda não perde a oportunidade de profetizar, tendo voz ativa na comunidade onde vive. Recebeu o prêmio de melhor filme de longa metragem no VIII Festival Internacional de Cinema Ambiental – Goiás, prêmios de melhor diretor, melhor documentário, melhor longa metragem e melhor filme no Festival de Cinema Ambiental de Pacoti – Ceará, prêmio melhor filme tema “água” do Ecocine, São Paulo Direção: Leopoldo Nunes. Montagem e produção: Reinaldo Volpato. Duração: 83 minutos.

NÃO PERCAM: A SESSÃO CONTARÁ COM A PRESENÇA DO DIRETOR, MONTADOR E PRODUTOR REINALDO VOLPATO. APÓS A SESSÃO, REINALDO VOLPATO PARTICIPARÁ DE UM DEBATE SOBRE OS SEUS FILMES.

Acesse aqui o artigo: Reflexões sobre Cinema e História: O Filme “O Profeta das Águas” na
perspectiva histórica escritor por Silmara Cristiane Fonseca, mestra em História Social FFLCH/USP.

Biografia: Reinaldo Volpato

Cineasta formado pela ECA/USP em 1975 é diretor, produtor, roteirista e montador de filmes cinematográficos e programas de televisão. Dirigiu o longa metragem ABRASASAS e os curtas Doces e Salgados, Bóias Frias, Pau pra Toda Obra, Pergunta de Amor, Paixão Maria, Canabraba – A Necessidade da Expressão e Linhas Tortas, todos com eles com inúmeros prêmios em festivais nacionais. Na TV Cultura foi repórter no programa Hora da Notícia e diretor do RTC Interior e do Viola, Minha Viola; foi montador dos programas Globo Repórter, Domingo Gente e Jornal Hoje e diretor do Gente Que Faz; foi gerente executivo de programação da TV Brasil. Produziu e montou O Profeta das Águas em parceria com a TV Cultura e TV SESC e dirigiu Os Favoritos dos Santos Reis, ambos documentários. Está produzindo o documentário A Moda É Viola em co-produção com a TV Cultura e o longa metragem ficção Estranhas Cotoveladas, na cidade de Botucatu.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

19/11: Curta-metragem: Blábláblá (Andrea Tonacci, 1968) e Longa Metragem: Bang Bang (Andrea Tonacci,1971) - COM A PRESENÇA DE ANDREA TONACCI

Blábláblá - Andrea Tonacci (1968)

Sinopse
O sentido do poder e da palavra em crise situam o homem que os manipula numa idêntica crise pessoal, humana. A farsa do discurso de intenção humanista é total e absoluta. Um ditador num momento de uma grave crise nacional, institucional, confrontado na cidade e no campo por revoltas e guerrilha, na busca de uma paz ilusória, faz um longo pronunciamento pela televisão. Mas a realidade impõe-se à sua ficção e o controle da situação escapa-lhe das mãos. Sobra-lhe uma patética confissão antes de ser tirado do ar. Duração: 28 minutos.

Bang Bang - Andrea Tonacci (1971)

Sinopse

Homem neurastênico que, durante a realização de um filme, se vê envolvido em várias situações como o romance com uma bailarina espanhola, perseguições, discussões com um motorista de táxi e o enfrentamento com um bizarro trio de bandidos. Um dos filmes mais revolucionários da história do cinema brasileiro. Duração: 86 minutos.

NÃO PERCAM: A SESSÃO CONTARÁ COM A PRESENÇA DO DIRETOR ANDREA TONACCI. APÓS A SESSÃO, ANDREA TONACCI PARTICIPARÁ DE UM DEBATE SOBRE OS SEUS FILMES E A PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA BRASILEIRA.

Biografia: Andrea Tonacci

Sem dúvida um dos maiores nomes do cinema nacional, Andrea Tonacci nasceu em Roma em 1944 e veio para ao Brasil com a família aos nove anos de idade, indo morar em São Paulo, onde reside até hoje. Foi pioneiro no país no uso de equipamento de vídeo portátil e um dos principais integrantes do chamado Cinema Marginal, ao lado de Rogério Sganzerla, Julio Bressane e Carlos Reichenbach. Seu primeiro filme foi o curta Olho por Olho (1965). Depois, vieram Blablablá (1968), com Paulo Gracindo, e o clássico Bang Bang (1970), considerado obra-prima do Cinema Marginal e um dos maiores filmes da história do cinema nacional. Entre 1977 e 1984, foi bolsista da John Simon Guggenheim Memorial Foundation, dedicando-se à pesquisa da linguagem audiovisual. Nesse mesmo período, realizou ampla documentação das culturas indígenas das Américas, com filmes como Conversas do Maranhão (1977), Guaranis do Espírito Santo (1979) e Os araras (1980/81). Nos anos 2000, volta a produzir um longa-metragem, o aclamadíssimo Serras da Desordem (2006), premiado em diversos festivais nacionais e internacionais e considerado por muitos, um dos melhores filmes brasileiros do século XXI. Atualmente, ele produz, escreve, dirige e fotografa documentários, ficcção e filmes institucionais. Ele ainda possui e dirige a Extrema, uma produtora dedicada a filmes independentes.

Crítica: Bang Bang (Andrea Tonacci, 1971)

por Carlos Fernandes
Extraído de http://setimofilme.wordpress.com/

UM CINEMA ANTIFILME

Um cinema que se afasta do filme. Que o nega. Por vezes, o ridiculariza. E continua sendo cinema. Em estado puro. Seria possível? Basta assistir Bang Bang e você poderá verificar como. Para vocês terem uma idéia, é muito difícil elaborar uma boa sinopse do filme. A melhor sinopse possível do filme é feita por um de seus próprios personagens: “Era uma vez três bandidos muito maus. Dizia-se que um deles era a mãe dos outros, mas nada se sabia ao certo. Roubavam tudo, matavam tudo, comiam tudo. Mas isso também não se sabia ao certo”.

E, mesmo assim, está muito, mas muito aquém do que realmente é este filme. Ou seria um antifilme?

Um cara discute com um taxista, o mesmo cara aparece com uma cabeça de macaco e canta para o espelho, bandidos dão tiros para todo o lado e comem o tempo todo, o mesmo cara que discutira com o taxista trava dois diálogos totalmente non-sense com um bêbado e, posteriormente com uma mulher. Ao fundo da discussão com a mulher, os assaltantes fazem caretas. O macaco aparece em um tiroteio. O cara discute com o taxista novamente. Tudo isso acontece, sem lógica nenhuma, sem ligação nenhuma, tudo solto, deixando-te atordoado. Há um enorme esforço anti-narrativo. O diretor Andrea Tonacci explode a narrativa e tenta recolher os cacos dela. Depois de recolhidos, explode novamente. E faz isso ciclicamente, ao longo de todo o filme. Ao final, o bandido “mãe”" tentar nortear a narrativa e fala aquele texto que transcrevi no primeiro parágrafo. Você fica esperando por mais e eis que então surge uma torta que atinge sua cara, no melhor estilo O Gordo e o Magro. E a narrativa explode novamente. E você continua atordoado, sem entender nada.

Ou melhor, entendendo nada, mas ao mesmo tempo, entendendo tudo. Sim, entendendo tudo. E, de repente, você deixa de estar atordoado pela aparente falta de lógica dos planos, mas atordoado por conta da espetacular beleza cinematográfica do filme.

Bang Bang faz parte de um movimento cinematográfico brasileiro que foi chamado de Cinema Marginal surgido no final da década de 60 e que tem como marcos iniciais A Margem (Ozualdo Candeias, 1967), Matou a Família e foi ao Cinema (Julio Bressane, 1968) e o ES-PE-TA-CU-LAR O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, 1968). O Cinema Marginal surge como um contraponto ao Cinema Novo, acusando-o de ter se aburguesado, de ter se tornado mercadoria, de ter se tornado um cinema de estética européia, longe do contato com a realidade brasileira. O Cinema Marginal propunha uma radicalização, que os filmes deveriam ser sujos, “mal feitos”, narrativamente desestruturados. Propunham uma “estética do lixo”, um estilo que seria mais apropriado para um país pobre e dominado como o Brasil. Realizar um cinema totalmente subdesenvolvido. Julio Bressane, diretor marginal, diria em uma entrevista: “Do jeito que está, só temos uma maneira de filmar: com lixo”.

O Cinema Marginal preocupou-se em descrever a identidade subdesenvolvida brasileira, exibindo as nossas maiores vergonhas: a alienação, o comodismo e a falta de educação. Pelas telas desfilavam personagens renegados à margem, da boca do lixo, como trabalhadores braçais, bandidos (que viram heróis, como O Bandido da Luz Vermelha), traficantes e prostitutas. Devido a esse subdesenvolvimento do povo e dos tempos de censura e repressão por conta da ditadura militar, os cineastas marginais eram pessimistas em relação à transformações políticas e socias e recheavam seus filmes com ironia, deboche e sarcasmo, as únicas armas que viam como instrumentos para denúncia social do país. No filme, O Bandido da Luz Vermelha, o próprio bandido fala uma frase que resume bem essa proposta: “Quando a gente não pode fazer nada a gente avacalha… avacalha e se esculhamba.” Entretanto, essa esculhambação não trazia satisfação; carregava-se os filmes de agressividade como forma de auto-flagelação.

Bang Bang talvez seja o mais debochado e ousado filme do movimento. Além de exibir as características dos filmes marginais, ele vai além na questão da desestruturação narrativa e rompe totalmente com ela, propondo um completo descomprometimento com a linha narrativa. É a torta na cara quando o bandido vai explicar a história. Além disso, Tonacci deixa a câmera visível e rompe com a barreira público/filme; nos colocando em direto contato com os personagens. Os bandidos riem para a câmera porque estão rindo de nós, sujos, pobres, subdesenvolvidos. Somos ignorantes como eles. Os diálogos são grosseiros porque somos grosseiros. É um macaco que canta “Eu sonhei que estavas tão linda” e nós assistimos. Por fim, Tonacci ainda satiriza os filmes policiais americanos, desconstruindo os tiroteios, perseguições de carro e a figura do bem contra o mal. Naquele momento, no Brasil, os carros não perseguiam os bandidos e era muito difícil de diferenciar esses dos mocinhos.

Assistir Bang Bang nos coloca para refletir sobre a covardia do cinema nacional dos últimos anos. Salvo uma ou outra exceção, sinto que atualmente falta coragem para se romper barreiras e buscar um novo cinema, sem fórmulas, sem convencionalismos. Precisa-se buscar uma visão ousada e inovadora. Buscar uma nova maneira de fazer cinema. Uma nova maneira de se expressar artisticamente. Que Bang Bang sirva de inspiração.