sexta-feira, 25 de maio de 2012

26/05: Viajo porque preciso, volto porque te amo (Karim Ainouz e Marcelo Gomes, 2009)

Viajo porque preciso, volto porque te amo - Karim Ainouz e Marcelo Gomes (2009)

Sinopse
José Renato (Irandhir Santos) tem 35 anos, é geólogo e foi enviado para realizar uma pesquisa, onde terá que atravessar todo o sertão nordestino. Sua missão é avaliar o possível percurso de um canal que será feito, desviando as águas do único rio caudaloso da região. À medida que a viagem ocorre ele percebe que possui muitas coisas em comum com os lugares por onde passa. Desde o vazio à sensação de abandono, até o isolamento, o que torna a viagem cada vez mais difícil. Duração: 75 minutos

Crítica: Viajo porque preciso, volto porque te amo (Karim Ainouz e Marcelo Gomes, 2009)


Um road movie pelo sertão ou uma poesia sobre a fuga. Viajo por que preciso, volto porque te amo (Brasil, 2009) de Karim Ainouz e Marcelo Gomes, vai além da geografia dos espaços e do valor de uma simples frase de efeito surgida numa parede. Por ser poético e ficcional, sem deixar de documentar o real, pode-se dizer que ainda não se encaixa em um padrão do cinema brasileiro.

Obrigado a estar no banco do passageiro, a primeira cena de Viajo por que preciso, volto porque te amo não esconde ao espectador que embarcará como carona ao lado do geólogo José Renato (Irandhir Santos). Ele tem 35 anos e é enviado ao sertão nordestino a fim de pesquisar as condições para um possível canal que será feito com o desvio de águas de um único rio caudaloso da região. Não vê-se o protagonista em momento algum, ele é apenas uma voz em off que orienta as cenas de um sertão que por horas é o mesmo árido de sempre e por outros momentos é um desconhecido, um grande vazio com luzes noturnas.

José Renato é um apaixonado e ao mesmo tempo foge da decepção dessa paixão. Fazendo referências interessantes de momentos vividos e pequenos detalhes entre ele e sua mulher, o narrador constrói o cenário que assistimos aliando seus pensamentos dia após dia que se afasta (ou se aproxima) de sua casa. Fazemos parte desse diário de viagem.

Durante a odisséia encontra-se os mais estranhos e incríveis personagens que vão moldando os sentimentos do narrador ao longo do caminho. Desses personagens são as prostitutas que têm o dever de preencher o vazio de José Renato, não somente com o sexo, mas com suas histórias e trajetórias. Destaque para Pati que ao ser questionada sobre o que esperava da vida, ela apenas resume querer ¨Uma vida-lazer com sua filha e um companheiro¨.

Tratar o sertão nordestino sem mitologias é um das características mais interessantes dos dois diretores. Construíram, com as experiências anteriores como em Cinema, Aspirinas e Urubus e O Céu de Suely, um novo conceito sobre a região. Afinal, os sertanejos também são afetados pela mídia e pelas desesperanças do urbano, e fugir do imaginário popular sobre a região não é tarefa fácil. Em entrevista com o diretor Jean-Claude Bernardet, Karim Ainouz e Marcelo Gomes, ambos nordestinos, falam sobre a necessidade que sentiam em experienciar, vivenciar de fato, tudo que ouviam e supostamente sabiam da região. Um trabalho, acima de tudo, sensorial.

Viajo por que preciso, volto por que te amo foi gravado num período de aproximadamente 10 anos, partindo de um projeto que inicialmente seria sobre as feiras do interior nordestino. Karim Ainouz e Marcelo Gomes relatam que tinham uma ligação meio mística com as filmagens, mas até 2009 não tinham muita certeza do que fazer, até decidirem que seria um trabalho que envolveria as gravações do sertão mescladas a história de um personagem, o José Renato, muito bem trabalhado na voz de Irandhir Santos.

A fotografia do filme chama bastante a atenção por mesclar imagens de slides, de uma câmera super-8, duas câmeras 16mm (Bolex), uma câmera tcheca (Minockner) e uma mini-DV VX1000 (Sony). Essa mistura resulta numa bonita colagem e visões sensoriais intensas a quem assiste. Viajo por que preciso, volto por que te amo é simples de concepções técnicas, porém se mostra carregado de uma narrativa intensa. Um filme para ser lido, ou uma leitura para ser vista.

A sensação no fim do longa, é a da necessidade de mudança. Zé Renato encara a viagem como uma transmutação do seu sentimento de perda e vazio. Ao vivenciar os 75 minutos dessa trajetória, fica a vontade de ir para qualquer lugar, uma necessidade de fuga que deixa o espectador buscando algo. Uma sensação de querer uma ¨vida-lazer¨ e de abandono quando Zé Renato cessa a sua fala, afinal não vendo o personagem o espectador se confunde com as coisas ditas e vistas por ele. Impossível não sair do cinema não carregando um pouco do geólogo dentro de si. E mesmo que piegas, o espectador ao fim sabe que todos já viajaram porque precisavam e voltaram porque amavam algo ou alguém.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

12/05: Casanova e a Revolução (Ettore Scola, 1982)

Casanova e a Revolução - Ettore Scola (1982)

Sinopse
 1791. Nicolas Edmé Restif de la Bretonne (Jean-Louis Barrault), o controverso escritor e editor, vê a condessa Sophie de la Borde (Hanna Schygulla), a dama de companhia de Marie-Antoinette (Eléonore Hirt), deixar Paris secretamente. Ele conclui que o rei Luís XVI (Michel Piccoli) e sua família já tinham deixado a capital. Determinado em satisfazer sua curiosidade e testemunhar o maior evento histórico de sua vida, o escritor parte em perseguição à condessa, pois assim achará o rei. No caminho conhece um idoso cortesão, que não é nem mais nem menos que Casanova (Marcello Mastroianni), o mestre da sedução, que guarda seu encanto ainda, apesar de ter 66 anos. Por um acaso do destino eles acabam na mesma carruagem onde também estão também Sophie e Thomas Paine (Harvey Keitel), um ativista político americano. Como o cocheiro faz seu trajeto através da cidade de Metz, os viajantes descobrem que eles estão seguindo a mesma rota de outro cocheiro, que leva à família real. Duração: 122 minutos.

Crítica: Casanova e a Revolução (Ettore Scola, 1982)



“Casanova e a Revolução”, do diretor italiano Ettore Scola, faz uma leitura muito particular da Revolução Francesa. O filme, como indica o título original, La nuit de Varennes, se passa durante a famosa tentativa de Luís XVI em fugir da Paris revolucionária, em 1791. Como se sabe, a fuga não foi bem sucedida, o rei foi preso e reconduzido a Paris. O fato ajudou a radicalizar a revolução e acabou resultando no julgamento e assassinato do rei. O filme não retrata exatamente a tentativa de fuga e captura do monarca francês, mas acompanha uma comitiva que seguia seus passos. Nela, seguiam Restif de la Bretonne, um famoso publicista do período, hoje mais conhecido pelo seus livros eróticos (o mais famoso é o Anti-Justine, uma resposta polêmica ao texto do Marquês de Sade), Thomas Paine, uma dama de honra de Maria Antonieta junto com seus consortes e companheiros. No meio do caminho, juntou-se o velho Giacomo Casanova. Por isso, a narrativa está muito mais centrada nos dramas desses indivíduos do que na reconstrução dos eventos políticos que corriam pela França. No filme de Scola, a Revolução serve como uma grande metáfora da velhice. O Casanova do filme, interpretado magnificamente pelo mais genial dos atores italianos, Marcello Mastroianni, é uma pálida figura do que fora no passado (é bem interessante compará-lo com o Casanova de Fellini). O grande sedutor das cortes européias se tornou um homem envelhecido, incapaz de exercer sua arte erótica, vivendo uma existência meio melancólica, uma indiferença com o mundo, quase desligado das paixões mundanas. Seu corpo carcomido pelo tempo, cheio de dores, marcas, rugas, pequenas degradações marca uma substituição da sua antiga dignidade. Tudo que lhe resta é um sábio distanciamento do mundo. Casanova é o símbolo do Antigo Regime que está rapidamente acabando, de um mundo antigo revolucionado por novos hábitos e novos personagens. O grande drama do filme subsiste nisso, na tensão entre um mundo antigo e a juventude do novo. Ettore Scola fala muito mais dessa condição melancólica do homem do que da própria Revolução Francesa. Só que a velhice de Scola, ainda que melancólica, não é trágica. Casanova também representa aquela sabedoria da experiência, tão misteriosa para o nosso mundo, daquele que sabe que a renovação da juventude é a renovação do mundo, e tudo que resta é um sereno sair de cena. Não é gratuito que o título italiano do filme seja Il mondo nuovo. É dessa transação entre o velho e o novo, entre o estável e o revolucionário, que trata o belo filme de Ettore Scola.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

05/04: Qué tan lejos (Tania Hermida, 2006)

Qué tan lejos - Tania Hermida (2006)

Sinopse
Teresa precisa impedir que o ex-namorado se case com outra mulher. Jesus está atendendo o último pedido de sua avó e leva suas cinzas para serem jogadas em um rio. Esperanza é uma turista espanhola que está encantada pelo Equador. No caminho deles, uma greve está paralisando as estradas do país. Em meio à discussões políticas e sentimentais, vários personagens inusitados se cruzam. Eles vão conseguir chegar ao seu destino? Duração: 92 minutos.

Crítica: A nova era do cinema do Equador

por  Alan de Faria


“Qué Tan Lejos”, da diretora Tania Hermida, mostra o choque de duas mulheres com a realidade em ebulição do país 

Cinema produzido no Equador? O que era raro, agora pode se tornar freqüente. Pelo menos é o que pretende a cineasta Tania Hermida, que estreou na direção de longas-metragens com “Qué Tan Lejos” (2006), exibido na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e durante o II Festival de Cinema Latino-Americano, também realizado na capital paulista.

E, para alcançar esse objetivo, ela está envolvida, como candidata na lista do governo Rafael Correa, no processo de votação para a Assembléia Constituinte, que irá ocorrer no final de setembro. “Trata-se de uma tarefa nova e complicada, pelo fato de eu estar representando todo um setor da cultura que quer uma transformação profunda na gestão cultural do país”, afirma Hermida, que esteve em São Paulo para o II Festival de Cinema Latino-Americano.

Por meio de reformas, ela espera criar mais campos de trabalho para os novos profissionais audiovisuais. Também professora de cinema da Universidade San Francisco de Quito, capital do Equador, Hermida confessa que tem sido muito interessante assistir ao “nascimento” da cinematografia equatoriana. E ela, também, se surpreende.

Sucesso inesperado

“Qué Tan Lejos” foi considerado um fenômeno em seu país. Além de ter estreado em 14 salas -algo que nunca havia ocorrido com nenhum filme equatoriano-, ficou seis meses em cartaz e levou cerca de 200 mil pessoas ao cinema (o Equador tem 13,2 milhões de habitantes). Inclusive, de acordo com Hermida, em muitas salas, o filme obteve mais público que as produções norte-americanas. “Os números mostraram que os equatorianos querem se ver nas telas dos cinemas”, diz. O filme também foi bem recebido no exterior.

Filmado em cinco semanas, “Qué Tan Lejos” se caracteriza como um “road movie”, assim como “Família Rodante”, do argentino Pablo Trapero, e “Diários de Motocicleta”, do brasileiro Walter Salles. Na história, a estudante equatoriana Tristeza (Celilia Vallejo) e a turista espanhola Esperanza (Tania Martinez) se encontram casualmente em um ônibus que se dirige à cidade de Cuenca. Devido a uma rebelião da população indígena (que representa 40% dos habitantes do país), o transporte rodoviário é interrompido, e elas decidem pegar carona na estrada, mesmo sendo difícil, para chegar ao destino final.

“Sempre quis fazer um filme em que a geografia (os Andes e a costa do Pacífico), que moldou quem eu sou hoje, fosse também um personagem importante”, afirma Hermida. “Desde criança, viajo muito, dentro e fora de meu país, e este 'estar em viagem' me dá a sensação de ser o momento mais fértil para a aprendizagem, porque te obriga a colocar em dúvida todas as suas certezas.”

Ao longo da trajetória, as duas personagens perdem suas idéias feitas sobre o país e se vêem livres de tudo que consideravam importante ou indispensáveis para elas mesmas. “No final da viagem, elas estão 'vazias' e, ao mesmo tempo, prontas para começar a viver outra vez”, conta Hermida. A diretora, aliás, costuma comparar a vida das protagonistas com o atual momento do Equador, “que está em crise e em processo de reinvenção.” No ano passado, o país elegeu como presidente o professor e economista Rafael Correa, de esquerda, alinhado com Hugo Chávez e Evo Morales.

Outra característica marcante de "Qué Tan Lejos" é o antagonismo entre os equatorianos e a turista espanhola, que acha tudo belo, exótico e misterioso no país. Em um dos primeiros diálogos do filme, entre a turista e um taxista, este relembra a história colonial e critica os espanhóis pela exploração das riquezas equatorianas.

Para Hermida, pelo fato de o Equador ser um país jovem, as referências à conquista espanhola ainda são freqüentes. “Acontece que temos que entender que somos frutos desse processo, que foi destrutivo e construtivo”, explica. A Espanha também se faz presente no cotidiano equatoriano pelo fato de ainda representar o “sonho europeu”.

Fazer cinema é um luxo?

Entre 1980 e 2005, somente 12 longas equatorianos em 35 mm foram produzidos. Para Hermida, isso ocorreu devido à lógica neoliberal, vigente durante aqueles anos, para a qual tudo que não é rentável devia ser ignorado pelo país. “Além disso, imperava a idéia de que fazer cinema era um luxo, que só teríamos direito de produzir algo depois de o Equador solucionar a pobreza e a corrupção, considerados problemas mais urgentes.”

A chegada (e o sucesso) de “Qué Tan Lejos” aos cinemas marca um esforço dos realizadores locais. Em 2006, a criação do Conselho Nacional de Cinematografia (CNCINE), primeira entidade pública para a gestão da iniciativa audiovisual do Equador, permitiu a realização de novas produções.

“Foi um feito histórico, uma vez que foi resultado da iniciativa dos próprios cineastas”, diz Hermida. De acordo com Rafael Barriga, crítico de cinema, realizador e diretor de programação do Ocho y Medio, o principal cinema independente do país, em entrevista ao site LaLatina, neste ano, há dois outros longas de ficção em 35 mm prontos no Equador para entrar em cartaz.

Entre outros objetivos, o CNCINE é responsável pela formação e especialização de profissionais, promoção e difusão de filmes e criação de festivais, que acabam sendo importantes ferramentas para a exibição de longas locais e de países vizinhos, como o Brasil, Argentina e Paraguai, por exemplo.

“Eu só consegui assistir aos filmes ‘Dois Filhos de Francisco’ e ‘Cheiro do Ralo’ em festivais. No Equador, há somente cinco salas -uma pública e quatro privadas- onde podem ser vistas produções mais independentes ou que não sejam hollywoodianos”, lamenta a diretora.

De qualquer maneira, Hermida, principalmente devido às mudanças sociais e políticas em seu país, mantém as esperanças. Se o cinema equatoriano já nasceu, ela aguarda agora o seu crescimento.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Programação Cine Clube Ybitu Katu - Maio de 2012: Road Movies

Road movies (filmes de estrada) é um gênero de filme em que a história se desenrola durante uma viagem. Na maioria das vezes, o filme não é regido por uma única situação-problema como é convencional, mas por várias que surgem e são resolvidas conforme e história transcorre.

 O Cine Clube Ybitu Katu exibe:
  
05/05: Que tan lejos (Tania Hermida, 2006) - Equador
Teresa precisa impedir que o ex-namorado se case com outra mulher. Jesus está atendendo o último pedido de sua avó e leva suas cinzas para serem jogadas em um rio. Esperanza é uma turista espanhola que está encantada pelo Equador. No caminho deles, uma greve está paralizando as estradas do país. Em meio à discussões políticas e sentimentais, vários personagens inusitados se cruzam. Eles vão conseguir chegar ao seu destino? Duração: 92 minutos.

12/05: Casanova e a Revolução (Ettore Scola, 1982) - Itália
1791. Nicolas Edmé Restif de la Bretonne, o controverso escritor e editor, vê a condessa Sophie de la Borda, a dama de companhia de Marie-Antoinette, deixar Paris secretamente. Ele conclui que o rei Luís XVI  e sua família já tinham deixado a capital. Determinado em satisfazer sua curiosidade e testemunhar o maior evento histórico de sua vida, o escritor parte em perseguição à condessa, pois assim achará o rei. No caminho conhece um idoso cortesão, que não é nem mais nem menos que Casanova, o mestre da sedução, que guarda seu encanto ainda, apesar de ter 66 anos. Por um acaso do destino eles acabam na mesma carruagem onde também estão também Sophie e Thomas Paine, um ativista político americano. Como o cocheiro faz seu trajeto através da cidade de Metz, os viajantes descobrem que eles estão seguindo a mesma rota de outro cocheiro, que leva à família real.Duração: 122 minutos.

19/05: NÃO HAVERÁ SESSÃO EM DECORRÊNCIA DA VIRADA CULTURAL EM BOTUCATU

26/09: Viajo Porque Preciso Volto Porque Te Amo (Karim Ainouz, 2009) - Brasil
José Renato  tem 35 anos, é geólogo e parte para uma viagem de 30 dias, onde terá que atravessar todo o sertão nordestino. Sua missão é avaliar o possível percurso de um canal que será feito, desviando as águas do único rio caudaloso da região. Ele está em meio a muitos sentimentos, a saudade de sua mulher, e a sensação de abandono e solidão. Duração: 75 minutos