segunda-feira, 8 de junho de 2009

Crítica - Sem fim

Bez Konca é, a princípio, um filme sobre o sofrimento de uma mulher: Urszula, que perde o marido Antek, um advogado que trabalhava numa causa política, na Polônia de 1982. Em segundo lugar, é um filme de crítica social. Uma crítica velada ao comunismo distorcido da URSS, no auge da guerra fria.

Quando morreu, vítima de um ataque cardíaco, Antek defendia um trabalhador detido sob a acusação de liderar uma greve, coisa que de fato ele havia feito. Urszula, então, indica a Joanna, mulher do líder grevista Darek, um advogado velho e conservador, conhecido de seu marido, para substituí-lo no caso. Ela se aproxima desta mulher, mas nunca além de um determinado limite. Nunca deixando que o drama de Joanna interfira no seu, ou ganhe maior proporção na sua vida, como chega a admitir numa conversa com ela.

O advogado indicado pela viúva acaba aceitando o caso e começa a tentar persuadir Darek a não seguir protestando, em troca de sua liberdade. Enquanto isso, Urszula busca se livrar da memória de seu marido, mas mesmo quando tem relação com um estranho, o faz pela semelhança das mãos deste com as do falecido. Antek morrera, mas persistia acompanhando os passos da mulher, que continuava a vê-lo e a sentir sua presença. As duas histórias – a de Urszula e a do preso político – pouco se misturam durante o filme, mas caminham sempre lado a lado, como que numa continuação da vida do advogado. E o fato é que a morte de Antek faz desmoronar os planos de Darek e a vida inteira de Urszula.

Bez Konca é obra de um dos grandes gênios da história do cinema. Kieslowski não tem par. Ele abusa dos seus sentidos pra alcançar o extra-sensorial em você. E em Bez Konca está exposto todo seu inesgotável talento. Está presente a música clássica perfeita de Zbigniew Preisner. Está presente a lindíssima fotografia, traduzindo o clima frio da Polônia oprimida pela lei marcial, a depressão da mulher após a perda do marido e os dramas de toda a nação – representados em Darek, Joanna e na impossibilidade da lei diante da ditadura. Estão presentes os escassos, mas sempre precisos, diálogos – precisos todos os sentidos: nunca sobram ou faltam, em quantidade ou em conteúdo. E ele esbanja nos movimentos e no posicionamento das câmeras. Esbanja habilidade, sensibilidade. Bez Konca pode não ser o melhor filme do polonês, mas é um filme espetacular. E, como todo Kieslowski, é pra ser apreciado como uma verdadeira obra-de-arte. Porque ele entendeu melhor que qualquer outro cineasta o porquê de o cinema ser considerado uma arte. Kieslowski é o mais artista dos diretores. Ou, ao menos, o que mais me agrada o gosto.

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