sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Crítica: Os Pássaros (Alfred Hitchcock, 1963)

por Victor Ramos

Com uma filmografia repleta de suspenses coerentes, Alfred Hitchcock lançou seu nome no patamar de mestre do suspense. Analisando a carreira de Hitchcock com um olhar voltado para o tema da morte, o primeiro filme de fama de sua autoria a fazer uso deste tema foi Festim Diabólico (Rope, 1948), onde o subconsciente de dois assassinos que compõem todo ponto gênese do filme é explorado de forma fria.

Hitchcock abraçou a causa do crime no cinema e, posteriormente a Festim Diabólico dirigiu outra obra famosa que faz parte de sua filmografia; o filme Pacto Sinistro (Strangers on a Train, 1951) é mais uma obra que estuda os elementos que constroem a frieza de uma mente assassina. A temática de morte utilizada por Hitchcock era executada como única naquela época e, poucas das outras produções que faziam uso de tal tema, utilizavam a exploração da psicopatia; de todo modo, as poucas que exploravam este mal não atingiam com êxito a devida maestria requerida, diferente de Alfred Hitchcock, que marcou o tema como uma das características de seu cinema luxuoso.

Em 1954, mais dois filmes relacionados a mortes foram assinados com a direção do mesmo Hitchcock, os filmes Disque M Para Matar (Dial M for Murder, 1954) e Janela Indiscreta (Rear Window, 1954) foram os que fortaleceram de uma forma peculiar mais ainda a carreira do mestre do suspense. De um lado Janela Indiscreta, que de seu modo analisa o quanto a obsessão humana pode desencadear sérios problemas, e de outro lado Disque M Para Matar, que explora a ganância da natureza humana e, até onde ela pode nos levar. Ambos os filmes adquiriram com êxito o sucesso de seus objetivos cinematográficos que compõem as características do verdadeiro suspense e, também na massa entre os críticos e o público.

Até então, qualquer filme com o nome ‘’Alfred Hitchcock’’ estampado nos créditos era sinônimo de bom trabalho. Em 1955 surgiu o filme O Terceiro Tiro (Trouble with Harry, The, 1955), que tratou da morte como uma piada, porém, a recepção do longa não foi tão calorosa quanto nas outras produções anteriores que são dignas de serem denominadas ‘’obras’’. Após O Terceiro Tiro, Hitchcock só viria a tratar da mente assassina em 1958 com o filme Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958). Um corpo Que Cai não teve uma boa recepção na época, porém, hoje o filme é considerado ser uma das melhores obras de Hitchcock.

 
Em 1960, apenas poucos anos antes de Hitchcock dirigir uma de suas mais originais e ousadas obras cinematográficas, eis que surge o filme Psicose (Psycho, 1960). Psicose foi – e é – para muitos o apogeu da carreira de Hitchcock, dono de um dom pouco visto no cinema, um dom onde em Psicose brotou originalidade e muito suspense acompanhado de elementos que originaram produções seguintes de outros diretores distintos.
 
Até então, tudo na carreira de Hitchcock foi exibido de uma forma coerente. Foi exibido espionagem, psicopatia, frieza, romance e muito humor negro. Hitchcock se tornara uma marca quase exclusiva do cinema que trata de crimes humanos. Em 1963, surgiu o filme que redefiniu mais uma vez o cinema e marcou com carimbo de ouro a carreira de Alfred Hitchcock, o filme Os Pássaros (Birds, The, 1963). Os Pássaros foi algo que Hitchcock nunca tinha sentido antes, o lado da morte que ele nunca provou: o sobrenatural.
 
Os Pássaros é o filme mais ousado da carreira de Hitchcock, e isto se deve por vários elementos chave que constroem a armação da obra. Hitchcock não era um diretor que gostava de fazer uso de alta tecnologia em seus filmes, e muitos destes filmes também se atendo ao costume peculiar do mestre, eram rodados completamente em estúdio. Os Pássaros foi algo novo a ser utilizado por Hitchcock, pois fez uso de tomadas externas, técnica que ele não abraçou, e também fez uso de efeitos especiais inovadores na época para criar as temíveis criaturas voadoras.
 
Se atendo ao que é visto na tela, Hitchcock impõe os espectadores a assistir o mais puro que se pode oferecer do suspense. Modificando algumas passagens do roteiro escrito por Daphne Du Maurier e Evan Hunter, Hitchcock retira o coerente explicativo e deixa apenas em tela o caos. Pássaros assassinos que de súbito matam aos moradores de uma pequena cidade compõem esta obra magnífica e enigmática.

Quem interpreta a protagonista de uma forma peculiar e ousada, é a bela atriz Tippi Hedren, que dá vida a Melanie Daniels. Acompanhando Tippi Hedren segue um grande elenco que adiciona ao talento da equipe técnica pontos positivos. Os personagens possuem personalidades complexas e, nenhum possui característica de mocinho (a) inocente. Todo trabalho dos atores presentes foram desafios postos no caminho como obstáculos, e felizmente foram superados no final das contas, pois ao assistir Os Pássaros, a impressão que dá ao olhar para as atuações, é de que todos os atores presentes nasceram para os devidos papéis, bem como o posterior Pulp Fiction (filme de 1994 dirigido por Quentin Tarantino).
 
 
Os Pássaros faz uso do suspense magistral do início ao fim, explora o medo do desconhecido e mostra a essência do verdadeiro cinema de Hitchcock. Uma verdadeira aula de cinema que, prova melhor que ninguém que o explícito nem sempre é necessário para criar uma atmosfera sufocante típica do gênero.
 
Os Pássaros é um filme atemporal que inicia com maestria o tom tenebroso e, que confirma com o seu final a tamanha importância de si para o cinema. Os Pássaros, diferente dos outros filmes de Hitchcock, não possui o famoso ‘’The end’’ ao final da obra, é aí onde é visto que este realmente é uma obra-prima que consegue fazer com que o suspense contido na obra não acabe. O verdadeiro epílogo da trama fica restrito aos olhos do espectador e, a tensão continua no ar.

"Morro de medo de ovos, pior do que morrer de medo, eles me revoltam. Aquela coisa branca arredondada sem nenhum buraco. Você já viu algo mais revoltante de que uma gema de ovo quebrando e derramando seu líquido amarelo? O sangue é alegre, vermelho. Mas a gema do ovo é amarela, revoltante. Eu nunca a provei."
(Alfred Hitchcock)

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