segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Programação Setembro 2010: Cinema Africano

Em parceria com a Cinemateca da Embaixada da Fraça, o Cine Clube Ybitu Katu convida a todos para um mergulho no desconhecido Cinema Africano. São quatro filmes realizados por cineastas africanos em seu continente que buscam representar algumas facetas desse formidável, e infelizmente, esquecido, continente. É uma programação bastante especial que demandou bastante dedicação e trabalho para selecionar e, principalmente, encontrar os filmes e suas legendas em português.
Convidamos Botucatu para apreciar uma mostra de rara oportunidade como essa.

Programação Cine Clube Ybitu Katu Setembro 2010 - Cinema Africano

04/09: Yesterday (Darrell Roodt, 2004). País de origem: África do Sul
Yesterday é uma moça do Sul da África que vem a adoecer e a descobrir que é portadora do vírus da Aids. A doença faz com que seu marido a rejeite, e, em meio a tanto sofrimento, que ela lute para sobreviver e ver sua filha indo para a escola.Duração: 93 minutos

11/09: Baara (Souleymane Cissé, 1978). País de origem: Mali
Um jovem malinês deixa o campo para ir morar na cidade, onde passa a ganhar a vida como "baara", os trabalhadores de rua que carregam bagagens e mercadorias pela cidade. Um dia, ele conhece um jovem engenheiro, recém contratado de uma fábrica têxtil, e logo se tornam amigos, por terem vindo da mesma região do país. Isso lhe permite observar de perto o conflito por que passa o jovem engenheiro, dividido entre sua submissão ao cruel e explorador diretor da fábrica e sua simpatia pelos trabalhadores. Duração: 90 minutos

18/09: As Ruas de Casablanca (Nabil Ayouch, 2000). País de origem: Marrocos
Ali, Kwita, Omar e Boubken, todos com 12 anos, são meninos de rua em Casablanca. As ruas são sua casa e as pessoas que nelas moram sua família. Sem ter para onde ir nem onde se esconder, a sobrevivência é um problema cotidiano e a amizade o elo insubstituível que os une. Até que um dia Ali é morto - teve sua vida abreviada por um ato de vingança de uma gangue rival. Seus amigos bem que poderiam abandoná-lo ali, morto, mas decidem dar-lhe o enterro que merecia - o de um rei. Duração: 90 minutos

25/09: Moolaadé (Ousmane Sembene, 2004). País de origem: Senegal/Camarões
Numa aldeia africana, persiste o costume brutal da Mutilação Genital Feminina, numa operação dolorosa e temida por todas. Seis meninas, com idades entre 4 e 9 anos, devem passar pelo ritual num determinado dia. Quatro delas buscam a proteção de Collé, uma mulher que não permitiu que a filha fosse mutilada, invocando a “mooladé” (proteção sagrada), indicada por uma corda colorida. Enquanto usarem essa corda, ninguém na aldeia poderá tocá-las. Mas vários homens pressionam o marido de Collé para que retire a proteção, nem que para isso ele tenha de chicoteá-la. Duração: 120 minutos

Cartaz Programação Setembro 2010: Cinema Africano

sábado, 28 de agosto de 2010

28/08: Os Imperdoáveis (Clint Eastwood, 1992)

Os Imperdoáveis - Clint Eastwood (1992)

Sinopse
Bill Munny, um pistoleiro aposentado, volta ativa quando lhe oferecem 1000 dólares para matar os homens que cortaram o rosto de uma prostituta. Neste serviço dois outros pistoleiros o acompanham e eles precisam se confrontar com um inglês, que também deseja a recompensa e um xerife, que não deseja tumulto em sua cidade. Vencedo do Oscar de Melhor Filme de 1992. Duração: 133 minutos

Crítica: Os Imperdoáveis (Clint Eastwood, 1992)

por Weiner
Extraído de http://agrandearte.wordpress.com/2010/05/27/os-imperdoaveis/

Até 1992, a crítica parecia ignorar Clint Eastwood enquanto ícone cultural e estrela absoluta do cinema americano – o que era motivo de indignação para sua legião de fãs. Famoso por protagonizar diversos longas temáticos (faroestes, mais especificamente), Eastwood ainda carecia de reconhecimento por parte da maioria das premiações - que ainda não haviam se curvado diante de seu imenso talento. Os Imperdoáveis pode ser apontado como o western mais cru de toda a história de Hollywood, e sua irreverência ao gênero consagrado por diretores do porte de John Ford e Howard Hawks foi fundamental para que atingisse tamanho sucesso – foram 4 Oscars, incluindo o de Melhor Filme.

Eastwood recebeu o prêmio por sua direção firme e sem concessões, determinada a desmitificar a imagem intrépida do fora-da-lei daquele tempo. Para tanto, muniu-se de um roteiro amargo (do autor David Webb Peoples) e completamente inglorioso: a história de Bill Munny (interpretado pelo próprio Clint), um pistoleiro viúvo e aposentado, que cuida de um pequeno rancho e de dois filhos muito jovens. Aqui já é possível perceber o primeiro contrassenso: qual filme do gênero aceitaria um protagonista arrependido de seus crimes, e encerrado no meio de porcos e galinhas, submetendo-se à tarefa feminina de cuidar de crianças? Pois bem, Munny irá se confrontar novamente com o passado - o qual aprendera a abominar. Uma recompensa é prometida àquele que vingar a prostituta do povoado vizinho, retalhada por um bêbado. Porém, o que move Munny não é o dinheiro, e sim a necessidade de justiça; algo dentro de si o impele a vingar a meretriz, como se através de tal ato, pudesse atenuar o peso de sua culpa; nas redondezas, ele é apontado como “Bill Munny, o assassino de mulheres e crianças”.

Acompanhado de um amigo (Morgan Freeman) e de outro pistoleiro, mais inexperiente, irá átrás daquela que lhe parece a última chance de encontrar humanidade em sua alma. A recompensa, contudo, atrairá outros homens – e o xerife do povoado (Gene Hackman, vencedor do Oscar) tentará, das mais cruéis maneiras, impedir que sangue seja derramado sob sua jurisdição. O que diferencia Os Imperdoáveis do restante dos filmes de sua temática é a ausência do idealismo típico da época de ouro hollywoodiana; o tempo passa e deixa remorso e dor indeléveis até mesmo nos assassinos de aluguel. A glória destes homens é finita, e haverá momento em que o temor e respeito adquiridos pela selvageria de outrora converter-se-ão em solidão e pobreza espiritual. A busca de Munny por um sentido à própria vida, que já dá sinais de fracasso, é o que promove a trama de Os Imperdoáveis – e mesmo que o desfecho pareça pessimista demais, ele simboliza a dificuldade do ser humano em encontrar o equilíbrio, ou mesmo a salvação. Deixou a lição de que, definitivamente, a era do Oeste bravio da década de 1950 chegara ao fim. Pois sim, o mais indomável elemento de qualquer meio é o homem; e é ele quem decide o quão inóspito será o lugar que habita.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

21/08: Era uma vez no oeste (Sergio Leone, 1968)

Era uma vez no oeste - Sergio Leone (1968)

Sinopse
Uma das maiores obras primas do cinema. Em virtude das terras que possuía serem futuramente a rota da estrada de ferro, um pai e todos os filhos são brutalmente assassinados por um matador profissional. Entretanto, ninguém sabia que ele, viúvo há seis anos, tinha se casado com um prostituta de Nova Orleans, que passa ser a dona do local e recebe a proteção de um hábil atirador, que tem contas a ajustar com o frio matador. Duração: 168 minutos

Crítica: Era uma vez no oeste (Sergio Leone, 1968)

por Rodrigo Cunha
Extraído de http://www.cineplayers.com/critica.php?id=243


Um dos melhores faroestes já feitos, bem diferente dos demais que Leone apresentara ao público.

“O ritmo do filme pretendeu criar a sensação dos últimos suspiros que uma pessoa exala antes de morrer. Era Uma Vez no Oeste é, do começo ao fim, uma dança da morte. Todos os personagens do filme, exceto Claudia (Cardinale), têm consciência de que não chegarão vivos ao final”

- Sérgio Leone

Em mais um dia de sol intenso no Oeste, três homens com longas capas bege aguardam a chegada do trem em sua estação. Não querem bilhetes, mas também não pretendem viajar. De arma em punho, eles apenas esperam, no mais puro tédio que resume a palavra. Um está embaixo de uma goteira, bebendo a água que se acumula em seu chapéu. Outro brinca com uma mosca, que passeava por sua barba por fazer. O terceiro cospe no chão. O vento. A expectativa. O apito. Ele anuncia que a espera chegara ao fim. Os três tomam posição estratégica, aguardando alguma coisa. Ou alguém. Engatilham suas armas e, mais uma vez, esperam. O trem descarrega os itens que para ali se destinam, mas ninguém desce. Os homens observam atentos. Nada. Novamente o apito e o trem começa a andar, partindo. Os homens abaixam suas armas e viram as costas. Nesse momento, ouve-se o som de uma gaita. Eles param e viram-se rapidamente, com as armas novamente em punho. Assim que o trem termina de passar, um homem revela-se por detrás dele, do outro lado do trilho. Ele tem uma gaita em mãos.

Logo após finalizar sua Trilogia dos Dólares, formada por Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito, Sergio Leone resgatara todo o respeito e a certeza de que os faroestes poderiam ser bons filmes, não apenas entretenimento barato. Agora almejava novos horizontes. Em sua mente já se desenhava um dos maiores clássicos policiais de todos os tempos, mas a Paramount só bancaria seu sonhado Era Uma Vez na América caso ele fizesse apenas mais um faroeste. Sergio estava em um beco sem saída, uma vez que, na sua cabeça, já não haviam mais histórias nesse gênero para serem contadas. Mas Leone não se deixou levar pelo olhar ambicioso sobre os lucros que esse novo filme poderia gerar. Se devia ser feito, que fosse algo bom. Ele se juntou então com Sergio Donati, Bernardo Bertolucci e Dario Argento para escrever a história e o roteiro desse seu novo trabalho. Assim nasceu a obra-prima Era uma vez no Oeste.

Jill (Claudia Cardinale) é uma ex-prostituta de New Orleans que largou a vida na cidade grande para casar com Brent McBain (Frank Wolff), um sonhador dono de uma propriedade no meio do nada, viúvo e pai de três lindas crianças. Quando Jill chega à fazenda “Água Doce”, encontra uma chacina realizada na sua nova família. A única pista de quem pode ter feito tal crueldade está em um pequeno pedaço de pano encontrado no local, que remete à cruel gangue de assassinos de Cheyenne. Como Leone queria algo novo para sua história, uma das soluções encontradas foi elevar a importância de Jill dentro do contexto geral, uma vez que Leone não havia reservado papéis importantes para mulheres em seus filmes. A partir do momento que ele coloca Jill no centro de tudo o que acontece no filme, dá uma nova direção aos seus trabalhos também.

Charles Bronson interpreta o mocinho da história, conhecido como “O Gaita”, homem não identificado de jeitão calado e muita atitude. Não sabemos sua motivação até o final, mas sente-se um doce gosto de vingança em suas atitudes, principalmente quando seu caminho se cruza com o da nossa protagonista Jill. A escolha inicial de Leone para o papel seria Clint Eastwood, mas analisando o filme com um todo, percebe-se que não seria uma boa opção. Não que Eastwood não seja capaz de interpretar um personagem como “O Gaita”, e sim por já ter uma personalidade bastante marcada por protagonizar os três filmes anteriores de Leone. Caso Eastwood fosse mesmo o escolhido para o papel, as pessoas poderiam ligar erroneamente o fato de Leone estar fazendo um novo faroeste protagonizado por Clint Eastwood e correrem para o cinema esperando um novo Três Homens em Conflito. Mas não era esse o caso.

Era uma vez no Oeste é um filme muito mais plástico que os outros de Leone, um drama ambientado no Velho-Oeste. Aqui acontece uma história muito mais profunda, sem humor e com violência menos explícita que em seus outros filmes, mas essas não são necessariamente características ruins. São apenas diferentes. Até mesmo o jeitão do “Gaita” não combina com Clint Eastwood. Ele não é irônico, canastrão e nem brinca com a cara das pessoas. Ele é apenas um tremendo grosso que impõe a sua força quando necessário, calado e de atitude. Em Charles Bronson o diretor encontrou a pessoa certa para combinar boa atuação com o perfil que o personagem exigia.

A idéia de utilizar Clint Eastwood, Lee van Cleef e Eli Wallach, os três protagonistas de Três Homens em Conflito, na introdução do filme (a cena descrita ao início desta análise) chegou a ser cogitada, mas infelizmente teve de ser arquivada devido à indisponibilidade dos atores. Seria algo genial, mágico, pois ninguém imaginaria que esses três atores, tão famosos por seus trabalhos com Leone, morreriam logo nos dez minutos iniciais. Metaforizaria também o corte bruto que Leone queria fazer com seus outros faroestes, deixando claro que Era uma Vez no Oeste seria algo novo, e que eles esquecessem os três que ali estavam.

Outra sacada de gênio, porém dessa vez concretizada, foi que Leone conseguiu ninguém menos que Henry Fonda (de Doze Homens e uma Sentença) para fazer o vilão da história. Fonda nunca tinha feito tal papel na vida. Depois do massacre, quando a câmera gira e mostra que o responsável por aquela cruel chacina era Henry Fonda, muitas pessoas ficavam surpresas e já na expectativa do que de novo aquele filme poderia trazer. Suas lentes azuis bem fortes e a ambição de ser uma pessoa grande tornaram-se características imortais para esse cavalheiro agora na pele de um urubu seco para comer suas carniças.

Fechando o elenco principal temos Jason Robards interpretando Cheyenne, um dos personagens mais interessantes de todo o filme. Barba mal feita, jeitão de safado, o cara é conhecido como um cruel assassino no local onde atua. Quando tentam incriminá-lo de alguns crimes que não cometeu, o cara acaba se tornando um dos mocinhos da história, criando um contraste extremamente interessante com a fama que lhe rodeia. Fora que suas cenas de ação, como quando ele salva Charles Bronson no trem de Morton (Gabriele Ferzetti), geram empolgação e remetem ao seu bom e velho faroeste.

Vale lembrar que esta parte é apenas uma referência aos seus outros trabalhos, o que é mais uma característica de Era uma Vez no Oeste. Leone se preocupou a todo momento inserir uma coisa ou outra que remetesse aos mais conhecidos faroestes já feitos, como por exemplo o modo de filmar a ação de filmes como Rastros de Ódio, Matar ou Morrer, No Tempo das Diligências e Os Brutos Também Amam. Até mesmo filmar no Monument Valley, locação preferida onde John Ford filmara oito de seus filmes, Leone filmou. Seu perfeccionismo era tanto que até pegar um pouco da terra vermelha do local para ser usada nas cenas de estúdio, fazendo entrar poeira pelas janelas e portas dos locais, ele usou. Outra significativa inclusão no filme é a chegada da prosperidade ao Oeste, representada pela linha do trem, por exemplo, e o crescimento que ela traria. A tecnologia como um novo elemento.

O ritmo do filme é bem lento, calculado, sempre criando expectativa para o que vai acontecer a seguir e como o que está na tela irá terminar. Leone demorava horas para fazer um plano simples para poder alcançar a mais perfeita estética que estes planos poderiam gerar. Ele deixava que cada um tivesse o seu significado. Leone chegava até mesmo a controlar a quantidade de poeira que estaria em cada roupa de seus atores, e utilizou fotos de época exigindo o máximo de fidelidade de sua equipe na hora de criar a arte do filme. O resultado foram alguns planos memoráveis, como quando Claudia chega na cidade e ainda não temos uma visão do local. Apenas alguns planos da estação de trem e, quando ela atravessa essa estação, a câmera fixa por uma pequena janelinha. Após a grua levar a câmera bem alto, temos noção da dimensão da cidade que fora construída apenas para esse filme (o orçamento folgado liberado para essas construções era maior do que o orçamento inteiro gasto em Por um Punhado de Dólares).

O duelo final entre “O Gaita” e Frank é memorável. Para mim, a melhor cena do filme disparada. Desde a preparação, com a chegada de Frank e o encarar dos dois, até o "mega-hiper-ultra" close nos olhos de Charles Bronson, para representar a entrada na mente dele pelo público, tudo tem seu significado dentro da obra. Com o flashback, todo o filme ganha uma importância extra, pois conhecemos a motivação do “Gaita” e a importância de suas ações. Como drama também, pois a cena é simplesmente revoltante e nos faz pensar se teríamos a mesma calma do personagem em suas atitudes ao se confrontar com Frank.

Outro fator que ajudou Era uma Vez no Oeste a ser uma valsa da morte foi sua trilha musical, algo a que Leone sempre deu muita atenção em suas obras. Cada personagem possui sua trilha sonora própria, entrando em cena juntamente com o seu possuidor. Mais uma vez durante a cena inicial, quando não há nenhuma trilha sendo executada (afinal, não havia nenhum personagem principal em cena ainda), Leone elevou a importância dos sons naturais para criar sua trilha. Deixou que o moinho de vento fizesse mais barulho, que a goteira fosse percebida, que a mosca fosse tão irritante quanto na vida real. Quando o trem chega, entra a trilha sonora de “O Gaita”.

Certas vezes, antes mesmo do personagem entrar em cena já sabemos que isso irá acontecer, devido à trilha executada por Leone ao início de cada seqüência. Quando dois personagens estão no mesmo local, percebe-se a genialidade: os temas se misturam criando uma nova sensação ao escutar as músicas, aproveitando ao máximo o belo material que tinha em mãos. Ao invés de torrar nossa paciência apenas com os quatro mesmos temas de sempre, Leone nos faz sentir algo extremamente positivo.

O melhor de tudo é que cada tema tem o seu significado. “O Gaita”, por exemplo, ganha um significado brutal quando, no duelo final, o flashback eleva sua importância ao extremo. As músicas sempre tiveram uma importância fundamental nos filmes de Leone, mas aqui elas ganham o seu patamar máximo. Foram compostas antes mesmo das filmagens começarem, pois Leone queria que elas ditassem o ritmo que sua história seria contada. Isso ajudou também na preparação dos atores, já que Leone costumava tocar seus temas no set para inspirar os atores. Leone já tinha na ponta da língua tudo o que queria antes mesmo de começar a filmar. Tarantino aprendeu bem a lição...

Infelizmente, na época em que foi lançado, Era uma Vez no Oeste não alcançou um grande sucesso comercial nos EUA, o que resultou no corte de 20 minutos do filme para deixá-lo mais acessível ao público, bem como o estúdio queria. Só que o reconhecimento veio com o decorrer do tempo. Uma obra de arte poética e sensível, completa como faroeste, perfeita como um filme. Acabou sendo o primeiro de uma nova trilogia imperdível, seguido por Quando Explode a Vingança e a outra obra-prima Era uma Vez na América. Seja fã de Leone ou não, este é um daqueles títulos indispensáveis para quem quer conhecer a boa história do cinema.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

14/08: Rio Vermelho (Howard Hanks, 1948)

Rio Vermelho - Howard Hanks (1948)

Sinopse
Originalmente lançado em preto-e-branco, mas hoje disponível em cores vivas, Rio Vermelho possui uma ambientação impressionante. Filmado tanto em estúdios quanto em locações é um filme que traz uma atmosfera incrível do velho-oeste americano, ainda no tempo das diligências, quando os primeiros grandes criadores de gado estavam trabalhando duro para fortalecer a economia do Sul dos Estados Unidos. Tom Dunson constrói um império com seu filho adotado, Matthew Garth, com quem depois virá a duelar por divergências nos ideais. Duração: 133 minutos

Crítica: Rio Vermelho (Howard Hanks, 1948)

por Alexandre Koball
Extraído de http://www.cineplayers.com/critica.php?id=38

Uma obra-prima do gênero faroeste, quase desconhecida do grande público.

Ahhhh, os faroestes clássicos. Eles tiveram seu auge nos anos 60, com o magistral diretor italiano Sergio Leone, responsável por Era Uma Vez no Oeste ou Três Homens em Conflito, entre vários outros filmes inesquecíveis. Mas desde os anos 30, com diretores como John Ford e seu No Tempo das Diligências, por exemplo, a magia de um dos gêneros mais famosos do cinema foi vivida por atores como John Wayne. Este, aliás, é o ator com mais papéis principais da sétima arte, dizem as estatísticas. Rio Vermelho, de 1948, embora não seja seu maior clássico, está entre seus melhores filmes. E posso ir mais além, dizendo que está entre os melhores filmes do gênero, disputando com obras mais populares como Rastros de Ódio e Matar ou Morrer. Mas esses são filmes para serem discutidos em outra ocasião...

Originalmente lançado em preto-e-branco, mas hoje disponível em cores vivas, Rio Vermelho possui uma ambientação impressionante. Filmado tanto em estúdios quanto em locações é um filme que traz uma atmosfera incrível do velho-oeste americano, ainda no tempo das diligências, quando os primeiros grandes criadores de gado estavam trabalhando duro para fortalecer a economia do Sul dos Estados Unidos. A sensação que o filme passa é a de que você está lá, junto com aqueles desbravadores de terra, quando a justiça era feita por quem sacava o revólver mais rápido. Há um sentimento maravilhoso de liberdade ecoando por todo o filme, ainda que a jornada de seus personagens seja violenta e difícil.

A direção precisa de Howard Hawks e Arthur Rosson (o filme geralmente é somente creditado a Hawks, diretor de outros clássicos como Jejum de Amor, de 1940) faz com que o filme torne-se uma verdadeira e graciosa aventura. Acompanhamos Dunson (John Wayne), Matthew (o galã Montgomery Clift, que morreu cedo, aos 46 anos, em 1966) e uma equipe de vaqueiros contratados em uma jornada para transportar 10 mil cabeças de gado por 1000 milhas de um deserto monótono (ainda que lindo) e cheio de perigos (mais precisamente os índios Comanche). O roteiro, cheio de reviravoltas interessantes e feliz por conseguir manter o suspense (e conseqüentemente a atenção) até o minuto final, cria diversos empecilhos para esta viagem que durará meses. Não são só os índios que poderão incomodar. Os conflitos entre os personagens são muito mais interessantes que as cenas de ação (e é aí que o filme se destaca entre dezenas, talvez centenas, de faroestes ordinários existentes naquela época), embora os duelos – as cenas-clímax de todo o gênero faroeste – estejam presentes de maneira muito intensa.

Não há grandes elementos que venham a tirar o brilho deste clássico. O maior é talvez a inclusão de uma mocinha irritante (embora essa opinião seja muito subjetiva) por causa de sua arrogância e auto-confiança. Creio que seja um estereótipo forçado do gênero, já que na segunda metade do século XIX as mulheres praticamente não tinham voz entre os homens, e isso é fato. Há, claro, várias outras forçadas de barra na história, algumas bem estúpidas (o motivo que levou ao estouro de uma boiada, por exemplo) tudo para encaixar mais emoção e suspense à jornada desses homens. Mas isso pode ser “ignorado”, em prol da apreciação do filme como entretenimento.

Obviamente, as interpretações são incríveis. John Wayne, que muitas vezes não fazia exatamente o papel de “mocinho simpático”, possui outro de seus personagens ambíguos, que pode ser visto como sendo o mocinho ou o bandido. E Clift, uma espécie de filho adotivo de Wayne dentro do filme, mesmo sendo ainda bastante jovem, encara com grande qualidade as várias cenas difíceis que o filme possui. Como Rio Vermelho é uma espécie de épico do velho-oeste, o número de cenas difíceis realmente é grandioso. Curiosamente, fora das gravações os dois atores possuíam diferentes idéias relacionadas à política, e ambos tiveram de concordar que não tocariam nesse assunto para poderem gravar sem atritos. Parece que deu certo, já que o relacionamento é totalmente natural.

A trilha sonora é também destaque nesse clássico. A música-tema, “Settle Down”, dá uma força imensa às imagens, e toda a trilha funciona perfeitamente, alavancando o sentimento de liberdade e grandiosidade do velho-oeste. O filme concorreu a dois Oscars: edição (realmente bem executada, principalmente se comparada a outros filmes da década) e roteiro (praticamente sem deslizes). Acabou não levando nenhum, mas hoje o filme se mostra acima de qualquer premiação, como todos os verdadeiros clássicos. Infeliz do filme que precisa de prêmios para ser lembrado.

Rio Vermelho não chega a ser tão conhecido como Rastros de Ódio ou Matar ou Morrer, só para citar dois exemplos. Mesmo assim, considero-o um dos melhores faroestes de todos os tempos, principalmente por causa da sua ambientação e espírito livre, em uma história de grandes proporções e objetivos (e se você não gostar, pelo menos fica conhecendo um pouco mais de História). John Wayne mostra porque é a lenda que ainda vive forte no cinema, e não vai morrer tão cedo. Recomendado a qualquer amante da sétima arte

sábado, 7 de agosto de 2010

07/08: Johnny Guitar (Nicholas Ray, 1954)

Johnny Guitar - Nicholas Ray (1954)

Sinopse
Dona de um saloon num lugar esquecido por Deus vê suas esperanças renascerem com a possibilidade de a ferrovia passar próximo ao seu comércio. Mas ela tem de resolver um problema: a hostilidade do xerife local e os capangas de sua inimiga mortal, uma fazendeira que a quer fora da cidade. Para enfrentar as adversidades, numa luta sangrenta que está por começar, ela conta com a ajuda do antigo amor Johnny Guitar, músico e pistoleiro. Duração: 110 minutos

07/08: O Grande Roubo do Trem (Edwin S. Porter, 1903)

O Grande Roubo do Trem - Edwin S. Porter (1903)

Alguns bandidos tramam um assalto a um trem, roubam os passageiros e são presos no final. Esse roteiro, que hoje seria considerado como frívolo, em 1903 revolucionou o cinema. Com apenas doze minutos de duração, O Grande Roubo do Trem é um dos grandes marcos da história do cinema e é considerado o primeiro filme de faroeste (western). Este curta-metragem foi extremamente inovador para a época porque foi um dos primeiros a usar uma narrativa realista no cinema. Além disso, foi o primeiro a realizar filmagens em ambientes externos, o primeiro ano uso de zoom (extremamente avançado para a época) e ainda, mesmo que incipiente, no uso de montagens paralelas. Como primeiro filme de faroeste (western), estabeleceu algumas das principais peculiaridades do gênero: tiros que fazem as pessoas dançar, perseguições à cavalo e tiroteios. É importante se destacar também o último plano do filme, que, indubitavelmente marcou a história do cinema: um dos bandidos dá um tiro em direção à platéia (foto acima). Na época, provocou um grande burburinho, com os espectadores reagindo inicialmente com muito medo, mas depois com grande alívio. O diretor e crítico norte-americano Martin Scorcese homenageou este cena em seu filme Os Bons Companheiros (1990) onde o personagem Joe Persci também atira na direção do espectador.

Crítica: Johnny Guitar (Nicholas Ray, 1954)

por Rodrigo Carreiro
Extraído de http://www.cinereporter.com.br/dvd/johnny-guitar/

Cheio de cores explosivas, filme de Nicholas Ray é o primeiro faroeste feminista da história do cinema

Mesmo em sua época mais prolífica (meados dos anos 1950), Nicholas Ray jamais deixou de ser considerado um dos diretores malditos de Hollywood. Os executivos da indústria de cinema olhavam para ele de soslaio, como se fosse um intruso. E era mesmo, mas também era muito mais do que isso. Ele era um visionário, um verdadeiro artista, daquela estirpe que percebe, antes de todo mundo, movimentos sociais tomando forma – e transforma essas observações em valiosos documentos de época. Pois foi nestas circunstâncias, num período marcado por episódios odiosos de censura, perseguição e proibição, que Ray criou dois grandes filmes antevendo a insurgência de dois protagonistas sociais então inexistentes: o jovem rebelde e a mulher poderosa.

Como todos sabem, Nicholas Ray radiografou o crescente abismo entre jovens e velhos, no clássico "Juventude Transviada" (1955), e o filme com James Dean se tornaria o cartão de visitas do diretor. Um ano antes, porém, ele já entrara para as fileiras dos cineastas que Martin Scorcese chamaria, anos depois, de “contrabandistas”, referindo-se aos criadores que dotavam suas obras de uma aparência de normalidade para falar, nas entrelinhas, de temas proscritos ou proibidos. Ray fez “Johnny Guitar” (EUA, 1954), um western irreal e onírico, protagonizado por duas mulheres iradas. Foi um filme que antecipou, em duas décadas, o surgimento do movimento feminista.

Apesar do título se referir a um personagem masculino, “Johnny Guitar” celebra a rivalidade mortal entre duas mulheres: Vienna (Joan Crawford), teimosa dona de um saloon com um passado repleto de homens, e Emma (Mercedes McCambridge), proprietária de um banco e defensora da moral e dos bons costumes de uma cidadezinha nos confins do Velho Oeste. Como sempre acontece nesses casos, as duas se odeiam, e aquela que está mais próxima do poder estabelecido – a virginal e odiosa Emma – está decidida a botar a rival para fora correr. Entre as duas, estão dois homens de passado obscuro (Sterling Hayden e Scott Brady) e os moradores indecisos e inoperantes do lugar.

Fugindo do realismo que predominava nos melhores faroestes da época (John Ford, Howard Hawks, Anthony Mann), Ray cunhou um faroeste atípico já a partir do visual. Ele filmou em Tecnicolor e caprichou meticulosamente na criação de um estilo feérico, onírico, que Truffaut (o cineasta e crítico francês amava o longa-metragem) chamou de “a Bela e a Fera dos faroestes”. O trabalho de cores, auxiliado pelas características técnicas do sistema utilizado, é sensacional. Como outros grandes cineastas, Nicholas Ray não usava as cores de forma gratuita, dando aos cenários e figurinos uma dimensão extra de significa a partir da escolha das tonalidades. Obviamente, a aparência brilhante e explosiva cortava o efeito de naturalismo, mas enfatizava o estado de espírito dos personagens em cada cena.

Observe, por exemplo, as camisas e vestidos utilizados pelas duas personagens femininas. Na primeira cena em que Vienna aparece, ela usa calça e camisa pretas, e passa a imagem de uma chefe dura, austera, implacável (impressão acentuada pelo ângulo de câmera, que a flagra sempre de baixo para cima, frisando o poder que ela exerce sobre todos os personagens, mostrados de cima para baixo). Em uma das seqüências mais lembradas do filme, no auge da perseguição promovida por Emma (que usa preto), Vienna aparece toda vestida de branco, tocando piano enquanto o mundo desaba em torno dela. Para o duelo final, o vermelho do fogo.

Nicholas Ray usa com sabedoria uma técnica imbatível dos grandes diretores – utilizar a paisagem para expressar o estado emocional dos personagens – e realiza um grande trabalho. Na seqüência de abertura, quando todos com função dramática importante se cruzam no saloon de Vienna, a cidadezinha é sacudida por uma tempestade que parece prenunciar os acontecimentos futuros. Claro que, para melhor curtir o resultado, é preciso dar um desconto à artificialidade dos cenários, em que as paisagens de fundo são pintadas em grandes painéis (técnica conhecida em Hollywood como matte painting). Perceba que as nuvens do céu, durante a tradicional cena de pôr-do-sol – todos os filmes de Ray têm uma –, não se movem.

Curiosamente, se “Johnny Guitar” passou à história como o primeiro filme feminista realizado em Hollywood (e logo um western, o mais masculino dos gêneros!), o alvo verdadeiro de Nicholas Ray estava logo ali, na esquina. O longa-metragem foi pensado como uma crítica sutil à perseguição promovida por políticos republicanos contra supostos cineastas comunistas, em episódio que ficou conhecido como MacCarthismo. E o verdadeiro roteirista, que jamais ganhou crédito pelo trabalho, era justamente um dos homens proibidos de exercer a profissão pela crença na ideologia vermelha: Ben Maddow. Ou seja, por baixo de todo o espetáculo de cores e cenários fulgurantes, mora um dos filmes mais engajados já feitos nos intestinos de Hollywood.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Programação Agosto 2010: Grandes Clássicos do Faroeste

Extremamente popular nas décadas de 50 e 60, os filmes de faroeste continuam encantando gerações de cinéfilos; muitos deles, inclusive, iniciando-se na cinefilia justamente por este gênero. Diversas vezes erroneamente estereotipados como filmes de bandidos e mocinhos, alguns diretores filmes clássicos do faroeste influenciaram diversos cineastas devido, principalmente, à uma impecável direção de fotografia e a uma intricada construção da história por conta de uma complexa profundidade psicológica dos seus personagens.

O Cine Clube Ybitu Katu exibe:

07/08: O Grande Roubo do Trem (Edwin S. Porter, 1903) - Curta Metragem
Johnn
y Guitar (Nicholas Ray, 1954) - Longa Metragem

O Grande Roubo do Trem - Primeiro filme de faroeste da história do cinema
Com apenas doze minutos de duração, é um dos grandes marcos da história do cinema e um dos responsáveis, pelo grande sucesso que teve na época, por mostrar a viabilidade da indústria cinematográfica. Duração: 12 minutos

Johnny Guitar
Dona de um saloon num lugar esquecido por Deus vê suas esperanças renascerem com a possibilidade de a ferrovia passar próximo ao seu comércio. Mas ela tem de resolver um problema: a hostilidade do xerife local e os capangas de sua inimiga mortal, uma fazendeira que a quer fora da cidade. Para enfrentar as adversidades, numa luta sangrenta que está por começar, ela conta com a ajuda do antigo amor Johnny Guitar, músico e pistoleiro.

14/08: Rio Vermelho (Howard Hanks, 1948)
Um dos melhores faroestes já feitos, Rio Vermelho destaca-se por suas interpretações intensas, formidável fotografia e aventura em grande escala. É uma intensa aventura repleta de ação que captura a grandiosidade, imponência - e perigo - do selvagem oeste americano. Wayne nos presenteia com uma das melhores performances de sua carreira como Tom Dunson, um homem que tornou-se rei do gado e fará qualquer coisa para proteger seu meio de vida. Então, quando o valor do gado despenca, obrigando-o a conduzir seu rebanho através da traiçoeira Trilha Chisholm, Tom prova que está disposto a arriscar tudo para alcançar seu destino... bem como sua própria sanidade. Duração: 136 minutos

21/08: Era uma vez no oeste (Sergio Leone, 1968)
Uma das maiores obras primas do cinema. Em virtude das terras que possuía serem futuramente a rota da estrada de ferro, um pai e todos os filhos são brutalmente assassinados por um matador profissional. Entretanto, ninguém sabia que ele, viúvo há seis anos, tinha se casado com um prostituta de Nova Orleans, que passa ser a dona do local e recebe a proteção de um hábil atirador, que tem contas a ajustar com o frio matador. Duração: 168 minutos

28/08: Os Imperdoáveis (Clint Eastwood, 1992)
Bill Munny, um pistoleiro aposentado, volta ativa quando lhe oferecem 1000 dólares para matar os homens que cortaram o rosto de uma prostituta. Neste serviço dois outros pistoleiros o acompanham e eles precisam se confrontar com um inglês, que também deseja a recompensa e um xerife, que não deseja tumulto em sua cidade. Duração: 133 minutos

Cartaz Programação Agosto 2010