sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Curso de vídeo produção e cinema

A Secretaria Municipal de Turismo e Lazer e o Centro Cultural de Botucatu (CCB), promoverão entre os dias 08 e 20 de dezembro o curso "Vídeo Produção e Cinema" com o cineasta José Renato Scorssato, frequentador do Cine Clube Ybitu Katu. O curso é gratuito e os interessados já podem se inscrever na sede do CCB, Praça XV de Novembro, 30 (ao lado do Cine Neli). Maiores informações podem ser obtidas através do telefone (14) 3815-0989.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

29/11 - Os Idiotas

Os idiotas. Dir.: Lars von Trier. Duração:115 minutos.

Sinopse
Um grupo de jovens intelectualizado decide viver como "idiotas" como forma de protesto à sociedade atual. Eles fazem isso invadindo o mundo real e fingindo-se de retardados mentais, com o objetivo de anarquizar os lugares por onde passam e de chocar as instituições burguesas. Os idiotas é o segundo filme realizado dentro das dez regras do Dogma 95 e concorreu à Palma de Ouro em Cannes em 1998. Além disso, alguns atores foram vencedores de prêmios individuais em diversos festivais internacionais.

Veja aqui o trailer.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Biografia - Lars von Trier

Lars von Trier nasceu em 1956, na cidade de Copenhague na Dinamarca, em uma família de intelectuais em que, segundo ele, apenas a religião e as emoções eram proibidas. Com aproximadamente 10 anos de idade, Trier começou a se interessar pelo cinema ao ter contato com uma câmera super 8mm que sua mãe possuía. Nela, criou inúmeras curtas amadores onde retratava o mundo a sua volta, experimentando e inventando suas próprias técnicas.

Nos anos 70, dentro de um grupo de diretores de cinema amadores, Trier elaborou dois curtas independentes: “The Orchid Gardener” e “Menthe - la bienheureuse”. Porém, foi anos mais tarde, com sua entrada na Escola Dinamarquesa de Cinema, que o diretor pode de fato explorar tudo o que o cinema da época oferecia. Lá, seu fascínio pelos equipamentos pode ser bastante explorado e expresso em filmes que o destacaram dentro das produções acadêmicas.

Os principais produtos lançados por Trier nesse período foram os filmes de curta metragem “Nocturne” (1980) e “Liberation Pictures” (1982) que, de acordo com ele são exemplos das experimentações técnicas que ele buscava na época.

Após concluir o curso de cinema, Trier lançou seu primeiro filme de longa metragem,“Elemento do Crime” (1984), no qual deixou claro que ainda mantinha grande atenção às questões técnicas. O roteiro, escrito por ele, conta uma história de suspense policial passada na Europa, cheia de simbolismos, e retratada por imagens que criam um clima de frieza e estranhamento do começo ao fim da história. Seus enquadramentos, luzes e efeitos especiais eram milimetricamente sobrepostos a fim de obter o que o diretor desejava, e com o resultado final Trier conquistou o Prêmio Técnico no Festival de Cannes, juntamente com o reconhecimento inicial do público e da crítica.

Em 1987, Trier lançou o filme “Epidemia” onde, com uma produção mais modesta, mas não menos provocativa, apresentou um roteiro metalingüístico. Nele dois roteiristas, interpretados pelo próprio Trier e seu co-roterista Niels Vorsel, elaboram às pressas a história de um filme de suspense sobre uma epidemia que devastava certo continente. A imagem final do filme ainda demonstra a atenção que o diretor dedicava ao tratamento das imagens, mas a falta de recurso da produção fez com que já sejam percebidas pequenas inserções da câmera de mão, e enquadramentos mais livres, ambas características que Trier viria explorar amplamente mais tarde.

O filme “Epidemia” não alcançou o reconhecimento de seu antecessor, entretanto, em 1991, Trier voltou a chamar a atenção de Cannes com o longa-metragem “Europa”. No filme, que se passa na Alemanha Pós Segunda Guerra Mundial, uma trama de suspense e romance se desenrola em meio à produção técnica que o próprio Trier definiu como o ápice de sua obsessão por controle da imagem. Por essa produção, o diretor recebeu no Festival de Cannes de 1991 o Grande Prêmio do Júri e o Prêmio de Melhor Contribuição Artística.

Elemento do Crime, Epidemia e Europa formam a Trilogia Europa ou a Trilogia Hipnótica, já que a hipnose é um tema que permeia estes três filmes. Estes filmes vinham apresentando uma composição visual complexa, carregada de simbologias e elementos que os classificavam, muitas vezes, como produtos demasiadamente calculados e frios. Trier alega que esse fator dificultava até mesmo seu convívio com os atores, pois, até aquele momento, eles funcionavam apenas como peças de xadrez que ele movimentava a fim de chegar às imagens que queria, e pouco podiam opinar.

Ele percebeu, então, que não se sentia completamente satisfeito com essa forma de trabalho, pois, quando seguia todas as suas propostas técnicas, e seus storyboards com afinco, sempre lhe parecia que algo era perdido durante as gravações. Passou a procurar uma nova forma de trabalho, em que pudesse oferecer maior liberdade aos atores, e assim obter resultados mais emotivos e interessantes.

Em 1994, Trier dirigiu para a televisão dinamarquesa a minissérie de terror e humor negro “O Reino”, que já indicava grandes mudanças nas suas técnicas de filmagem. Ela mostrava o dia-a-dia de um hospital onde inúmeros fenômenos paranormais e assombrações aparecem e, Trier, a retratou através de uma imagem granulada e escura, dando o clima e o destaque aos personagens e suas tramas bizarras. Grande parte das seqüências eram gravadas com a câmera de mão, os cortes da montagem eram secos e a iluminação original mantida. O resultado cru era exatamente o que a série precisava, e o sucesso foi tão grande que mais tarde Trier dirigiu “O Reino II”, com novos episódios, e os lançou editados em um longa-metragem de 4 horas exibido em festivais de cinema por todo o mundo.

Em 1996, Trier trouxe às telas o drama romântico “Ondas do Destino”. Este foi o primeiro filme da trilogia “Coração de Ouro” a ser lançado, e se baseava em um conto de fadas dinamarquês de mesmo nome que fez parte da infância de Trier. No conto, uma menina se sacrifica para ajudar os outros acima de tudo, sem pensar em si própria. Por esse filme, Trier recebeu inúmeros prêmios, inclusive o grande Prêmio de Cannes em 1996.

Em 1998, o diretor lançou o filme “Os Idiotas”, segundo filme da trilogia “Coração de Ouro”, e seu primeiro fiel ao Manifesto Dogma 95, que havia criado com Thomas Vintenberg em 1995. Com um roteiro provocante, Trier mais uma vez estarreceu o público e a crítica mostrando que sua proposta dentro dos dez mandamentos do movimento poderia, de fato, resultar em uma história interessante e coesa. Ele alegou que essa forma de trabalho só é possível, pois ele, desde o começo, sempre se mantém fiel a seus roteiros, incluindo nos filmes apenas algumas poucas cenas interessantes que forem improvisadas pelos atores no set.

Dançando no Escuro”, o último filme de sua trilogia “Coração de Ouro”, foi lançado em 2000 e, contrariando as expectativas dos críticos, não seguia aos rígidos mandamentos do Dogma 95. O filme contava um musical dramático e, Trier, afirmando que cada um de seus trabalhos pede sua própria estética, nesse caso chegou a usar até 100 câmeras fixas simultaneamente para captar variados ângulos das cenas cantadas. Mesmo com essa excentricidade, o diretor em nenhum momento perdeu seu enfoque no conteúdo.

No roteiro, a personagem Selma, vivida por Björk, é uma imigrante tcheca que mora nos EUA, está perdendo a visão e trabalha para conseguir dinheiro e operar seu filho que tem, por hereditariedade, a mesma doença. Diante dessa situação, a inocente personagem, apaixonada pelos clássicos musicais americanos, se abstrai de sua vida sofrida sonhando com as cores e sons dos mesmos. Nos momentos em que são retratadas as cenas da vida da personagem, a câmera de mão, as imagens tremidas e os cortes secos bastante presentes na obra de van Trier, criando um clima próprio de grande frieza para aquela realidade. Entretanto, no mundo de sonhos, todos os ângulos das cenas de dança transbordam cores aos olhos dos expectadores, que sentem o alívio momentâneo da personagem, e saem compenetrados do mundo apagado de Selma.

Esse filme foi considerado por muitos um dos mais dramáticos já feitos, pois com sua proposta de closes, personagens carismáticos e regras de dinâmica claramente estabelecidas, Trier acabou levando novamente o público a se envolver de uma maneira muito profunda com a trama. “Dançando no Escuro”, aclamado pela crítica, recebeu o prêmio de maior prestígio do Festival de Cannes: a Palma de Ouro.

Por retratar a vida da personagem nos EUA, sem nunca ter estado nesse país, Trier recebeu duras críticas da mídia. Alegou que sua vida, assim como a de grande parte das pessoas do mundo, é composta em 70% por elementos difundidos pela cultura americana, e por isso não temia apresentar em seu filme uma faceta dessa sociedade, acreditando que essa só se tornaria mais interessante por possuir as características e erros da visão de um estrangeiro.

Em 2003, Trier, que se disse tentado pelos críticos, lançou mais um filme cujo roteiro se passa nos EUA: “Dogville”. Novamente se propondo novas regras, o diretor criou o conceito que chamou de “filme fusão”, onde uniu elementos da linguagem da literatura, do cinema e do teatro. Para criar o conceito principal do filme, afirmou ter se inspirado no “teatro épico” de Brecht.

Aplicado em Dogville, o conceito de "teatro épico" ofereceu grande destaque à trama, pois Trier chegou ao ápice de remover todo o cenário e apenas demarcar o chão com a planta da cidade em que os personagens convivem, inserindo poucos móveis e luzes cenográficas. O público, diante disso, tem um estranhamento inicial por visualizar apenas atores abrindo portas imaginárias, e as ações de pessoas que supostamente estão em outros ambientes, mas que aparecem a todo o momento por não haver paredes no local. Contudo, após alguns momentos, toda aquela cidade claramente se remonta na mente de cada um que a visualiza, e a trama passa a ser acompanhada de perto, sem os desvios de atenção que os cenários podem provocar.

“Dogville”, primeiro filme da trilogia “EUA - Terra das oportunidades”, conta uma história dramática sobre vingança, em que o diretor discute friamente aspectos da formação das sociedades, suas relações e mazelas. Cada vez mais caricatos, seus personagens são expostos ao público de forma íntima, criando um vínculo com o mesmo que, se hipnotiza pelo jogo de quebra de paradoxos técnicos e morais, e desaba geralmente em uma sensação subversiva. Essa experiência pode ser agradável para alguns, e causar repúdio a outros, mas de um modo geral atinge o objetivo do diretor de provocar a reflexão diante da história.

Diferente de suas seqüências de filmes anteriores, na trilogia “EUA” os filmes são realmente continuações de uma mesma história, sendo que o segundo filme “Manderlay” foi lançado em 2005.

O último filme da trilogia, com o nome previsto como “Washington”, ainda não foi lançado e, segundo Trier, só será feito no momento em que ele estiver interessado em gravá-lo. Isso porque o diretor, que diz ter passado sempre por problemas emocionais, tem reduzido sua carga de trabalho devido a uma crise de depressão.

Desde 1991, von Trier trabalha em um projeto chamado “Dimension”, estrelado por seu amigo Udo Kier. Todo ano, durante o período natalino, Lars roda 3 minutos do filme em um local diferente da Europa. O cineasta planeja terminar o filme em “2024”.

Crítica - Os idiotas


por Samir Thomaz

Uma mulher de meia-idade entra num restaurante, pede um prato barato e água mineral. Enquanto ela come, um rapaz loiro, com tiques de deficiente mental, anda pelo ambiente, importunando clientes e deixando o garçom atônito. A mulher o observa. O rapaz se aproxima e segura sua mão.

Percebendo o problema do rapaz, esboça um sorriso e se deixa tocar. A moça loira que o acompanha pede desculpas pelo incômodo. A mulher sorri novamente. Sem largar a mão da estranha, o rapaz a pede para que o acompanhe. A moça loira o repreende. Mas a mulher se deixa levar. Diante da situação, o garçom permite que saiam sem pagar. Na calçada do restaurante, tomam um táxi. Só então o rapaz solta a mão da mulher. Dentro do carro, ele, a moça loira e outro amigo explodem numa gargalhada. Ali, a farsa é descoberta.

Os Idiotas (Idioterne, Dinamarca, 1998), de Lars Von Trier, é um aprendizado. Não no sentido edificante; pelo contrário, no sentido subversivo. Em cada cena, em cada diálogo, faísca a centelha da transgressão. No entanto, o diretor não facilita o caminho. O filme exige perseverança e olhos bem abertos para enxergar o outro.
Von Trier faz de Os Idiotas a pedra angular de uma radical proposta de se fazer cinema. O movimento trepidante das câmeras, a ausência de trilha sonora e de iluminação, a imagem granulada, as falhas de continuidade – expedientes preconizados pelo Dogma 95, do qual o diretor é o principal artífice – tudo concorre para instaurar na trama a atmosfera de permanente ruptura.

Com pouca linha na agulha (o filme teve baixíssimo orçamento), o diretor transgride as ordenadas estáveis do establishment no que ele tem de mais precioso: sua crença na normalidade das convenções. Resulta daí uma história contundente, legítima representante do cinema que se propõe não a mexer em feridas, mas em abri-las, desprezando o aparato tecnológico.

A história mostra um grupo (Stoffer, Suzanne, Katrine, Axel, Henrik, Josephine, Jeppe, Nanna, Miguel, Ped e Karen), que decide se isolar para cultivar o idiota que há dentro de cada um. Ser um idiota, no contexto subversivo que o filme instaura, consiste em comportar-se como um débil mental para ver a reação da sociedade. Em bom português: surtar.

Eles saem em grupo e se revezam em performances convincentes. Não há quem desconfie da farsa. Em alguns momentos, chegam a flertar com o perigo, como na cena em que Jeppe se aproxima de motoqueiros num bar e simula curiosidade pelas tatuagens desenhadas em seus braços. Eles se sensibilizam com Jeppe, uma reação recorrente no filme, e lhe oferecem cerveja. Jeppe se senta com o grupo e consegue que dois dos homens o acompanhem até o banheiro.

Sob o pretexto de incapacidade mental, faz os motoqueiros abrirem seu zíper e colocarem seu pênis para fora para poder urinar. Jeppe segura a performance com a frieza de um psicopata e os dois homens nada percebem.

Durante uma dessas encenações, Karen se agrega ao grupo. Com o passar dos dias ela se deixa ficar, como uma pessoa sem passado. Contenta-se em observar as pessoas e, aos poucos, afeiçoa-se a elas. Sua alegria por estar ali é própria de quem está no limite do desespero e se apegaria a qualquer coisa para não pensar em si. Nesse momento, Karen se erige como a consciência do público, a única a agir pelo senso comum, embora uma aura de mistério paire sobre seus motivos para estar com o grupo.

Quanto aos outros componentes, aos poucos revelam assumir tal postura como uma crítica à hipocrisia que enxergam na sociedade. Desta crítica extraem a catarse de que necessitam para manter intacto o equilíbrio emocional.

Rebeldes sem causa, confrontam-se com a pouca consistência da vontade de romper o elo com o passado, mas não a assumem. No fundo, sabem que poderão valer-se do salvo-conduto de sua condição de burgueses. A crítica aos valores do capitalismo, aliás, pontua toda a trama. Num diálogo, Stoffer diz não se importar que Axel esteja quebrando o alpendre da casa, porque "o alpendre é uma bobagem burguesa".

Talvez como punição inconsciente, ou disciplina, o grupo estabelece regras para serem considerados verdadeiros idiotas, última e desesperada tentativa de auto-afirmação. A principal delas dispunha que cada um voltasse ao seu contexto original (casa, bairro, empresa, escola) e agisse como um retardado mental. Esse seria o rito de passagem após o qual alguém poderia se tornar um membro do grupo. Ou seja, um idiota.

O resultado é traumático. Apenas Karen, que se juntara ao grupo por acaso, leva essas regras às últimas conseqüências. Os demais sucumbem ao peso da consciência, tradição, apego às conveniências da vida burguesa, medo ou inconsistência de seus próprios objetivos. E, como se verá, apenas Karen carrega dentro de si uma verdadeira tragédia.

O tema de Os Idiotas não é novo. Trata-se do já razoavelmente explorado tema do outsider na sociedade, prato cheio para antropólogos e sociólogos. O que Von Trier traz de novidade, além das regras de seu controvertido Dogma, é o tom de provocação que permeia todos os filmes do movimento, como Festa em família, de Thomas Vinterberg. Enfim, Os idiotas é uma mistura de cinismo e niilismo, na qual Von Trier carrega nas tintas para fazer pensar. E faz.


segunda-feira, 10 de novembro de 2008

22/11 - O rei está vivo

O rei está vivo - Dir.: Kristian Levring. Duração: 105 minutos.

Inibições, fúrias, descontroles e uma série de outras sensações são filmadas com um fascínio invisível que prende até ao fim. Isto só resulta porque todos os atores têm interpretações tão fortes que até se estremece. São atores que vão até ao fim.
-Rui Pedro Tendinha, Notícias Magazine


Sinopse
Um ônibus quebra no do deserto africano (Namíbia), deixando seus passageiros se abrigando em meio às ruínas de uma cidade abandonada. A solidão, a ansiedade e o desespero colocam uma estranha idéia na cabeça de um homem: será possível encenar "O Rei Lear" no deserto? À medida que o salvamento se torna cada vez menos provável e as reservas de água e comida começam a escassear, infiltram-se tensões emocionais, sexuais e raciais nas relações, comparáveis às da peça. Despojados de todas as inibições, a sua luta individual pela sobrevivência, leva-os a desempenhar o último papel perante os outros membros do grupo - a sua própria vida. E quando o homem luta pela sobrevivência pode tornar-se um monstro. Vencedor do Júri Estudantil do Brothers Manaki International Film Festival em 2001 e prêmio de Melhor Atriz para Jennifer Jason Leigh no Tokyo International Film Festival no ano de 2000.

Biografia - Kristian Levring

Nascido na Dinamarca em 1957, Kristian Levring. Estudou na Escola Nacional de Cinema de Dinamarca, e complementou sua formação como cineasta vivendo oito anos na França. Após ter editado e produzido um grande número de documentários e longas-metragem, estréia como diretor em 1988, com o filme "Et skud fra hjertet". Em 1995, associa-se a Lars Von Trier (Os Idiotas), Thomas Vinterberg (Festa de Família) e Sorn Kragh-Jacobson (Mifune) no manifesto Dogma 95 e lança o que seria o seu mais famoso e premiado filme "O Rei está vivo". Em 2002, volta à direção com o filme "The intended" e em 2008 retorna com "Den du frygter" que concorreu a concha de ouro do Festival de Cinema de Sán Sebastian na Espanha.

Crítica - O rei está vivo

por Jotakapa

Um filme que se limita formalmente para se concentrar no que se pretende essencial - a história e as representações, pressuposto comum aos outros filmes do manifesto Dogma 95. E se os "mandamentos dogmáticos" são na realidade um espartilho formal, possibilitam por outro lado uma aposta inequívoca no argumento e no trabalho dos actores. Dir-se-ia que se está em territórios algures entre o teatro filmado e o falso documentário.

"O Rei está vivo", apesar de me parecer um pouco inferior a "A Festa" e "Os Idiotas", mostra-se um filme deveras interessante, algo chocante, mas sempre fértil. Encena uma situação de difícil cabimento no nosso quotidiano para melhor estudar os comportamentos humanos, os seus limites e a sua natureza.

Não pude evitar - fecunda coincidência! - pensar no "Big Brother" televisivo, a propósito deste filme. E pensei o quão pequeninos são os horizontes do programa no seu propósito de laboratório humano quando comparados com o cinema e o seu poder maior de nos dar a ver coisas muito próximas da experiência directa, densa e complexa.

É impressionante observar como, na grande maioria das personagens, o lento caminho para o desespero leva a expulsarem aquilo que têm de pior, de mais egoísta e de mais feio enquanto seres humanos. Perspicaz, a personagem talvez mais humana (o pseudo-encenador do Rei Lear) refere-se à redutibilidade animal de cada um dos seus companheiros, antecipando a luta feroz pela sobrevivência, física, mas muito mais mental. As tensões entre as personagens vão gerando o triste strip-tease da essência humana, criando divisão onde se exigia união e egoísmo onde se exigia solidariedade.

Independentemente do seu desequilíbrio narrativo e dos seus altos e baixos emocionais e interpretativos, é justo destacar o mérito deste filme em suscitar, primeiro, a autoreflexão e, depois, a discussão mais ou menos acesa de um tema tão fascinante quanto o das relações humanas.

Botucatuense vence o Festival do Minuto

O botucatuense, cineasta e frequentador do Cine Clube, José Renato Arena Scorssato, venceu na última terça-feira o Festival do Minuto, um festival de vídeos de apenas um minuto. O filme chama-se "Mãonológo" e, retratando o mundo por uma mesa, a ganância por uma toalha amarela e utilizando apenas as mãos dos atores, trata da trajetória do dinheiro entre vários tipos de pessoas. Como prêmio, o cineasta receberá R$ 1 mil reais, que será divido entre a equipe de produção (Júlio de Carvalho e Luciano Fabris) e os cinco atores da Quadrilha Teatral Notívagos Burlescos que participaram do vídeo. As filmagens ocorreram no Centro Cultural de Botucatu, durante duas noites, resultando num total de cinquenta minutos de imagem, que editadas, resultaram no vídeo de um minuto. No bimestre anterior, produzindo o vídeo "Melodraminha" do colega Marcelo Dorsa, ele já havia vencido este festival. Além disso este ano, Renato Scorssato, ficou em segundo lugar no festival de cinema da UNESPAR (Universidade Estadual do Paraná), onde estuda, com o vídeo "Santuccilânida". Em abril, ele também exibiu o documentário "Estação Fantasma" no Centro Cultural de Botucatu, produção que mostra o abandono da estação da extinta FEPASA, sob a ótica de um ferroviário aposentado.

Veja aqui o vídeo "Mãonológo".

Maiores informaçãoes: Festival do Minuto.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

08/11 - Italiano para principiantes


Italiano para principiantes - Dir: Lone Scherfig. Duração: 97 min.

Sinopse
Andreas, um jovem padre viúvo, chega aos subúrbios de Copenhaguen para substituir o pároco local. JØrgen Mortensen é um recepcionista de hotel com problemas amorosos e frequenta o curso de italiano. Olympia é uma rapariga charmosa, apesar de muito desajeitada, que sonha em inscrever-se no curso de italiano. Apaixona-se por Andreas e no funeral da mãe descobre que é irmã de Karen, uma cabeleireira que se apaixona por Finn, empregado de mesa mas, quando é despedido, torna-se professor no curso de italiano. Giulia é uma italiana, colega de Finn no restaurante, e tem uma pequena paixão por JØrgen Mortensen. O curso de italiano vai funcionar para estas personagens frágeis e solitárias como uma espécie de catalisador que as conduzirá ao encontro do amor, vivido à típica maneira italiana. Italiano para principiantes é o décimo segundo filme do movimento Dogma 95 e recebeu 20 premiações, entre elas o Urso de Prata de Berlim em 2001.

Veja aqui o trailler.

Biografia - Lone Scherfig

Esta diretora dinamarquesa nascida em Copenhaguen (02/05/1959) foi a primeira mulher a receber o certificado Dogma 95.
Filmografia:

Direção:
Meu irmão quer se matar (2002)
Italiano para principiantes (2000)

Roteirista:
Marcas da vida (2006)
Meu irmão quer se matar (2002)
Italiano para principiantes (2000)

Crítica - Italiano para principiantes

Italiano para principiantes
Por Marcelo Silva Costa

Italiano para Principiantes é o 12º filme do movimento "Dogma 95" e o quinto a chegar no Brasil (a saber, os outros foram: "Os Idiotas", "Festa de Família", "Mifune" e "O Rei Está Vivo"). O movimento Dogma 95 é um decálogo em que, em dez mandamentos, alguns diretores (Lars Von Trier, Thomas Vinterberg, entre outros) ditam algumas regras para se fazer cinema. Ou para se voltar a fazer cinema. Uma olhadela nas dez regras do Dogma 95 percebemos que, mais do que qualquer coisa, o Dogma 95 é uma volta a simplicidade cinematográfica.

É lógico que para funcionar como manifesto, Dogma 95 teria de chamar a atenção do público/crítica para uma nova/velha forma de se ver cinema. A atitude, claro, veio embalada nos radicais primeiros filmes do movimento. Atitude aliada a marketing, estamos no século XXI, baby.

A radicalização imposta aos primeiros filmes não existe em "Italiano para Principiantes" ("Italienski for Begyndere" - 2000), e isso é totalmente positivo. Lone Scherfig, a diretora, usa dos dez mandamentos do movimento para criar uma comédia romântica leve, bem-humorada e de happy end.

Uma jovem cabelereira (Karen), um grosseiro ex-jogador de futebol (Halvfinn), uma desastrada confeiteira (Olympia), um pastor perdido espiritualmente (Andreas), um recepcionista de hotel (Jorgen) e uma cozinheira italiana (Giulia) tem seus destinos cruzados em uma aula de italiano promovida pela prefeitura da cidade. A aula, gratuita, é uma saída que cada uma dessas pessoas comuns encontraram para fugir do marasmo da vida solitária que levam. A história se passa em Copenhague, na Dinarmaca, e a imagem de uma Itália romântica (o desfecho acontece em Veneza) seduz o grupo de alunos.

Cada personagem carrega, sobre os ombros, uma série de problemas, totalmente humanos, desses que eu ou você poderíamos ter. Essa fraqueza pessoal gera uma visível insegurança. Assim, uma mãe alcoólatra, um homem impotente, uma mulher desastrada, pessoas comuns sofrendo problemas comuns, acabam tornando infeliz a vida de cada membro desse grupo.

E nessa simplicidade de roteiro, Scherfig leva o espectador a passear com os personagens nessa história intimista, entre o dolorido e o divertido. Funciona como conto de fadas moderno, onde o bailar em Veneza é o toque da fada-madrinha sobre os ombros dos personagens. Funciona como comédia romântica leve que envolve o espectador ganhando sorrisos ao final. E, principalmente, mostra que o movimento Dogma 95 não é tão cheio de arestas como se pregava. E, é bom variar encontros românticos com socos e pontátes, convenhamos.

Lone Scherfig foi a primeira mulher a realizar uma filme seguindo o Dogma 95. Sua obra ganhou o Urso de Prata em Berlin/2001. E, dos dez preceitos do movimento, só quebrou um, talvez, o mais importante no quesito "punk" da história: o décimo. Mas ela deve ser perdoada. O filme vale esse perdão.