segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

31/01 - Persépolis

Persépolis - Direção: Marjane Satrapi e Vincent Parannoaud. Duração: 95 minutos

Sinopse
Animação baseada nos quadrinhos autobiográficos da iraniana Marjane Satrapi. A história se inicia com Marjane aos nove anos, com o início da Revolução Islâmica. Através de seus olhos, nós vemos as esperanças da população serem frustradas enquanto os fundamentalistas tomam o poder, forçando as mulheres a se cobrirem e prendendo milhares de cidadãos. Durante a Revolução Islâmica, ela começa a descobrir que está chegando à maturidade e deve lidar com mais responsabildades - não só de seus atos, mas no modo de pensar. Persépolis foi indicado ao Oscar de melhor longa de animação em 2008 e ganhou alguns prêmios importantes, como o conferido pelo júri do Festival de Cannes; o de melhor animação pela Associação de Críticos de Los Angeles e pela Associação de Críticos de Nova York; o de Liberdade de Expressão pelo National Board of Review dos Estados Unidos (associação de críticos daquele país); prêmio da audiência como Melhor Filme Estrangeiro no Festival Internacional de Cinema de São Paulo; além dos prêmios de Filme Mais Popular no Festival Internacional de Cinema de Vancouver; prêmio especial do júri no Festival Internacional de Cinema Cinemanila, nas Filipinas; o “Sutherland Trophy” do Instituto Britânico de Cinema. Além disso, Persépolis ganhou quatro prêmios do festival do Annie Awards, o "Oscar da animação": melhor animação, melhor direção, melhor roteiro e melhor música.

Assista aqui ao trailer.

Biografia - Marjane Satrapi

Marjane Satrapi nasceu em Rasht no Irã em 22 de novembro de 1969. Quando tinha nove anos, testemunha a queda do Xá, o início da Revolução Islâmica e a guerra com Iraque, sofrendo com as grandes transformações de costumes e relações sociais do Irã. Com a ditadura religiosa imposta no Irã, Marjane vai à Viena, onde mora durante quatro anos e depois retorna ao Irã, onde cursa artes plásticas na Universidade de Teerã e retorna à Europa, morando em Paris aonde trabalha como artista plástica. Em 200o começa a publicar Persepolis, uma série de quatro livros de história em quadrinhos, autobiográficos, narrando desde a sua infância, a história, os costumes, as relações familiares e sociais no Irã no período de 1978 até os anos 90. Além da história de seu país, Marji nos conta a história que muitas crianças e jovens viveram nos anos 80 e 90, com toda a busca por liberdade e os gostos culturais desta época. Devido ao grande sucesso, Persepolis, foi traduzido em vinte línguas e adaptado para o cinema, com a própria Marjane Satrapi na direção com o apoio do francês Vincent Paronnaud. No Brasil, os quatros livros que compõem Persépolis foram pulicados em um único volume pela editora Companhia das Letras.

Entrevista de Marjane Satrapi ao G1 notícias após a estréia de Persépolis no festival de Cannes em 2007.


"Diziam que estava usando símbolos da 'decadência ocidental'"

Em entrevista ao G1, quadrinista Marjane Satrapi fala da infância no Irã.
Adaptação de 'Persépolis' para o cinema estreou em Cannes.

Flávia Guerra Especial para o G1, em Cannes

Marjane Satrapi é, como reza a fama das iranianas, uma linda mulher. Distante do visual pasteurizado que divas de Hollywood (e suas imitadoras) exibem em Cannes, a quadrinista e diretora da animação “Persépolis” tem 39 anos, os lindos olhos puxados do Oriente, sobrancelhas fortes e cabelos negros sobre os ombros – beleza esta que passou muito tempo escondida sob o sagrado véu islâmico.

O Irã não era assim até a chegada da Revolução Islâmica, no final dos anos 70. Marjane era uma menina que viu seus tios serem presos, amigos de bairro virarem ora mártires ora inimigos, sua cidade ser bombardeada e destruída. Na adolescência, teve os direitos de ir, vir e escutar o que bem entendesse proibidos em nome de Deus. O pai dela, liberal que era, chegou a montar um verdadeiro esquema de fabricação de vinho em casa.

Vida e obra de Marjane se confudem em “Persépolis”, única animação a concorrer à Palma de Ouro nesta edição do Festival de Cinema de Cannes. Em entrevista exclusiva ao G1, ela mostra que não perdeu a ternura, mas passou por uma leve endurecida depois de tantas provações.


G1 - Voce não teme represálias contra a sua família, que ainda mora no Irã?
Marjane Satrapi -
Da minha família falo pouco. Tudo o que posso dizer é que eles ainda moram no Irã e estão ótimos. Eles têm se comportado muito bem e tenho certeza que serão protegidos. Eu não tenho medo. Sei que estou contando a minha história. Nao sou como você, jornalista, que tem compromisso com a verdade. Eu tenho o compromisso de contar a minha verdade, [do modo] mais real que posso.

G1 – E os quadrinhos foram a melhor forma de fazer isso?
Marjane -
Exatamente. Pode parecer irônico criar uma realidade em quadrinhos para contar a realidade do meu país, mas é isso, sim. Eu sempre amei desenhos e descobri neles a melhor forma de contar minha historia.

G1 - Quais foram suas principais influências?
Marjane -
Eu li de tudo, vi de tudo, escutei de tudo, do movimento punk a Abba, de Bee Gees a Pink Floyd. Eu gosto dos mestres dos quadrinhos e sempre comprava quando podia, mas não vou destacar nenhum em especial porque foram muitos que me influenciaram.

G1 - E esse mergulho na cultura pop se deu quando, na adolescência, você foi morar em Viena?
Marjane -
Sim e não. No Irã, eu já comprava [fitas] cassetes do Iron Maiden no mercado negro. Pode parecer piada, mas é a mais pura verdade: para se comprar um simples tênis era toda uma operação. Eu pintava eu mesma minhas jaquetas com frases do tipo “Punk is not ded (com erro mesmo, em vez de ‘dead’). E isso me custou várias broncas das bedéis islâmicas. Diziam que eu estava usando os símbolos da “decadência ocidental”, o que não deixava de ser verdade. Mas a liberdade de cada um usar o que se quer é, para mim, irrefutável.

G1 - Mas esta cultura pop não ameaca a preservação da cultura nacional entre os jovens?

Marjane - Sim e não. Acredito que, se um país tem sua cultura de base muito bem fundamentada, ele pode se abrir para o que de melhor há nas outras culturas sem perder a sua. Acho que é um balanço de tudo. Eu estudei em uma escola francesa a vida toda, mas jamas deixei de ser iraniana. Eu ainda sinto muita saudade de casa. Moro em Paris. mas, como minha avó me dizia, procuro nunca perder minha integridade.

G1 - Você tem planos de continuar a carreira e a saga de “Persépolis” no cinema?
Marjane -
Sim, claro! Mas não posso te adiantar mais nada. Quando tiver novidades, conto. E espero que os brasileiros possam ver “Persépolis” no cinema. Tenho muita vontade de conhecer seu país.

Crítica - Persépolis


por Pablo Villaça do site especializado www.cinemaemcena.com.br


Persépolis é uma animação que inclui estupro, morte de manifestantes em uma passeata, execução de presos políticos e uma conversa entre Deus e Marx. Não é, portanto, um filme feito para crianças, mas sim para adolescentes e adultos – e, ao lado das maravilhas criadas pelos japoneses Satoshi Kon e Hayao Miyazaki, serve para ilustrar como uma técnica historicamente associada a filmes infantis vem criando obras que representam o que de melhor o Cinema mundial tem oferecido ao público mais maduro (e que, em minha opinião, tem em O Túmulo dos Vagalumes, de Isao Takahata, seu representante máximo).


Adaptado e dirigido por Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi a partir da graphic novel autobiográfica (dividida em quatro volumes) escrita por esta última, Persépolis segue a trajetória de amadurecimento de sua protagonista a partir de seu relacionamento conturbado com seu país, o Irã, cuja história mais recente é recapitulada numa maravilhosa seqüência estrelada por bonecos de papel, quando vemos o futuro Xá Reza Pahlavi entregar o petróleo de seu país à Inglaterra em troca do apoio para subir ao poder – o que não impediu que ele fosse eventualmente substituído pelo filho ainda mais repressor. E é assim que chegamos a 1979, quando a pequena Marjane, aos 9 anos de idade, testemunha o golpe que levaria o Aiatolá Khomeini ao controle da recém-declarada (com apoio da população) República Islâmica – o que conduziria o Irã a um estado ainda maior de repressão e medo, além de uma longa e sangrenta guerra com o Iraque de Saddam Hussein.


Narrado a partir do infantil ponto de vista da protagonista, o filme acompanha todos estes acontecimentos com um ar de mistério e até fantasia que os tornam ainda mais assustadores, embora a incapacidade da garota de absorver a gravidade de tudo permita que ela também os enxergue de forma distanciada, através de um véu de ingenuidade que traz até mesmo um forte e bem-vindo senso de humor à narrativa. Assim, a preferência de Marjane por representantes da música ocidental, proibida no Irã, levam a divertidas buscas de fitas no mercado negro e a confrontos que beiram o absurdo graças à sua jaqueta que traz uma afirmação hilária naquele contexto. E se fiz Persépolis parecer uma obra séria e sombria nos parágrafos anteriores, perdoem-me, pois o fato é que o longa jamais deixa de provocar o riso graças à sua abordagem sempre inventiva.


Construído com claras influências expressionistas (em certo momento, há uma referência especialmente eficaz a “O Grito”, de Munch), o filme investe num preto-e-branco marcante – e mesmo as cenas ambientadas no presente são coloridas em tons nada intensos. Da mesma maneira, o design de produção contribui para que mergulhemos na realidade entristecida e opressora de um país que encontra, na repressão, uma maneira cruel de manter-se estável: observem, por exemplo, a penitenciária que abriga os presos políticos ou o angustiante plano que revela a solidão de Marjane através das sombras que cercam o telefone que esta usa para uma ligação para casa. E não há como negar a genialidade da cena em que os combatentes de ambos os lados de uma batalha trocam tiros que já os derrubam na vala comum que os separa.


Aliás, Persépolis é particularmente inteligente ao adotar estratégias visuais que ilustram a violência da guerra e da repressão sem que, com isso, se torne excessivamente gráfico, como demonstram as seqüências que revelam apenas as silhuetas de manifestantes em confronto com o exército. Esta inventividade se aplica, também, aos momentos de maior leveza da narrativa, como ao retratar as mudanças físicas sofridas por Marjane na adolescência e, particularmente, ao apresentar seu primeiro grande amor ao público: do carro flutuante ao corrimão cuja base remete a dezenas de corações, a seqüência consegue ilustrar algo mais complexo do que meros incidentes do roteiro, servindo para mergulhar o espectador no universo emocional da personagem – algo que atinge seu ápice na cena em que seu namorado traga um cigarro cuja fumaça é expelida pela protagonista, representando a união máxima do casal. E se o estado de espírito da garota em um instante de depressão é representado pela poltrona cujo encosto remete claramente a uma lápide, a transição temporal no terceiro ato é igualmente brilhante, sendo alcançada através de uma imperceptível fusão diante da entrada do aeroporto Orly.


Fascinante estudo de personagem que não romantiza sua protagonista apenas por esta ser também a autora do texto original, Persépolis acompanha Marjane enquanto esta foge do fundamentalismo islâmico apenas para cair no fundamentalismo católico – e, ao renegar (mesmo que quase inconscientemente) suas origens e sua religião, ela trai tudo aquilo pelo qual seus antepassados aceitaram morrer enquanto defendiam. Torturada pela culpa que enxerga na futilidade de sua vida na Europa enquanto seus parentes sofrem na guerra, ela se entrega a uma rotina de clara auto-punição – e não deixa de ser curioso que, ainda hoje, Satrapi pareça não perceber suas motivações inconscientes para aquele comportamento, já que o roteiro atribui sua degradação a uma frustração romântica quando esta claramente foi apenas a gota final de um processo que se iniciou no momento em que ela viu a mãe desmaiar de tristeza por ter que dar adeus à filha. Por outro lado, Marjane demonstra uma compreensão exemplar das conseqüências morais de uma vida sob uma ditadura impiedosa: aos poucos, os cidadão se vêem compelidos a abandonar suas convicções e até mesmo seu compasso moral, trocando a consciência pela segurança provisória.


Enriquecido pela maravilhosa dublagem da pequena Gabrielle Lopes, que empresta sua voz à versão infantil de Marjane, Persépolis também conta com um elenco de peso que traz Chiara Mastroianni como a protagonista na adolescência e em sua fase adulta; Catherine Deneuve como sua mãe; e a veterana Danielle Darrieux no papel da divertida, sensata, forte e cativante avó da menina. Aliás, esta escalação torna-se ainda mais eficaz graças à ligação existente entre as atrizes, já que Chiara é realmente filha de Deneuve (e seu sobrenome vem do pai, Marcello). Como se isto não bastasse, Darrieux interpretou a mãe de Deneuve em Duas Garotas Românticas, dirigido pelo casal Jacques Demy e Agnès Varda em 1967. Mais apropriado, impossível.

Um dos melhores filmes de 2007, Persépolis é uma obra historicamente abrangente e psicologicamente complexa, o que não a impede também de ser simultaneamente engraçada e profundamente tocante.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

24/01 - O castelo animado

O castelo animado - Direção: Hayao Miyazaki. Duração: 119 minutos

Sinopse
Sofia é uma jovem de 18 anos que trabalha na chapelaria de seu pai. Em uma de suas raras idas à cidade ela conhece Hauru, um mágico bastante sedutor mas de caráter duvidoso. Ao confundir a relação existente entre eles, uma feiticeira lança sobre Sofia uma maldição que faz com que ela tenha 90 anos. Desesperada, Sofia foge e termina por encontrar o Castelo Animado de Hauru. Escondendo sua identidade, ela consegue ser contratada para realizar serviços domésticos no local, se envolvendo com os demais moradores do castelo.

Assista aqui ao trailer.

Biografia - Hayao Miyazaki


O japonês Hayao Miyazaki (05/01/1941 é um dos mais famosos e respeitados criadores do cinema de animação japonesa, alcançando sucesso e reconhecimento em todo o mundo. Iniciou sua carreira em 1963 trabalhando para a Toei Animation, produzindo seu primeiro longa metragem Watchdog Bow Wow. Produziu um grande número de mangás, animes,e séries de TV até 1983, quando começou a se dedicar exclusivamente aos longas metragens. Graças ao grande sucesso do mangá Nausicaä of the Valley of the Wind, Hayao Miyazaki em parceria com Isao Takahata, funda o seu próprio estúdio de animação, o Estúdio Ghibli, no qual ele viria a produzir as suas mais premiadas e reconhecidas animações. Após o lançamento de Princesa Mononoke em 1997, anuncia sua aposentadoria, mas retorna em 2002 para dirigir A Viagem de Chihiro, filme com o qual recebe o Oscar de melhor longa-metragem animado de 2003. Depois de A Viagem de Chihiro, Miyazaki ainda dirige O castelo animado e o seu trabalho mais recente, Ponyo on the Cliff by the Sea (Ponyo no Penhasco à Beira do Mar), lançado no Japão em 2008, com previsão de ser lançado no Brasil em abril de 2009.


Filmes produzidos no Estúdio Ghibli:

1984: Nausicaä do vale dos ventos
1986: Laputa: castle in sky
1988: Meu vizinho Totoro
1989: O Serviço de Entregas de Kiki
1992: Porco Rosso - o último herói romântico
1997: A Princesa Mononoke
2001: A Viagem de Chihiro
2004: O castelo animado

domingo, 18 de janeiro de 2009

Crítica - O castelo animado


por Flávio Augusto do site especializado www.cineplayers.com

Enquanto as animações ocidentais aparecem cada vez mais sofisticadas, com efeitos de computação gráfica que deixam o público indeciso quanto ao estúdio mais competente, o diretor Hayao Miyazaki e o Studio Ghibli não trocam por nada seu estilo de animação. Os traços transparentes e inconfundíveis permanecem, mesclando-se perfeitamente com detalhes computadorizados, em cenários deliciosos que estúdio ocidental nenhum poderia imaginar.

Desta vez, Miyazaki optou por transportar às telas uma história já existente, um livro da britânica Diana Wynne Jones, que, tendo sido aluna de mestres como J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis, acrescenta às suas obras o teor ideal de fantasia. O livro conta a história de Sophie, uma jovem que vive numa cidade industrial, de formato claramente europeu, e leva uma vida ordinária em sua chapelaria. Sua rotina muda completamente quando uma bruxa vem visitá-la, lançando sobre ela um feitiço que a transforma numa velha senhora de 90 anos.

A partir daí, Miyazaki atrela seu estilo à obra original. Sophie foge de casa e procura outro abrigo, acabando por encontrar o castelo que dá título ao filme, onde conhece o demônio de fogo Calcifer, o garoto Markl e o próprio dono do castelo, Howl. Enquanto procura a relação existente entre Howl, Calcifer e as guerras que eclodem a todo momento, Sophie imerge num mundo inimaginável e absolutamente fantástico, tendo que lidar com as armadilhas do caráter humano e seus desdobramentos. A premissa criada por Diane Wynne Jones permanece; o que Miyazaki faz é retocá-la, adicionando e modificando elementos que se complementam. No final, é como se o filme e o livro fossem extensões de si mesmos.

As comparações com A Viagem de Chihiro são inevitáveis, por ter sido este o ápice da expressão artística de Miyazaki. Chihiro sintetiza todo o estilo do diretor, toda sua filosofia de trabalho e também seu modo de expressão. Por isso mostra-se um filme visivelmente chocante e metafórico, munido de produção artística atordoante. O Castelo Animado é menos arrebatador, como que uma retomada de fôlego após tanto estardalhaço visual. Ainda assim, Miyazaki não abandonou sua melhor arma – as cores – e coloriu cenários e personagens até não poder mais. O melhor de tudo – e mais surpreendente – é que o visual fervescente não cansa, nem enjoa, talvez porque a preocupação de Miyazaki não seja colorir apenas para agradar.

Os traços delicados e ainda assim veementes, a leveza do desenho e as metáforas visuais são apenas um anestésico, se comparados à inventividade da animação. As personagens, inclusive animais e seres inanimados, têm seus próprios conflitos e amadurecem durante a película, moldando características e personalidade. A maldição de Sophie, transformar-se numa velha de 90 anos, acaba por se tornar num aprendizado, e ela aprende que a vida é proveitosa em qualquer idade.

O Castelo Animado, bem como a maioria dos desenhos feitos pelo Studio Ghibli, é um filme inegavelmente adulto, apenas disfarçado como diversão infantil. É através deste disfarce, inclusive, que Miyazaki lembra ao espectador comum a importância do sonho e da imaginação, porque o próprio Miyazaki, ao que parece, não cessará seus sonhos tão cedo.


domingo, 11 de janeiro de 2009

17/01 - As Bicicletas de Belleville

As Bicicletas de Belleville - Direção: Sylvain Chomet. Dur.: 78 minutos.

Sinopse
Madame Souza é uma velhinha portuguesa cujas ânsias estão dirigidas única e exclusivamente a seu neto, a princípio um garoto rechonchudo e melancólico. Primeiramente, ela lhe compra um cachorro, que acaba por preencher o vazio na vida do menino – o animal, porém, é logo esquecido, sendo substituído por uma bicicleta. A partir de então, o rapaz cresce e torna-se aficionado por ciclismo, uma paixão amplamente apoiada – e estimulada – por Madame Souza. Quando surgem notícias de que haverá um campeonato de ciclismo, o jovem não pensa duas vezes: logo começa a se preparar. Porém, é lá, no circuito tão esperado, que a confusão tem início, ao ter seu neto seqüestrado. Madame Souza parte em uma aventura bastante surreal cheia de referências ao nosso mundo, referências a outras obras cinematográficas e muita crítica ao modo de vida atual.

Assita aqui ao trailer.

Biografia - Sylvain Chomet


O francês Sylvain CHomet nasceu em Paris em 10 de novembro de 1963, em Maisons-Laffitte. é formado em arte e começou a trabalhar com animações em 1988. Dirigiu seu primeiro curta metragem "La Vieille dame et les pigeons" em 1998, que foi indicado ao Oscar de melhor curta animado e vencedor da mesma categoria no Angers European First Film Festival. Seu primeiro longa, "As Bicicletas de Belleville" foi indicado ao Oscar de melhor longa de animação e melhor canção original pela música "Belleville Rendez-Vous". Participou da produção de "Paris, Eu te Amo" diringindo o segmento "Tour Eiffel".

sábado, 10 de janeiro de 2009

Crítica - As Bicicletas de Belleville


por Pablo Villaça do site especializado www.cinemaemcena.com.br

Na maior parte das vezes, assim que acabo de assistir a um filme considero-me preparado para escrever sobre o que vi: posso até ter perdido um detalhe ou outro, mas nada que comprometa o quadro geral. Por outro lado, ocasionalmente me deparo com um projeto como As Bicicletas de Belleville e descubro-me incapaz de redigir uma única linha antes de vê-lo mais uma ou duas vezes. A sensação, que poderia ser frustrante (principalmente por impedir, ao menos temporariamente, que eu realize meu trabalho), acaba se revelando desafiadora – talvez seja assim que um matemático se sinta ao atacar um problema particularmente complexo.

Não que eu tivesse alguma dúvida sobre se havia gostado ou não do filme; era apenas uma questão de `quanto` e `por quê`. Dirigido pelo francês Sylvain Chomet, As Bicicletas de Belleville não é uma produção que se destaca por seu roteiro, mas sim por seu visual absolutamente arrebatador, que consegue contar a história e desenvolver os personagens sem precisar de uma trama definida ou sequer de diálogos - ver seus protagonistas em movimento é o bastante para que o espectador aprenda tudo o que precisa sobre estes: suas fraquezas, suas metas e, principalmente, suas personalidades.

Tomemos, como exemplo, a heroína da história, Madame Souza, uma velhinha portuguesa que, pequena e aparentemente frágil, possui uma força física surpreendente que reflete justamente sua inabalável determinação. Responsável pela criação do neto tristonho, com quem leva uma vida silenciosa e entediante, a personagem faz de tudo para descobrir algo que possa alegrá-lo: sua primeira tentativa é presenteá-lo com um cachorro, que logo é esquecido e se torna mais um deprimido integrante da família; e, em seguida, com uma bicicleta, que, apesar de não servir realmente para trazer alegria ao menino, ao menos lhe oferece um passatempo que, anos depois, se transforma em uma ocupação em tempo integral, já que ele se transforma em um atleta (tendo a avó como treinadora e preparadora física).

Sem contar com diálogos (há apenas uma ou duas falas ao longo de toda a projeção), As Bicicletas de Belleville mergulha o espectador em um universo bizarro que, mesmo em meio à melancolia de suas cores e cenários, consegue fazer rir através do absurdo. Os fãs de animação, por exemplo, certamente reconhecerão a influência dos traços expressionistas de Chuck Jones (como o próprio ciclista, com sua imensa musculatura) e, é claro, o estilo inconfundível das gags visuais de Tex Avery (como na seqüência em que vemos Fred Astaire ser engolido por seus sapatos e Django Reinhardt tocar violão com os pés). Além disso, o apuro técnico de Chomet é responsável por várias seqüências plasticamente maravilhosas, como no plano em que vemos a luz atravessando as nuvens durante um temporal.

Mas acho que estou passando uma idéia errada sobre o filme, apresentando-o apenas como um prazer `intelectual`, cult. Então permitam que eu desfaça esta impressão (apesar de ter certeza de que este longa se transformará, sim, em um verdadeiro objeto de adoração por parte de um grande número de pessoas): As Bicicletas de Belleville é uma produção engraçada que também pode ser vista como um bom passatempo: seu humor bizarro e por vezes cruel inclui seqüências surpreendentes, como aquela em que vemos várias mulheres obesas saindo de carros pequenos enquanto arrastam seus maridos como se estes fossem pequenas bolsas (e, para elas, são mesmo); e outra na qual uma velhinha caça sapos em um brejo utilizando granadas.

Ainda assim, devo fazer a mesma ressalva que fiz ao escrever sobre A Viagem de Chihiro: este não é um filme para crianças: o mundo concebido por Chomet é, em vários momentos, assustador e gráfico, como na cena em que Madame Souza visita um velho prédio habitado por prostitutas decadentes e cujos sanitários se encontram abarrotados de fezes humanas. Vale observar, também, que a Belleville apresentada pelo cineasta funciona como uma visão ácida da sociedade consumista norte-americana, com seus cidadãos obesos e suas onipresentes lanchonetes de fast food (até mesmo a `Estátua da Liberdade` aparece gorda e segurando um imenso sorvete).

Por outro lado, o preguiçoso cachorrinho Bruno revela-se encantador, embora esteja longe de ser mais um `animalzinho engraçadinho` das animações - seu carisma não é conseqüência de um visual bonitinho ou de suas gracinhas, mas sim de sua personalidade: quando filhote, Bruno teve a cauda atropelada pelo trenzinho elétrico de seu dono e, traumatizado pela experiência, passa a vida esperando pelos momentos em que pode latir para os vagões que passam ao lado de sua casa (sua obsessão é tamanha que acaba invadindo seus sonhos). Porém, é claro que Chomet não poupa o personagem de seu humor impiedoso, encontrando várias maneiras de submetê-lo a diversas humilhações (com destaque para a seqüência em que Madame Souza descobre uma maneira inovadora de consertar um pneu furado).

As Bicicletas de Belleville é, de fato, um filme inesquecível. E, se precisei assistir a esta animação três vezes somente para poder escrever esta análise, não posso sequer imaginar quantas vezes voltarei a vê-la somente pelo prazer de visitar novamente a impressionante criação de Sylvain Chomet.

Observação: não deixe de conferir a pequena cena que surge após os créditos, e que conclui uma das piadas presentes no filme.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Janeiro: Animações de todo o mundo

O Cine Clube Ybitu Katu retorna no dia 17 de janeiro com o tema "Animações de todo o mundo", tema este que será trabalhado ao longo dos meses de janeiro e fevereiro. Através de filmes recheados de poesia e lirismo, diretores de diversos países vêm produzindo premiadas animações que se afastam do público infantil e encantam os adultos, muitas vezes apresentando e discutindo questões da natureza humana e problemas socias e políticos de seus países.
O Cine Clube Ybitu Katu exibe:
17/01: As Bicicletas de Beleville - Sylvian Chomet (2003) - França
24/01: O castelo animado - Hayao Miyazaki (2004) - Japão
31/01: Persépolis - Vincent Parannaud & Marjane Satrapi (2007) - Irã
07/02: Waking life - Richard Linklater (2007) - Estados Unidos
14/02: O rei e o pássaro - Paul Grimault (1980) - França

Depois do dia 14/02, por conta do carnaval, o cine clube retornará no dia 07 de março, mês em que serão exibidos filmes do consagrado e inesquecível diretor inglês Charles Chaplin.

Encerramento do curso de audiovisual

No dia 23 de dezembro, ocorreu o encerramento do curso de audiovisual ministrado pelo cineasta José Renato Scorssato durante os dias 08 e 19 de dezembro, que contou com indispensável apoio da Secretária de Turismo e Lazer, Lucia Peduti e do presidente do Centro Cultural de Botucatu, João Carlos Figueroa.
Durante a celebração, foram entregues os certificados aos quase quarenta participantes do curso e exibidos algumas pequenas filmagens de alguns participantes, que em breve estarão disponíveis no YouTube para que todos possamos ver. Clicando aqui, você poderá ver um trecho da festa, com as falas de João Carlos Figueroa e de José Renato Scorssato. E clicando aqui, você poderá entrar no blog do Centro Cultural de Botucatu e ver as fotos do evento, além de fotos e notícias das outras atividades do Centro Cultural.