Enquanto as animações ocidentais aparecem cada vez mais sofisticadas, com efeitos de computação gráfica que deixam o público indeciso quanto ao estúdio mais competente, o diretor Hayao Miyazaki e o Studio Ghibli não trocam por nada seu estilo de animação. Os traços transparentes e inconfundíveis permanecem, mesclando-se perfeitamente com detalhes computadorizados, em cenários deliciosos que estúdio ocidental nenhum poderia imaginar.
Desta vez, Miyazaki optou por transportar às telas uma história já existente, um livro da britânica Diana Wynne Jones, que, tendo sido aluna de mestres como J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis, acrescenta às suas obras o teor ideal de fantasia. O livro conta a história de Sophie, uma jovem que vive numa cidade industrial, de formato claramente europeu, e leva uma vida ordinária em sua chapelaria. Sua rotina muda completamente quando uma bruxa vem visitá-la, lançando sobre ela um feitiço que a transforma numa velha senhora de 90 anos.
A partir daí, Miyazaki atrela seu estilo à obra original. Sophie foge de casa e procura outro abrigo, acabando por encontrar o castelo que dá título ao filme, onde conhece o demônio de fogo Calcifer, o garoto Markl e o próprio dono do castelo, Howl. Enquanto procura a relação existente entre Howl, Calcifer e as guerras que eclodem a todo momento, Sophie imerge num mundo inimaginável e absolutamente fantástico, tendo que lidar com as armadilhas do caráter humano e seus desdobramentos. A premissa criada por Diane Wynne Jones permanece; o que Miyazaki faz é retocá-la, adicionando e modificando elementos que se complementam. No final, é como se o filme e o livro fossem extensões de si mesmos.
As comparações com A Viagem de Chihiro são inevitáveis, por ter sido este o ápice da expressão artística de Miyazaki. Chihiro sintetiza todo o estilo do diretor, toda sua filosofia de trabalho e também seu modo de expressão. Por isso mostra-se um filme visivelmente chocante e metafórico, munido de produção artística atordoante. O Castelo Animado é menos arrebatador, como que uma retomada de fôlego após tanto estardalhaço visual. Ainda assim, Miyazaki não abandonou sua melhor arma – as cores – e coloriu cenários e personagens até não poder mais. O melhor de tudo – e mais surpreendente – é que o visual fervescente não cansa, nem enjoa, talvez porque a preocupação de Miyazaki não seja colorir apenas para agradar.
Os traços delicados e ainda assim veementes, a leveza do desenho e as metáforas visuais são apenas um anestésico, se comparados à inventividade da animação. As personagens, inclusive animais e seres inanimados, têm seus próprios conflitos e amadurecem durante a película, moldando características e personalidade. A maldição de Sophie, transformar-se numa velha de 90 anos, acaba por se tornar num aprendizado, e ela aprende que a vida é proveitosa em qualquer idade.
O Castelo Animado, bem como a maioria dos desenhos feitos pelo Studio Ghibli, é um filme inegavelmente adulto, apenas disfarçado como diversão infantil. É através deste disfarce, inclusive, que Miyazaki lembra ao espectador comum a importância do sonho e da imaginação, porque o próprio Miyazaki, ao que parece, não cessará seus sonhos tão cedo.
2 comentários:
muito bom o blog...e tbm o cineclube!
mas acho q vcs poderiam colocar os prêmios q os filmes receberam!
pelo menos esse não vi nada escrito
Olá! Costumamos colocar os prêmios dos filmes que recebem na maioria dos casos. Omitimos apenas alguns festivais menores.
No caso do O castelo Animado vc tem razão, acabamos por esquecer de listar os prêmios.
Muito obrigado pelo toque.
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Abraços.
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