sábado, 22 de setembro de 2012
22/09: Marcas da Violência (David Cronenberg, 2005)
sábado, 8 de setembro de 2012
08/09: Gêmeos - Mórbida Semelhança (David Cronenberg, 1988)
sábado, 1 de setembro de 2012
01/09: Videodrome (David Cronenberg, 1983)
sábado, 25 de agosto de 2012
25/08: Código Desconhecido (Michael Haneke, 2000)
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
11/08: Cópia Fiel (Abbas Kiarostami, 2010)
Crítica: Cópia Fiel (Abbas Kiarostami, 2010)
sábado, 4 de agosto de 2012
04/08: Elles (Malgorzata Szumowska, 2011)
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Programação Agosto de 2012: Juliette Binoche
sábado, 28 de julho de 2012
28/07 - Euphoria (Ivan Vyrypayev, 2006)
sexta-feira, 6 de julho de 2012
07/07 - Stalker (Andrey Tarkovsky, 1979)
Sinopse: Ninguém sabe explicar como surgiu "A Zona", um lugar estranho, cercado por soldados e arame farpado. Muitos tentam entrar, pois acreditam que lá dentro encontrarão um local onde os desejos secretos de cada um se tornam realidade. Mas apenas alguns marginais conhecidos como “stalkers”, dotados com poderes telepáticos, sabem evitar as armadilhas espalhadas e penetrar nesta zona. Um deles conduz um cientista e um escritor que querem desvendar o mistério, mas a aproximação terá de ser cautelosa. Duração: 163 minutos
Crítica: Stalker (Andrey Tarkovsky, 1979)
Programação Julho 2012: Cinema Russo: Dos tempos de URSS à Russia Contemporânea
O Cine Clube Ybitu Katu exibe:
07/07 - Stalker (Andrey Tarkovsky, 1979)
Sinopse: Ninguém sabe explicar como surgiu "A Zona", um lugar estranho, cercado por soldados e arame farpado. Muitos tentam entrar, pois acreditam que lá dentro encontrarão um local onde os desejos secretos de cada um se tornam realidade. Mas apenas alguns marginais conhecidos como “stalkers”, dotados com poderes telepáticos, sabem evitar as armadilhas espalhadas e penetrar nesta zona. Um deles conduz um cientista e um escritor que querem desvendar o mistério, mas a aproximação terá de ser cautelosa. Duração: 163 minutos
21/07 - Fausto (Aleksandr Sokurov, 2011)
Fausto é um pensador, rebelde e pioneiro, mas também um ser humano anônimo feito de carne e sangue, governado por impulsos internos, cobiça e luxúria. Última parte da tetralogia de Sokurov sobre a natureza do poder, o filme é livremente inspirado no conto Fausto, de Goethe.Duração: 134 minutos.
28/07 - Euphoria (Ivan Vyrypayev, 2006)
Em alguma região inóspita da Rússia, Vera e Pasha trocam olhares em uma festa de casamento. Vera é casada com Valeri e tem uma filha pequena, o que não impede Pasha de procurá-la para esclarecer por qual motivo trocaram olhares naquele dia. É quando uma mordida de cachorro abruptamente transforma a vida de todos. Duração: 71 minutos.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
26/05: Viajo porque preciso, volto porque te amo (Karim Ainouz e Marcelo Gomes, 2009)
Crítica: Viajo porque preciso, volto porque te amo (Karim Ainouz e Marcelo Gomes, 2009)
sexta-feira, 11 de maio de 2012
12/05: Casanova e a Revolução (Ettore Scola, 1982)
Crítica: Casanova e a Revolução (Ettore Scola, 1982)
Extraído de http://www.ensaiosababelados.com.br/casanova-e-a-revolucao/
sexta-feira, 4 de maio de 2012
05/04: Qué tan lejos (Tania Hermida, 2006)
Crítica: A nova era do cinema do Equador
Cinema produzido no Equador? O que era raro, agora pode se tornar freqüente. Pelo menos é o que pretende a cineasta Tania Hermida, que estreou na direção de longas-metragens com “Qué Tan Lejos” (2006), exibido na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e durante o II Festival de Cinema Latino-Americano, também realizado na capital paulista.
E, para alcançar esse objetivo, ela está envolvida, como candidata na lista do governo Rafael Correa, no processo de votação para a Assembléia Constituinte, que irá ocorrer no final de setembro. “Trata-se de uma tarefa nova e complicada, pelo fato de eu estar representando todo um setor da cultura que quer uma transformação profunda na gestão cultural do país”, afirma Hermida, que esteve em São Paulo para o II Festival de Cinema Latino-Americano.
Por meio de reformas, ela espera criar mais campos de trabalho para os novos profissionais audiovisuais. Também professora de cinema da Universidade San Francisco de Quito, capital do Equador, Hermida confessa que tem sido muito interessante assistir ao “nascimento” da cinematografia equatoriana. E ela, também, se surpreende.
Sucesso inesperado
“Qué Tan Lejos” foi considerado um fenômeno em seu país. Além de ter estreado em 14 salas -algo que nunca havia ocorrido com nenhum filme equatoriano-, ficou seis meses em cartaz e levou cerca de 200 mil pessoas ao cinema (o Equador tem 13,2 milhões de habitantes). Inclusive, de acordo com Hermida, em muitas salas, o filme obteve mais público que as produções norte-americanas. “Os números mostraram que os equatorianos querem se ver nas telas dos cinemas”, diz. O filme também foi bem recebido no exterior.
Filmado em cinco semanas, “Qué Tan Lejos” se caracteriza como um “road movie”, assim como “Família Rodante”, do argentino Pablo Trapero, e “Diários de Motocicleta”, do brasileiro Walter Salles. Na história, a estudante equatoriana Tristeza (Celilia Vallejo) e a turista espanhola Esperanza (Tania Martinez) se encontram casualmente em um ônibus que se dirige à cidade de Cuenca. Devido a uma rebelião da população indígena (que representa 40% dos habitantes do país), o transporte rodoviário é interrompido, e elas decidem pegar carona na estrada, mesmo sendo difícil, para chegar ao destino final.
“Sempre quis fazer um filme em que a geografia (os Andes e a costa do Pacífico), que moldou quem eu sou hoje, fosse também um personagem importante”, afirma Hermida. “Desde criança, viajo muito, dentro e fora de meu país, e este 'estar em viagem' me dá a sensação de ser o momento mais fértil para a aprendizagem, porque te obriga a colocar em dúvida todas as suas certezas.”
Ao longo da trajetória, as duas personagens perdem suas idéias feitas sobre o país e se vêem livres de tudo que consideravam importante ou indispensáveis para elas mesmas. “No final da viagem, elas estão 'vazias' e, ao mesmo tempo, prontas para começar a viver outra vez”, conta Hermida. A diretora, aliás, costuma comparar a vida das protagonistas com o atual momento do Equador, “que está em crise e em processo de reinvenção.” No ano passado, o país elegeu como presidente o professor e economista Rafael Correa, de esquerda, alinhado com Hugo Chávez e Evo Morales.
Outra característica marcante de "Qué Tan Lejos" é o antagonismo entre os equatorianos e a turista espanhola, que acha tudo belo, exótico e misterioso no país. Em um dos primeiros diálogos do filme, entre a turista e um taxista, este relembra a história colonial e critica os espanhóis pela exploração das riquezas equatorianas.
Para Hermida, pelo fato de o Equador ser um país jovem, as referências à conquista espanhola ainda são freqüentes. “Acontece que temos que entender que somos frutos desse processo, que foi destrutivo e construtivo”, explica. A Espanha também se faz presente no cotidiano equatoriano pelo fato de ainda representar o “sonho europeu”.
Fazer cinema é um luxo?
Entre 1980 e 2005, somente 12 longas equatorianos em 35 mm foram produzidos. Para Hermida, isso ocorreu devido à lógica neoliberal, vigente durante aqueles anos, para a qual tudo que não é rentável devia ser ignorado pelo país. “Além disso, imperava a idéia de que fazer cinema era um luxo, que só teríamos direito de produzir algo depois de o Equador solucionar a pobreza e a corrupção, considerados problemas mais urgentes.”
A chegada (e o sucesso) de “Qué Tan Lejos” aos cinemas marca um esforço dos realizadores locais. Em 2006, a criação do Conselho Nacional de Cinematografia (CNCINE), primeira entidade pública para a gestão da iniciativa audiovisual do Equador, permitiu a realização de novas produções.
“Foi um feito histórico, uma vez que foi resultado da iniciativa dos próprios cineastas”, diz Hermida. De acordo com Rafael Barriga, crítico de cinema, realizador e diretor de programação do Ocho y Medio, o principal cinema independente do país, em entrevista ao site LaLatina, neste ano, há dois outros longas de ficção em 35 mm prontos no Equador para entrar em cartaz.
Entre outros objetivos, o CNCINE é responsável pela formação e especialização de profissionais, promoção e difusão de filmes e criação de festivais, que acabam sendo importantes ferramentas para a exibição de longas locais e de países vizinhos, como o Brasil, Argentina e Paraguai, por exemplo.
“Eu só consegui assistir aos filmes ‘Dois Filhos de Francisco’ e ‘Cheiro do Ralo’ em festivais. No Equador, há somente cinco salas -uma pública e quatro privadas- onde podem ser vistas produções mais independentes ou que não sejam hollywoodianos”, lamenta a diretora.
De qualquer maneira, Hermida, principalmente devido às mudanças sociais e políticas em seu país, mantém as esperanças. Se o cinema equatoriano já nasceu, ela aguarda agora o seu crescimento.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Programação Cine Clube Ybitu Katu - Maio de 2012: Road Movies
12/05: Casanova e a Revolução (Ettore Scola, 1982) - Itália
19/05: NÃO HAVERÁ SESSÃO EM DECORRÊNCIA DA VIRADA CULTURAL EM BOTUCATU
26/09: Viajo Porque Preciso Volto Porque Te Amo (Karim Ainouz, 2009) - Brasil
sábado, 28 de abril de 2012
28/04: À Leste de Bucareste (Corneliu Porumboiu, 2006)
Crítica: A agonia romena dos últimos dias de Ceausescu: À Leste de Bucareste (Corneliu Porumboiu, 2006)
sábado, 21 de abril de 2012
21/04: Katalin Varga (Peter Strickland, 2009)
Crítica: Katalin Varga (Peter Strickland, 2009)
Depois de uma leva de filmes romenos urbanos, com preocupações frequentemente associadas ao fim do comunismo, como os premiados À Leste de Bucareste e 4 Meses, 3 Semanas, 2 dias, pra ficar em dois que chegaram ao nosso circuito comercial, eis que surge esse corpo estranho que é Katalin Varga, resgatando o que a Romênia rural tem de mais atemporal, mal-assombrada. Não é a Romênia dos vampiros, mas há fantasmas por todo lado.
Um desses fantasmas assombra a personagem-título. Katalin Varga (Hilda Péter) está sendo expulsa de casa pelo marido, porque um segredo seu, de anos atrás, chegou aos ouvidos de todo o vilarejo. Ela mal tem tempo de se despedir - junta algumas roupas, coloca o filho sobre a carroça e pega a estrada. Katalin diz ao menino que eles vão para a casa da avó, que está doente, mas logo descobrimos que o destino dos dois é outro.
Durante boa parte do filme o roteirista e diretor inglês Peter Strickland nos esconde o tal segredo. Mas pela forma como filma a viagem da mulher, com o som desenhado para amplificar os menores barulhos, dá a entender que o ambiente (e a forma como o homem interage com esse ambiente) tem parte de culpa nessa história. Sinos de gado, trote de cavalo, um regato, o vento, o barulho da carroça, sons de inseto, tudo contribui para o tormento de Katalin Varga, como se Terrence Malick filmasse uma história de Cormac McCarthy.
Se o uso do som não é muito sutil em alguns momentos, Strickland compensa com a criação de um competente universo bucólico de fantasmagoria. Não por acaso, o acerto de contas de Katalin começa ao redor de uma fogueira, com uma dança acelerada que parece se passar nos portões do inferno. Quando o diretor finalmente nos conta em detalhes o tal segredo da mulher, ela está sentada numa canoa em movimento, e a paisagem turva ao fundo adiciona vertigem a essa viagem no tempo a que somos submetidos. Para um estreante, Strickland faz um trabalho bastante seguro. A menção a McCarthy não é gratuita - as narrativas sangrentas do escritor têm a mesma preocupação com a descrição de pequenas coisas que a câmera do diretor tem para eleger planos-detalhes. Ele não vitimiza Katalin além da conta (ela não perde o sono, por assim dizer, como mostra o filme) e reúne religiosidade, selvageria e memória em um combinado forte. É um cineasta a acompanhar.
sexta-feira, 6 de abril de 2012
07/04: 4 meses, 3 semanas, 2 dias (Cristian Mungiu, 2007)
Em 1987, nos últimos dias do comunismo, Otilia (Anamaria Marinca) e Gabita (Laura Vasiliu) dividem um quarto num dormitório estudantil. Elas são colegas de classe na universidade de uma pequena cidade romena. Gabita está grávida e o aborto é ilegal no país. Otilia aluga um quarto num hotel barato. Lá elas recebem um certo Sr. Bebe (Vlad Ivanov) , chamado para resolver a questão. Mas, ao saber que Gabita está com a gravidez mais adiantada do que havia informado, Sr. Bebe aumenta as exigências para o serviço. Ele cobra um preço que as duas não estão preparadas para pagar. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano de 2007. Duração: 113 minutos
Crítica: 4 meses, 3 semanas, 2 dias (Cristian Mungiu, 2007)
Filmes que ganham a mais prestigiosa láurea do cinema de autor – a Palma de Ouro no Festival de Cannes – conquistam, também, a responsabilidade de ter que satisfazer a enorme expectativa criada instantaneamente na comunidade cinéfila internacional. Não é uma tarefa fácil. Do ponto de vista do espectador, encarar um longa-metragem premiado em Cannes significa estar frente a frente com um candidato a obra-prima. Pois bem: jogando no lixo todo o aparato estético disponível para apegar-se apenas a uma narrativa crua e muito bem construída, “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” (4 Luni, 3 Saptamani si 2 Zile, Romênia, 2007) sacia todas as expectativas, e vai além.
A rigor, Cristian Mungiu fez um filme-irmão do sensacional “A Morte do Sr. Lazarescu” (2005), obra responsável por lançar os holofotes do mundo cinéfilo em direção à minúscula Romênia. Ou seja, fechou um ciclo vitorioso. Graças à exposição gerada pelo filme de Gabriel Puiu (que ganhou a mostra paralela Um Certain Regard em Cannes 2005), o cinema barato e despojado produzido no país do leste europeu conquistou o respeito e a admiração de Cannes, tendo outras obras premiadas por lá (“Como Comemorei o Fim do Mundo”, “A Leste de Bucareste” e “Califórnia Dreaming”). A Palma de Ouro atribuída a “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” coroa esta etapa do cinema romeno. É um troféu que valoriza tanto o filme em si quanto toda a cinematografia do país.
Afinal de contas, o cinema romeno contemporâneo é um movimento articulado e coletivo, como foi o Dogma 95 na Dinamarca (aliás, movimento que lançou um manifesto estético de onde os filmes da Romênia bebem bastante). Os longas produzidos por lá dividem muitas características. A estética é minimalista, crua e despojada, que aparenta desleixo técnico mas tem grande rigor formal: longas tomadas sem cortes, câmera na mão, luz natural e som direto, exclusivamente diegético (ruídos cuja origem está dentro do espaço cênico). Não há música para indicar o que o espectador deve sentir. É um cinema visceral, que quebra intencionalmente diversas regras da gramática cinematográfica clássica, mas o faz com a autoridade de quem sabe que isto é necessário para gerar uma resposta emocional verídica na platéia.
Observe, por exemplo, a longa cena do jantar, em que a câmera permanece parada, focalizando com clareza o desconforto de Otilia (Anamaria Marinca, maravilhosa) diante da situação indesejada. Por longos minutos, enquanto ela permanece estática e impaciente, as pessoas que a rodeiam na mesa conversam despreocupadamente, sem perceber o drama que se desenrola na cabeça da garota – e que nós, a platéia, conhecemos bem, porque estávamos com ela antes. Vários participantes da conversa permanecem fora do quadro quando falam, algo inimaginável em um filme de Hollywood. Só que o diretor Cristian Mungiu sabe o que faz. Ao se recusar a desviar o olhar do rosto de Otilia, ele cria uma tensão e uma angústia crescentes do espectador. Este rigor formal ajuda a platéia a compartilhar a assustadora situação vivida por Otilia e Gabita (Laura Vasiliu, ótima), as duas personagens principais.
As duas moças estão na faixa dos 20 anos e dividem um quarto numa república de estudantes em Bucareste. Como todo estudante, elas não têm grana. A ação se passa em 1987, nos últimos anos da ditadura comunista de Nicolau Ceaucescu, quando produtos ocidentais como cigarros e chicletes só podiam ser encontrados no atuante e caríssimo mercado negro. A história, narrada quase em tempo real, tem semelhanças claras com a contada em “A Morte do Sr. Lazarescu”. Uma das meninas está grávida e deseja se submeter a um aborto ilegal, que só pode ser realizado num hotel vagabundo e por um médico asqueroso (Vlad Ivanov, assustador), que não hesita em tirar proveito da condição de desespero das mulheres. A longa seqüência que reúne os três personagens dentro do hotel é um primor de direção. Mungiu escolhe sabiamente cada posição de câmera, mostrando e deixando de mostrar na medida exata, e consegue criar um instante cinematográfico de fortíssimo impacto emocional.
Também roteirista, Cristian Mungiu escreveu o roteiro do filme em apenas um mês, baseado em uma história verídica que ouviu enquanto era estudante. Durante as filmagens, realizadas ao custo ínfimo de US$ 600 mil, ele se permitiu realizar diversas alterações, cortando e cortando cada vez mais diálogos, de modo a sugerir mais do que explicitar (e note como isto funciona perfeitamente, como na cena em que Otilia suborna sutilmente a atendente de um hotel com uma carteira de cigarros, sem jamais pronunciar uma única palavra sobre o “presente”). A verdade é que há muito talento escondido atrás do trabalho técnico aparentemente desleixado – a fotografia de Oleg Mutu é excepcional, com composições precisas e de clareza narrativa, mesmo sob condições difíceis de iluminação.
O que temos aqui, de fato, é o caso clássico da estética que serve à narrativa. O despojamento técnico ajuda a desnudar por completo a essência do filme: uma história pequena, humana, narrada com grau razoável de distanciamento emocional, com muito respeito à dor e aos sentimentos dos personagens. Como todos os filmes contemporâneos feitos na Romênia, a obra de Cristian Mungiu conta histórias genuinamente humanas de gente miúda, com um grau de naturalismo espantoso, reforçado pelo espetacular elenco jovem e desconhecido. É por tudo isso que “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” sacia as expectativas dos cinéfilos atentos e se configura como um dos grandes filmes de 2007.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Crítica: O pequeno grande cinema da Romênia
Extraído de http://www.revistacinetica.com.br/romenia.htm
O cinema romeno carrega as contradições e os paradoxos comuns aos personagens e situações dos poucos (e premiados) filmes produzidos nos últimos anos no país. Para o padrão europeu de produção, o da Romênia é miúra: pouco mais (ou menos) de uma dezena de filmes produzidos por ano; um circuito com pouco (ou menos) de uma centena de salas; um instituto estatal de cinema cujos financiamentos não são especificados em valores – embora se fale em orçamentos médios de 500 mil euros – e onde as informações sobre a produção nacional são praticamente inexistentes – sem dados sobre quantidade de filmes produzidos, dinheiro investido, formas de investimento e público dos filmes produzidos ano a ano.
Embora tenha vivido um período de transição de regime econômico e político nos anos 90, como de resto todo o Leste Europeu e a Rússia, a Romênia parece ainda lidar com o cinema como se estivesse fora do capitalismo cinematográfico. Em um cenário desses, sem mercado, sem estatísticas, sem a cultura do cinema, com salas de exibição pouco disputadas por espectadores, e diretores fazendo comerciais para sobreviver, nem ter seus filmes premiados em Cannes, como tem acontecido com alguns dos filmes romenos recentes, permite fechar sua conta em casa: é preciso viabilizar o comércio da exibição em outros países. Os prêmios em Cannes, nesse sentido, são a senha do cofre. Esses filmes podem não ser sucessos de bilheteria onde passam, mas têm seus preços de comercialização inflacionados após as premiações e, com isso, acabam valorizando por tabela qualquer filme romeno. Por tabela e na tabela.
Se o mercado de compra e venda de direitos de exibição tem momentos de ascensão da produção de algum país específico ou de alguns países de determinado continente, como foi com o Irã, tem sido com a(s) China(s) e foi em menor medida com a Argentina, agora é a vez da Romênia viver seu ápice de projeção nessa bolsa de cotações – ao menos de acordo com a curadoria e com os jurados de Cannes, que, em matéria de premiações e de prestígio, têm catapultado os filmes romenos à condição de protagonistas mundial. Se esta é só uma onda como outras ou evidência de consolidação de uma geração de cinema no país (dentro dos limites de um país periférico em matéria de produção cinematográfica, claro), não há ainda como prever apenas com base nos últimos anos e prêmios internacionais. Por ser hoje um cinema nacional de prestígio, mas sem mercado interno, a Romênia nem ocupa espaço no Atlas da Cahiers du Cinema, que faz um breve panorama do mercado de vários países do mundo.
É por ser um país cujo cinema, mesmo sem público doméstico, tem um público seleto de admiradores, que se abriu espaço para essa produção da ala pobre do cinema na Europa em um seminário realizado em São Paulo, no Reserva Cultural. Organizado pela jornalista Maria do Rosário Caetano, e produzido pelo próprio Reserva, o evento tinha por objetivo ampliar os enfoques sobre cada país tratado pelos Cahiers – mantendo como prioridade um espírito de diagnóstico de momento de mercado para os cinemas nacionais, com sorrisos de satisfação ao se ouvir falar do cinema em países cuja ocupação de mercado é em sua maioria de ingressos vendidos para a soma dos filmes nacionais (como Coréia, Índia, Irã, Nigéria). Por trás dessa iniciativa, tanto dos Cahiers quanto de Reserva/Maria do Rosário Caetano, existe uma atitude política: a de manter o olhar crítico em estado de alerta para os sinais de resistência e de crises nos cinemas nacionais, que, além de serem tradicionalmente ameaçados ou implodidos pela onipresença do cinema americano em quase todos os países com telas no planeta, também têm de lidar com a transnacionalidade de vários diretores e produções, criando uma confusão de identidades, conceitos, origens e pertencimentos, cuja discussão ainda está distante de se esgotar e de ter chegado a bons termos, como impedem as simplificações e os maniqueísmos trajados de discurso anti-globalização.
Nesse sentido, a Romênia sempre teve um cinema nacional, ainda que nunca muito importante na perspectiva internacional – sem nenhum cineasta a se tornar uma questão crítica, como tiveram o cinema tcheco, iugoslavo, polonês e húngaro desde os anos 60, de alguma forma influenciados por características do cinema moderno. Houve sim uma geração de cineastas romenos dos anos 70, assim tratada como tal, que tinha como destaques diretores como Dan Pita e Mircea Daleniuc, ainda ativos no cinema contemporâneo.
Nos anos 90, após a queda da Ceauscescu, houve um boom de estreantes: uma dezena deles entre 1991 e 1992 (Laurentiu Damian, Daniel Barbulescu, George Busecam, Bogdan Dumitrescu, Adrian Istratescu-Lener e Radu Nicoara), todos eles nascidos entre o fim dos anos 40 e o fim dos anos 50, poucos deles com continuidade na carreira (entre as raras exceções, Bamian, Busecam e Dumitrescu). O único dessa leva a fazer a diferença, a ponto de ser considerado uma referência em alguma medida para a atual geração de novos diretores, foi Nae Caranfil. Seu cinema é marcado pelo interesse pelas contradições sociais e por enfoques politizados, e seu filme de maior circulação e aceitação foi Filantopica (2002) – seu quarto longa-metragem, quando já era um paradigma e não mais uma revelação.
Ainda nos anos 90, a Romênia mandou sinais de cinema para fora de suas fronteiras com Trem da Vida (1999), de Radu Mihaileanu, ganhador do prêmio da crítica em Cannes e São Paulo, prêmio do público no Sundance e o italiano Donatello de lançamento estrangeiro. Nunca antes um filme romeno havia sido tão internacional: em sua produção – com a França, Bélgica, Holanda, Romênia e Israel – e em sua carreira. O diretor havia realizado um curta francês nos anos 80, quando estudava cinema em Paris, e estreou em longa com um filme de pouca repercussão (Tahir, 1993), co-produção multieuropéia parcialmente falada em francês. Mihaileanu ganhou experiência como diretor de segunda unidade ou assistente de direção em filmes de Marco Ferrerei (I Love You, 1986, e Come Sono Buoni Bianco, 1988) e Vicente Trueba (O Sonho do Macaco Louco, 1989), antes de fazer seus longas com dinheiro de diferentes países. Aos 50 anos, Mihaileanu, em seu filme mais recente, Herói de Nosso Tempo, ambientado na Etiópia, ganhou prêmio de público em Berlim e o César de roteiro, com uma repercussão razoável – mas o diretor não é considerado parte da nouvelle vague romena, ou sequer do novo cinema romeno.
A nova ondaAntes de ganhar a mostra Un Certain Regard com seu longa de estréia, A Morte do Senhor Lazarescu (2005), também ganhador dos festivais de Chicago, Copenhague, Trieste e da Transilvânia, Cristi Puiu havia se destacado internacionalmente com duas narrativas de poucos minutos: Marfa Si Banii (2001) ganhou o prêmio de melhor curta no festival independente de Buenos Aires e o prêmio da crítica em Thessaloniki. E o curta seguinte, Un cartus de kent si un pachet de cafea (2004), ganhou o Urso de Ouro em Berlim.
Corneliu Porumboiu, antes de levar a Camera d’Or por A Leste de Bucareste (2006), já era querido em Cannes – tendo ganho prêmio no Cinéfondation, para competição para filmes de estudantes, com seu curta, Calatorie Las Oras. Catalin Mitulescu, cuja estréia em longa, Como Festejei o Fim do Mundo (2006), rendeu prêmio no Un Certain Regard em Cannes para a atriz Doroteea Petre, era curta-metragista notável. Bucuresti-Wien, 8-15 (2000) e 17 minute intarziere (1999), esse segundo apenas em 2002, ganharam o festival de cinema romeno para estudantes. E Traffic (2004), dando um passo mais alto, ganhou a Palma de curta em Cannes. Antes de estrear em longa com Maria (2003), premiado em Locarno (especial do júri), Calin Peter Netzer foi premiada em Dresden, um segundo lugar, com seu curta Zapada Meillor (1998). E Cristian Nemescu teve uma bem aceita trajetória no curta, com destaque para Poveste La Scara “C”, ganhador de um menção especial no Festival de Berlim, antes de estrear em longa com California Dreaming (2007) – sem chegar a terminar a montagem do filme, por conta de sua morte em um acidente de carro. Mesmo com um corte provisório, Cannes exibiu o filme assim mesmo e ele saiu com o principal prêmio da Un Certain Regard – apenas dois anos depois de Puiu.
Finalmente, temos Cristian Mungiu, ganhador do prêmio máximo em Cannes com 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (2007 - foto que abre este texto), que veio da escola (formou-se em 1998 na Universidade do Filme), mas veio também da prática. Trabalhou alguns anos em tarefas diferentes em sets de filmes estrangeiros e estreou em longa com o razoavelmente premiado Occident (2002), que saiu com troféus importantes em festivais europeus, como os de Transilvânia, Thessalonoki, Sofia e Mons. Em matéria de renovação e revelação, o cinema romeno, na Europa, só tem equivalente no cinema francês.
Quase todos esses diretores desta chamada nouvelle vague estão com novos filmes em gestação. Mas o que esperar, para além dos prêmios, dessa geração? Falta tempo e mais filmes para afirmarmos algo sem algum grau de profecia. Faltam os filmes saírem da moda, como estão hoje, porque a moda produz modelos, repetições, diluições e fórmulas – o que, no caso do cinema romeno, é mais ou menos fácil de acontecer por conta das características marcantes de seus premiados em Cannes. É preciso saber se os diretores conseguirão seguir adiante sem atender uma demanda de circuito de festivais e de arte, sem atenderem à expectativa de fazerem um cinema romeno facilmente reconhecível como tal – portanto, sob o risco de virar um estereótipo nacional.
Mas o que se premia em Cannes, o que é a “romenidade” cinematográfica? Premia-se, claramente, menos um rigor estético, como se faz quando se premia a maioria dos filmes asiáticos, e mais um olhar singular/inusitado, nessa fronteira, por meio do qual se confronta o passado (II Guerra, regime comunista). Percursos e dramas individuais, vividos por gente comum em situações incomuns, que se conectam com a Romênia, com seus fantasmas, com seus escombros morais e políticos, com a atmosfera de um lugar em descompasso com seu tempo. Essas voltas ao passado de 20 ou 60 anos atrás, comum e compreensível em filmes de países com experiência traumática na carne e no espírito de regimes de rédeas curtas, não carregam consigo disposição para acertar contas. Nem de denunciar nada. O olhar predominante é o de testemunha para quem nada choca mais ou para quem só é possível rir dos absurdos nacionais.
Não deixa de se ver nesses filmes uma corrosão seca, como em 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, ou cômica, como em A Leste de Bucareste – ou as duas vertentes corrosivas juntas, como em California Dreamin' (foto ao lado). Os universos diante do qual a ironia e a corrosão são despejadas vai da classe média ao caldo cultural romeno, que parece moldar os personagens em percursos nos quais, inevitavelmente, algo de insólito ou absurdo acontecerá – porque, mais que sintomas, esses personagens são atrelados a uma lógica do absurdo hegemônica no país onde vivem (mas não uma lógica estrutural e, sim, intrínseca a condição da Romênia). Seria um cinema cheio de filmes políticos? Ou a despolitização do político em nome do exótico e do sensacionalismo distanciado (4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias)? Cada caso é um caso, mas o que interessa, nesse caso, é menos a ausência de denúncia, porque não se denuncia nada, nem ninguém, nem uma instituição, mas a presença de narrativas singulares, cheia de elipses, buracos, sugestões, avessas aos códigos narrativos, com certa incorporação da aparência de caos, em sintonia com o algo de caótico mostrado em alguns filmes.
Em outro texto, dei a essa característica o nome de “estética e dramaturgia do tripé quebrado”, inspirado no tripé quebrado do cinegrafista do programa de entrevista de A Leste de Bucareste. Sem o tripé, o cinegrafista, no filme, faz na mão. A câmera treme, ele não enquadra dentro dos códigos de um programa de TV – com isso, torna-se outra coisa, com a clara evidência dos problemas financeiros e organizacionais a afetar o produto final. A mesma subversão com o padrão do cinema culto contemporâneo tem levado os diretores a conceberem suas histórias sem respeito pelo “bem contar”. Nesse sentido, Mungiu, em um filme seco e sem humor, com a câmera quieta e observadora, foge à regra, porque, dentro de sua proposta contundente, manifesta a preocupação do “bem contar”, sem o tal tripé quebrado a intervir em sua organização. Seu filme carrega no estilo um ar de realismo europeu (ecos de Dardenne). Influência? Busca de um diálogo estético em vista ao mercado internacional?
Parece não haver opções melhores para quem não se contenta com os limites de se permanecer na Romênia que viabilizar co-produções com empresas de outros países europeus ou mesmo dirigir produções internacionais fora da Romênia. Mungiu, nesse sentido, é precavido. Tem demonstrado precaução com as produções maiores, ou com possíveis convites para trabalhar como diretor contratado de projetos de produtores, porque sua noção de cinema exige controle total, sem interferência de produtores e investidores. Por isso, para seu tipo de cinema, a Romênia, como periferia da produção, é um bom contexto. Permite a ele ter liberdade para fazer os filmes como bem entende porque não deve satisfações a ninguém. Talvez isso venha a mudar se e quando os investidores europeus se interessarem por co-produções. Deverão aparecer os astros internacionais (como têm aparecido nos filmes de Amos Gitai) e os diálogos nos idiomas dos sócios majoritários.
Ou é isso ou Mungiu, assim como outros colegas, terão de pagar o preço – da visibilidade limitada mesmo no próprio pais – de fazer cinema na Romênia. Seus prestígios e ambições podem se tornar superiores às condições estruturais do cinema romeno para atender suas demandas. Por enquanto, porém, são só especulações.Programação Abril de 2012: Cinema Romeno
O Cine Clube Ybitu Katu exibe:
07/04: 4 meses, 3 semanas, 2 dias (Cristian Mungiu, 2007)
14/04: A Morte do Senhor Lazarescu (Cristi Puiu, 2005)
Sr. Lazarescu chama uma ambulância após sofrer com dores de cabeça e de estômago. Inicia-se então uma viagem através da cidade, entre um hospital e outro, em busca de tratamento médico. Duração: 150 minutos
21/04: Katalin Varga (Peter Strickland, 2009)
Expulsa pelo marido e pelo povo de sua aldeia, Katalin Varga fica sem escolha a não ser ir em busca do verdadeiro pai de seu filho, Orbán. Levando o menino com ela sob outro pretexto, ela viaja através dos Cárpatos, onde decide reabrir um capítulo sinistro de seu passado e se vingar. A caçada leva a um lugar ao qual ela jurou 11 anos antes nunca mais voltar. Duração: 90 minutos
28/04: A Leste de Bucareste (Corneliu Porumboiu, 2006)
No aniversário de 16 anos da queda do ditador Ceausescu na Romênia, uma emissora de TV local decide reunir pessoas para um debate sobre o tema. Entre os convidados estão Piscoci (Mircea Andreescu), um velho aposentado, e Manescu (Ion Sapdaru), um professor de história que analisa as mudanças locais ocorridas desde 25 de dezembro de 1989, data de execução do ditador. Duração: 89 minutos