por Leandro
Extraído de http://www.ensaiosababelados.com.br/casanova-e-a-revolucao/
Extraído de http://www.ensaiosababelados.com.br/casanova-e-a-revolucao/
“Casanova e a Revolução”, do diretor italiano Ettore Scola, faz uma
leitura muito particular da Revolução Francesa. O filme, como indica o
título original, La nuit de Varennes,
se passa durante a famosa tentativa de Luís XVI em fugir da Paris
revolucionária, em 1791. Como se sabe, a fuga não foi bem sucedida, o
rei foi preso e reconduzido a Paris. O fato ajudou a radicalizar a
revolução e acabou resultando no julgamento e assassinato do rei. O
filme não retrata exatamente a tentativa de fuga e captura do monarca
francês, mas acompanha uma comitiva que seguia seus passos. Nela,
seguiam Restif de la Bretonne, um famoso publicista do período, hoje
mais conhecido pelo seus livros eróticos (o mais famoso é o Anti-Justine,
uma resposta polêmica ao texto do Marquês de Sade), Thomas Paine, uma
dama de honra de Maria Antonieta junto com seus consortes e
companheiros. No meio do caminho, juntou-se o velho Giacomo Casanova.
Por isso, a narrativa está muito mais centrada nos dramas desses
indivíduos do que na reconstrução dos eventos políticos que corriam pela
França. No filme de Scola, a Revolução serve como uma grande metáfora
da velhice. O Casanova do filme, interpretado magnificamente pelo mais
genial dos atores italianos, Marcello Mastroianni, é uma pálida figura
do que fora no passado (é bem interessante compará-lo com o Casanova de Fellini).
O grande sedutor das cortes européias se tornou um homem envelhecido,
incapaz de exercer sua arte erótica, vivendo uma existência meio
melancólica, uma indiferença com o mundo, quase desligado das paixões
mundanas. Seu corpo carcomido pelo tempo, cheio de dores, marcas, rugas,
pequenas degradações marca uma substituição da sua antiga dignidade.
Tudo que lhe resta é um sábio distanciamento do mundo. Casanova é o
símbolo do Antigo Regime que está rapidamente acabando, de um mundo
antigo revolucionado por novos hábitos e novos personagens. O grande
drama do filme subsiste nisso, na tensão entre um mundo antigo e a
juventude do novo. Ettore Scola fala muito mais dessa condição
melancólica do homem do que da própria Revolução Francesa. Só que a
velhice de Scola, ainda que melancólica, não é trágica. Casanova também
representa aquela sabedoria da experiência, tão misteriosa para o nosso
mundo, daquele que sabe que a renovação da juventude é a renovação do
mundo, e tudo que resta é um sereno sair de cena. Não é gratuito que o
título italiano do filme seja Il mondo nuovo. É dessa transação entre o velho e o novo, entre o estável e o revolucionário, que trata o belo filme de Ettore Scola.
Nenhum comentário:
Postar um comentário