
Extraído de http://depoisdaquelefilme.blogspot.com/2006/10/que-filme-che-what-roman-polanski-1972.html
Diferente porque ele deixa o suspense aterrorizante pra uma comédia onírica, que por remeter à insegurança de acontecimentos do sonho também se caracteriza como suspense. Mas nada assusta, estamos num mundo à beira da praia, umas férias, poesia que acalma e excita. A poetiza não larga seu diário durante todo o filme, e ela na sua maior parte fica nua, nos fazendo ficar extremamente ligados ao filme. Esse erotismo é artifício de narração, como Manara faz: veja a semelhança da atriz Sydne Rome com as mulheres desenhadas por Manara. Uma modelo, apenas. Ela é desejada sexualmente até mesmo por cães, e se torna a cobiça da mais nova arte que se desvenda aos nossos olhos. Uma arte meio vazia, kitsch, carnavalesca, circense e, claro, sacana. A mulher aos olhos dessa arte é um corpo que nos atrai, sua beleza é mais que a forma procurada, desejada – é uma forma divina. Não há paródia dentro da publicidade do corpo nu eroticamente explícito, não há mesmo. Nós aceitamos o espetáculo pobre em artifícios racionais e corremos como cachorros tarados atrás de um corpo belíssimo de uma poetiza espontânea, ingênua e feliz.A felicidade de um sonho bom, de uma passagem à irrealidade do sexo latente. Foi isso que os anos 70 conseguiram levar ao status do pop, uma arte nova, arte que novamente usava a sedução para atrair público e nos evidenciar o hedonismo.
Sim, o filme é uma comédia... Mas uma comédia muito inusitada. Nos lembra algo que no Brasil se costumou chamar de pornochanchada. Óbvio que com mais apuro estético – é quando a nobre arte, personagem do filme que é dono de todo o cenário que vemos, o senhor Noblart, morre e algo novo, mas junto à porcaria que leva a poetiza à Istambul. Mas durante todo o sonho fetichista, um soldado francês conversa com um brigadeiro francês, e a Itália é refúgio ao modo simples de se ver o mundo difundido pelos americanos. A arte nova está lá, no velho mundo, onde estava a velha morta também. Nietzsche que o diga. Mas o senhor Noblart não morre antes de ver algo que antigamente o dava instigação à vida – a vagina da nova poetiza, que não é mais apenas uma sereia sedutora que desvirtua os heróis, mas a própria heroína que sente prazer em todos os lugares por onde passa, na irresponsabilidade bonita de uma criança adulta cheia de libido. Ela conhece o filme, sabe que ele é filme, libera o dispositivo aos espectadores que babam para a movimentação de seus seios (assim como os personagens masculinos do filme, jovens ou velhos).
Dos presentes à ceia familiar, apenas Alex (Marcelo Mastroiani) sabe que ela, a poetiza é manipulável. Mas à base da violência, somente. Violência que ele, como um bom autor de realidades fetichizadas, adora proferir e receber. Não é o fim dos tempos retratado? Na verdade todos preferem achar que o fim sempre esteve presente – apenas agora ele se mostra. Um fim sem teleologia, sem sentido – sem fim.
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