sábado, 28 de agosto de 2010

Crítica: Os Imperdoáveis (Clint Eastwood, 1992)

por Weiner
Extraído de http://agrandearte.wordpress.com/2010/05/27/os-imperdoaveis/

Até 1992, a crítica parecia ignorar Clint Eastwood enquanto ícone cultural e estrela absoluta do cinema americano – o que era motivo de indignação para sua legião de fãs. Famoso por protagonizar diversos longas temáticos (faroestes, mais especificamente), Eastwood ainda carecia de reconhecimento por parte da maioria das premiações - que ainda não haviam se curvado diante de seu imenso talento. Os Imperdoáveis pode ser apontado como o western mais cru de toda a história de Hollywood, e sua irreverência ao gênero consagrado por diretores do porte de John Ford e Howard Hawks foi fundamental para que atingisse tamanho sucesso – foram 4 Oscars, incluindo o de Melhor Filme.

Eastwood recebeu o prêmio por sua direção firme e sem concessões, determinada a desmitificar a imagem intrépida do fora-da-lei daquele tempo. Para tanto, muniu-se de um roteiro amargo (do autor David Webb Peoples) e completamente inglorioso: a história de Bill Munny (interpretado pelo próprio Clint), um pistoleiro viúvo e aposentado, que cuida de um pequeno rancho e de dois filhos muito jovens. Aqui já é possível perceber o primeiro contrassenso: qual filme do gênero aceitaria um protagonista arrependido de seus crimes, e encerrado no meio de porcos e galinhas, submetendo-se à tarefa feminina de cuidar de crianças? Pois bem, Munny irá se confrontar novamente com o passado - o qual aprendera a abominar. Uma recompensa é prometida àquele que vingar a prostituta do povoado vizinho, retalhada por um bêbado. Porém, o que move Munny não é o dinheiro, e sim a necessidade de justiça; algo dentro de si o impele a vingar a meretriz, como se através de tal ato, pudesse atenuar o peso de sua culpa; nas redondezas, ele é apontado como “Bill Munny, o assassino de mulheres e crianças”.

Acompanhado de um amigo (Morgan Freeman) e de outro pistoleiro, mais inexperiente, irá átrás daquela que lhe parece a última chance de encontrar humanidade em sua alma. A recompensa, contudo, atrairá outros homens – e o xerife do povoado (Gene Hackman, vencedor do Oscar) tentará, das mais cruéis maneiras, impedir que sangue seja derramado sob sua jurisdição. O que diferencia Os Imperdoáveis do restante dos filmes de sua temática é a ausência do idealismo típico da época de ouro hollywoodiana; o tempo passa e deixa remorso e dor indeléveis até mesmo nos assassinos de aluguel. A glória destes homens é finita, e haverá momento em que o temor e respeito adquiridos pela selvageria de outrora converter-se-ão em solidão e pobreza espiritual. A busca de Munny por um sentido à própria vida, que já dá sinais de fracasso, é o que promove a trama de Os Imperdoáveis – e mesmo que o desfecho pareça pessimista demais, ele simboliza a dificuldade do ser humano em encontrar o equilíbrio, ou mesmo a salvação. Deixou a lição de que, definitivamente, a era do Oeste bravio da década de 1950 chegara ao fim. Pois sim, o mais indomável elemento de qualquer meio é o homem; e é ele quem decide o quão inóspito será o lugar que habita.

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