quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Crítica: Rio Vermelho (Howard Hanks, 1948)

por Alexandre Koball
Extraído de http://www.cineplayers.com/critica.php?id=38

Uma obra-prima do gênero faroeste, quase desconhecida do grande público.

Ahhhh, os faroestes clássicos. Eles tiveram seu auge nos anos 60, com o magistral diretor italiano Sergio Leone, responsável por Era Uma Vez no Oeste ou Três Homens em Conflito, entre vários outros filmes inesquecíveis. Mas desde os anos 30, com diretores como John Ford e seu No Tempo das Diligências, por exemplo, a magia de um dos gêneros mais famosos do cinema foi vivida por atores como John Wayne. Este, aliás, é o ator com mais papéis principais da sétima arte, dizem as estatísticas. Rio Vermelho, de 1948, embora não seja seu maior clássico, está entre seus melhores filmes. E posso ir mais além, dizendo que está entre os melhores filmes do gênero, disputando com obras mais populares como Rastros de Ódio e Matar ou Morrer. Mas esses são filmes para serem discutidos em outra ocasião...

Originalmente lançado em preto-e-branco, mas hoje disponível em cores vivas, Rio Vermelho possui uma ambientação impressionante. Filmado tanto em estúdios quanto em locações é um filme que traz uma atmosfera incrível do velho-oeste americano, ainda no tempo das diligências, quando os primeiros grandes criadores de gado estavam trabalhando duro para fortalecer a economia do Sul dos Estados Unidos. A sensação que o filme passa é a de que você está lá, junto com aqueles desbravadores de terra, quando a justiça era feita por quem sacava o revólver mais rápido. Há um sentimento maravilhoso de liberdade ecoando por todo o filme, ainda que a jornada de seus personagens seja violenta e difícil.

A direção precisa de Howard Hawks e Arthur Rosson (o filme geralmente é somente creditado a Hawks, diretor de outros clássicos como Jejum de Amor, de 1940) faz com que o filme torne-se uma verdadeira e graciosa aventura. Acompanhamos Dunson (John Wayne), Matthew (o galã Montgomery Clift, que morreu cedo, aos 46 anos, em 1966) e uma equipe de vaqueiros contratados em uma jornada para transportar 10 mil cabeças de gado por 1000 milhas de um deserto monótono (ainda que lindo) e cheio de perigos (mais precisamente os índios Comanche). O roteiro, cheio de reviravoltas interessantes e feliz por conseguir manter o suspense (e conseqüentemente a atenção) até o minuto final, cria diversos empecilhos para esta viagem que durará meses. Não são só os índios que poderão incomodar. Os conflitos entre os personagens são muito mais interessantes que as cenas de ação (e é aí que o filme se destaca entre dezenas, talvez centenas, de faroestes ordinários existentes naquela época), embora os duelos – as cenas-clímax de todo o gênero faroeste – estejam presentes de maneira muito intensa.

Não há grandes elementos que venham a tirar o brilho deste clássico. O maior é talvez a inclusão de uma mocinha irritante (embora essa opinião seja muito subjetiva) por causa de sua arrogância e auto-confiança. Creio que seja um estereótipo forçado do gênero, já que na segunda metade do século XIX as mulheres praticamente não tinham voz entre os homens, e isso é fato. Há, claro, várias outras forçadas de barra na história, algumas bem estúpidas (o motivo que levou ao estouro de uma boiada, por exemplo) tudo para encaixar mais emoção e suspense à jornada desses homens. Mas isso pode ser “ignorado”, em prol da apreciação do filme como entretenimento.

Obviamente, as interpretações são incríveis. John Wayne, que muitas vezes não fazia exatamente o papel de “mocinho simpático”, possui outro de seus personagens ambíguos, que pode ser visto como sendo o mocinho ou o bandido. E Clift, uma espécie de filho adotivo de Wayne dentro do filme, mesmo sendo ainda bastante jovem, encara com grande qualidade as várias cenas difíceis que o filme possui. Como Rio Vermelho é uma espécie de épico do velho-oeste, o número de cenas difíceis realmente é grandioso. Curiosamente, fora das gravações os dois atores possuíam diferentes idéias relacionadas à política, e ambos tiveram de concordar que não tocariam nesse assunto para poderem gravar sem atritos. Parece que deu certo, já que o relacionamento é totalmente natural.

A trilha sonora é também destaque nesse clássico. A música-tema, “Settle Down”, dá uma força imensa às imagens, e toda a trilha funciona perfeitamente, alavancando o sentimento de liberdade e grandiosidade do velho-oeste. O filme concorreu a dois Oscars: edição (realmente bem executada, principalmente se comparada a outros filmes da década) e roteiro (praticamente sem deslizes). Acabou não levando nenhum, mas hoje o filme se mostra acima de qualquer premiação, como todos os verdadeiros clássicos. Infeliz do filme que precisa de prêmios para ser lembrado.

Rio Vermelho não chega a ser tão conhecido como Rastros de Ódio ou Matar ou Morrer, só para citar dois exemplos. Mesmo assim, considero-o um dos melhores faroestes de todos os tempos, principalmente por causa da sua ambientação e espírito livre, em uma história de grandes proporções e objetivos (e se você não gostar, pelo menos fica conhecendo um pouco mais de História). John Wayne mostra porque é a lenda que ainda vive forte no cinema, e não vai morrer tão cedo. Recomendado a qualquer amante da sétima arte

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