sábado, 31 de março de 2012

Comentário: Cinema francês perde seu mestre do suspense e da ironia, Claude Chabrol

por Alessandro Gianinni
Notícia publicado em 12/09/2010
Extraído de http://cinema.uol.com.br/ultnot/2010/09/12/cinema-frances-perde-seu-mestre-do-suspense-e-da-ironia-claude-chabrol.jhtm

Referência do cinema francês como crítico e diretor, Claude Chabrol, que morreu neste domingo (12/09/2010) na França, aos 80 anos, começou sua longa e prolífica carreira ao lado de François Truffaut e Jean-Luc Godard na revista "Cahiers du Cinema". Chabrol, conhecido principalmente pelos filmes de suspense abertamente inspirados em Alfred Hitchcock e Fritz Lang, fez parte do grupo chamado de "os jovens turcos" de Andre Bazin, diretor da revista e mentor de todos eles. Esses jovens abalaram os alicerces do cinema francês nos anos 50 propondo uma quebra das amarras aos padrões vigentes e lançando uma proposta de liberdade e experimentação de novas formas de fazer filmes - o que resultou na chamada Nouvelle Vague.

Curiosamente, Chabrol se destaca do grupo justamente por ajudar na elaboração dessa proposta e, depois, quando realmente investe no cinema como diretor, apostar na artesania e nas formas mais canônicas do que exatamente no rompimento total com as regras. Sua extensa filmografia comprova a tese com folga e indica um artesão versátil, que passou por quase todos os gêneros, dos suspenses às comédias, passando pelos filmes de guerra, de espionagem e muitas adaptações literárias que se tornaram referências históricas, como por exemplo o seu "Madame Bovary" (1991), também momento fundamental de sua parceria com Isabelle Huppert.


Nascido nos anos 30, em Paris, Chabrol fugiu para o interior da França quando a Alemanha nazista ocupou o país. Entre suas brincadeiras preferidas na cidadezinha de Sardent estava incorporar os papéis de programador e projecionista numa improvisada sala de exibição montada em um celeiro. Esse pequeno teatro de ideias o levou a cultivar o gosto pelas cinematecas e cineclubes quando retornou a Paris, após o fim da ocupação e, logo em seguida, da 2ª Guerra Mundial. Foi assim que conheceu Truffaut, Godard e Eric Rohmer, que depois convidaram-lhe para ser redator da revista.

Paralelamente, Chabrol trabalhava na assessoria de imprensa da filial francesa da Fox, em Paris. Foi nesse período em que ele e Rohmer escreveram "Hitchcock", uma análise aguçada da obra do mestre do suspense. Foi também o início de sua carreira como diretor, com "Nas Garras do Vício" (1958), um filme considerado uma das sementes da Nouvelle Vague. Influenciado por Hitchcock e Lang, como se disse, Chabrol desenvolveu uma preferência por histórias de forte questionamento moral provocadas ou pela falta de encaixe dos personagens no mundo ou por uma forte sensação de perseguição ou ainda de culpa. Ou tudo isso ao mesmo tempo, como no ótimo "Ciúme - O Inferno do Amor Possessivo" (1994), em que o diretor mostra a ação do ciúme e o processo de loucura provocado em um marido tomado pela dúvida sobre se sua mulher o trai ou não.

Engraçado e divertido, Chabrol também cultivou a ironia tanto nos dramas quanto nas comédias, embora muitas vezes essa forma crítica de linguagem tenha sido confundida com um profundo cinismo. Em filmes recentes, como "A Comédia do Poder" (2006) e "Uma Garota Dividida em Duas" (2007), essa distinção fica mais e mais difícil, até porque esse senhor de parcos cabelos brancos que ajudou a contar e fazer a história do cinema francês sabia como ninguém observar e absorver o mundo ao seu redor para transformá-lo na tela e, quem sabe, na realidade.

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