por Bernardo Krivochein
Extraido de http://www.zetafilmes.com.br/criticas.asp?id=414
O melhor filme do ano, até agora. Desde a primeira imagem eu já tinha sido convencido disso.A melhor definição que eu posso dar a "Nói, o albino" é: uma música do Radiohead transposta para as telas. O filme é bom assim. Claro que sua experiência com um filme depende muito da sua vivência pessoal, mas eu achei o filme foda para todo mundo. Nele, eu reconheci minha família, meus amigos, amigos dos meus amigos e eu mesmo. Existe um momento em que o diretor da escola tem uma conversa crucial com o personagem principal - foi um dos mais assustadores flashbacks da minha própria vida que tive no cinema, um must para quem já foi suspenso do colégio.
Esse é o grande mérito de "Nói, o albino": ele procura comunicar-se com sinceridade com o espectador, descrevendo momentos dispersos de um cotidiano comum (apesar do cenário insólito) e, na maioria das vezes, a descrição é na mosca.
O personagem principal é um adolescente islandês, Nói, que mora com a avó em um fiorde na Islândia (o equivalente a uma cidade do interior por aqui). Nós o encontramos num ponto em que ele já está farto da vida e cagando para tudo. Mesmo sendo considerado um prodígio pelo psicólogo do colégio, seu comportamento e rendimento escolar são medíocres. A pasmaceira e o isolamento do cotidiano sem perspectivas são quebrados com a chegada de Íris, a filha do livreiro da cidade que passa a trabalhar no posto de gasolina. Ele se apaixona e seu desejo de fugir do lugar passa a ser alimentado ainda mais. Uma história maliciosamente simples, mas que surpreende e hipnotiza mais do que qualquer mega-trama.
Esse é o primeiro filme do diretor Dagur Kári, que jura ter aprendido a fazer cinema assistindo a "Os Simpsons". Pelo humor inesperado da história, isso deve ter seu quê de verdade. "Nói, o albino" é um drama, mas contado com um incrível humor negro, uma manobra de um diretor que confia no próprio taco - e dá samba: os elementos cômicos e dramáticos encontram-se perfeitamente integrados (momento preferido: "O iluminado", se fosse na vida real; eu só vou dizer isso). Muitos filmes que concentram-se no tédio de um personagem acabam tornando a si próprios um porre, o que não é o caso aqui.
É, sobretudo, uma história de personagens e, se funciona, grande responsabilidade vem do elenco, a começar pela atuação do protagonista, Tómas Lemarquis numa atuação explosiva de tão quieta. Os momentos alegres entre Nói e Íris (a muito-bonita-MESMO Elín Hansdottír) são tão reais que você quer tirá-los daquele lugar isolado de helicóptero e comprar uma casa para os dois: naquela hora, a única preocupação do espectador é que haja algo mais para os dois além daquela vida. O núcleo da família de Nói é completo pela enternecedora figura da avó (Anna Fridriksdottir) e o pai alcóolatra (Thröstur Leó Gunnarsson), com o qual Nói tem o relacionamento mais interessante, recheado de sentimentos de culpa/cumplicidade, onde o fato de Nói saber que se transformará nele (seu pai) caso não escape do fiorde não impede que interajam normalmente.
Fui levado a pensar que, da mesma maneira que "Corra, Lola, Corra" é um filme de ação perfeito para meninas culturalmente desenvolvidas, "Nói, o albino" é o perfeito drama introspectivo para meninos. E, quando um tem a emblemática figura da garota de cabelos vermelhos correndo pela cidade, o outro tem na corrida desesperada quase fantasmagórica de Nói pela neve, sua imagem marcante. A fotografia, ajudada pelo cenário natural impressionante, trata de capturar o ambiente tão bem, que o uso do ar condiconado no cinema é dispensado; o trabalho de arte nos transporta para um lugar, ahem... congelado de certo modo no tempo.
Mas a visão leve que a narrativa têm da história não desvia o curso natural dos eventos do filme e, fatalmente, o final de "Nói, o albino" surge para fazer sua cobrança aos personagens. Se existe uma mensagem em "Nói...", ela não é óbvia, então somos abandonados com uma melancolia que, por alguma razão, não equivale a depressão. Resta, inclusive, uma certa esperança. Talvez seja pela humanidade do filme, coisa que o espectador tem visto com certa dificuldade no cinema. "Nói..." é inesperadamente engraçado, emocionante, deprimente e, apesar da historinha bem básica, originalíssimo. Mas o que me conquistou foi a honestidade. Não garanto que você vá gostar do filme como eu, mas venda, não, melhor... penhore sua mãe para conseguir assistí-lo.
Eu amo, amo muito esse filme.
Esse é o grande mérito de "Nói, o albino": ele procura comunicar-se com sinceridade com o espectador, descrevendo momentos dispersos de um cotidiano comum (apesar do cenário insólito) e, na maioria das vezes, a descrição é na mosca.
O personagem principal é um adolescente islandês, Nói, que mora com a avó em um fiorde na Islândia (o equivalente a uma cidade do interior por aqui). Nós o encontramos num ponto em que ele já está farto da vida e cagando para tudo. Mesmo sendo considerado um prodígio pelo psicólogo do colégio, seu comportamento e rendimento escolar são medíocres. A pasmaceira e o isolamento do cotidiano sem perspectivas são quebrados com a chegada de Íris, a filha do livreiro da cidade que passa a trabalhar no posto de gasolina. Ele se apaixona e seu desejo de fugir do lugar passa a ser alimentado ainda mais. Uma história maliciosamente simples, mas que surpreende e hipnotiza mais do que qualquer mega-trama.
Esse é o primeiro filme do diretor Dagur Kári, que jura ter aprendido a fazer cinema assistindo a "Os Simpsons". Pelo humor inesperado da história, isso deve ter seu quê de verdade. "Nói, o albino" é um drama, mas contado com um incrível humor negro, uma manobra de um diretor que confia no próprio taco - e dá samba: os elementos cômicos e dramáticos encontram-se perfeitamente integrados (momento preferido: "O iluminado", se fosse na vida real; eu só vou dizer isso). Muitos filmes que concentram-se no tédio de um personagem acabam tornando a si próprios um porre, o que não é o caso aqui.
É, sobretudo, uma história de personagens e, se funciona, grande responsabilidade vem do elenco, a começar pela atuação do protagonista, Tómas Lemarquis numa atuação explosiva de tão quieta. Os momentos alegres entre Nói e Íris (a muito-bonita-MESMO Elín Hansdottír) são tão reais que você quer tirá-los daquele lugar isolado de helicóptero e comprar uma casa para os dois: naquela hora, a única preocupação do espectador é que haja algo mais para os dois além daquela vida. O núcleo da família de Nói é completo pela enternecedora figura da avó (Anna Fridriksdottir) e o pai alcóolatra (Thröstur Leó Gunnarsson), com o qual Nói tem o relacionamento mais interessante, recheado de sentimentos de culpa/cumplicidade, onde o fato de Nói saber que se transformará nele (seu pai) caso não escape do fiorde não impede que interajam normalmente.
Fui levado a pensar que, da mesma maneira que "Corra, Lola, Corra" é um filme de ação perfeito para meninas culturalmente desenvolvidas, "Nói, o albino" é o perfeito drama introspectivo para meninos. E, quando um tem a emblemática figura da garota de cabelos vermelhos correndo pela cidade, o outro tem na corrida desesperada quase fantasmagórica de Nói pela neve, sua imagem marcante. A fotografia, ajudada pelo cenário natural impressionante, trata de capturar o ambiente tão bem, que o uso do ar condiconado no cinema é dispensado; o trabalho de arte nos transporta para um lugar, ahem... congelado de certo modo no tempo.
Mas a visão leve que a narrativa têm da história não desvia o curso natural dos eventos do filme e, fatalmente, o final de "Nói, o albino" surge para fazer sua cobrança aos personagens. Se existe uma mensagem em "Nói...", ela não é óbvia, então somos abandonados com uma melancolia que, por alguma razão, não equivale a depressão. Resta, inclusive, uma certa esperança. Talvez seja pela humanidade do filme, coisa que o espectador tem visto com certa dificuldade no cinema. "Nói..." é inesperadamente engraçado, emocionante, deprimente e, apesar da historinha bem básica, originalíssimo. Mas o que me conquistou foi a honestidade. Não garanto que você vá gostar do filme como eu, mas venda, não, melhor... penhore sua mãe para conseguir assistí-lo.
Eu amo, amo muito esse filme.
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