quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Crítica: A um passo da liberdade (Jacques Becker, 1960)


“A Um Passo da Liberdade” (ou, em tradução literal do título francês Le trou, “o buraco”) conta a história de cinco prisioneiros que tentam escapar da prisão La Santé, em Paris, pelos esgotos.

O diretor e roteirista Jacques Becker insistia que a história era totalmente baseada em fatos reais. Reforça essa suposta fidedignidade o fato de Jean Keraudy, um dos envolvidos no caso real, atuar como Roland, que praticamente é o líder dos fugitivos. É ele, também, que faz uma breve introdução ao filme, antes dos créditos iniciais. Além disso, outros dois participantes na fuga ajudaram na reconstituição dos detalhes, durante as filmagens.

Já bastante doente durante a produção, Becker, que morreria apenas alguns dias depois, teve a ajuda de seu filho, o também diretor Jean Becker, em algumas cenas


O uso de atores não-profissionais em quase todos os papéis principais, aliado aos inúmeros longos planos dando ênfase às tarefas repetitivas da prisão e aos preparativos relacionados à fuga, garantiram uma narrativa naturalista, quase de documentário, que é o ponto alto do filme. O “realismo” é reforçado também pela ausência de qualquer música, até os créditos finais, sendo a trilha sonora composta unicamente pelos mais variados ruídos (como os de buracos sendo abertos em pisos e paredes ou de grades sendo serradas). É impossível não fazermos uma analogia com “Rififi” (“Du Rififi Chez Les Hommes”, dir. Jules Dassin, 1955) e sua antológica cena do assalto, com 27 minutos de duração sem qualquer trilha sonora ou diálogo. Também em “Le Trou”, os ruídos, sem música que os amenize, vão gradativamente criando uma enorme tensão no espectador.

Roland, Manu, Monsigneur e Geo dividem uma cela e planejam a fuga. Quando chega um novo preso para sua cela, Claude, hesitam em inclui-lo nos planos, afinal pode se tratar de um “dedo-duro” plantado ali por conta de alguma suspeita do diretor do presídio. Mais tarde, porém, Claude, que dizia ter sido preso injustamente, por conta de uma acusação falsa de sua esposa, ganha certa confiança dos demais (que nunca é total) e assume algumas tarefas nos preparativos.

As incursões dos presos aos subterrâneos, durante os preparativos, proporcionam cenas marcantes. Quando Manu e Claude conseguem abrir a última passagem e chegar até a rua (sem, no entanto, fugir, já que a fuga seria no dia seguinte, com todos os demais), Claude vê um táxi passando e diz que “quase poderia pegá-lo”. É o típico momento “tão perto, tão longe”.

“Le Trou” é, para mim, filme de prisão e fuga que pode facilmente ser colocados entre os melhores do gênero. Filmaço!

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