sexta-feira, 3 de junho de 2011

Crítica: O Segredo dos Seus Olhos (Juan Jose Campanella, 2009)

por Bruno Marques
Extraído de http://cinema10.com.br/criticas/o-segredo-dos-seus-olhos


Costumo brincar que os argentinos são especialistas em somente três coisas: Alfajores, tango e roteiros de cinema. Futebol nem pensar. Brincadeiras a parte, o cinema produzido pelos “hermanos”, principalmente após os anos 90, é atualmente o grande representante do cinema latino-americano em festivais e mostras em todo o mundo. Um dos responsáveis pela transição da industria áudio-visual naquele país, Juan José Campanella, diretor de sucessos como O Filho da Noiva (2001) e O Mesmo Amor, a Mesma Chuva (2000), realizou em 2009 o seu melhor filme: O Segredo Dos Seus Olhos. Um thriller policial profundo, que só comprova a evolução das películas realizadas na “terra de Gardel”.

O roteiro adaptado pelo próprio Juan, conta a história de Benjamín Esposito, interpretado pelo soberbo ator Ricardo Darín, um ex-defensor público, que vive atormentado por fantasmas do passado, por não ter conseguido resolver um caso de homicídio. Obcecado em se livrar do peso de sua consciência, resolve então escrever um livro que resgate as lembranças daquela época, tentando de alguma forma chegar uma conclusão sobre os erros que contribuíram para seu insucesso.

Muito mais que um filme de mistério, O Segredo Dos Seus Olhos, trata-se de um estudo sobre a obsessão, assim como O Silêncio do Lago (1988) e Zodíaco (2007), tanto que em determinado momento da trama o filme deixa de lado a questão do delito, passando a explorar o comportamento psicológico do protagonista, que afunda em angústia frente a sua impotência em resolver o caso.

No elenco além de Darín estão Soledad Villamil, que já havia trabalhado com o diretor em O Mesmo Amor, a Mesma Chuva e Guillermo Francella, mais conhecido por suas atuações em comédias. Todos estão ótimos em cena, principalmente a partir da primeira hora de projeção, quando a trama vai elevando sua tensão.

É imprescindível lembrar do ótimo trabalho de caracterização, que contribuiu para dar maior realismo a trama, já que o envelhecimento e rejuvenescimento dos atores ao longo do filme é digno de grandes produções americanas.

Outro destaque fica por conta da fotografia, que usa e abusa da profundidade de campo, efeitos de desfoque (na linda cena inicial) e planos sequências. Na verdade o filme conta com apenas um plano sequência, mas que vale por um Arca Russa* inteiro. A cena de tirar o fôlego, mostra a perseguição do assassino durante uma partida de futebol, começando em um grande plano geral da cidade de Avellaneda, captada de um helicóptero, aos poucos vai se transformando em um plano fechado da tentativa de captura do marginal, tudo captado no meio dos torcedores. A cena terminando em um close do rosto do delinquente preso no gramado onde se realizava o jogo.

A produção teve grande êxito comercial na Argentina, perto de 1 milhão de expectadores, além de ter tido boa recepção pela crítica. Acredito que este sucesso só foi possível graças a boa relação do público com seus atores e diretores, pois assim como no México, a Argentina conta com um casting que atrai expectadores exclusivamente para o cinema, diferentemente de nossas produções em que nossos atores dividem suas carreiras entre o cinema e a TV, aumentando suas exposições e consequentemente o desgaste de suas imagens, além de por vezes nossos diretores recorrerem a tentativa da adaptação de uma linguagem televisiva para o cinema. O resultado é o esvaziamento das salas de exibição.

Em função de sua grande qualidade, o filme foi um dos pré-qualificados para tentar uma vaga na corrida pelo Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, representando a Argentina na disputa. Não seria exagero se concorresse também ao prêmio de melhor fotografia e Roteiro adaptado, porém acredito que o filme não terá força política para tanto.

Mesmo com ou sem Oscar, o filme merece ser visto, pois se trata do melhor filme de um dos grandes diretores argentinos contemporâneos.

*Arca Russa: Filme de 2002 dirigido por Aleksandr Sokurov, totalmente feito em plano sequência.

Um comentário:

Mara faturi disse...

ESTE FILME É BÁRBARO;RECOMENDO!!
*MUITO BOM PASSEAR POR AQUI...
ABRAÇO!