por Georges-Michel Darricades*
Extraído de http://www.miradaglobal.com/index.php?option=com_content&view=article&id=1356%3Acine-frances-un-panorama-de-la-nouvelle-vague&catid=29%3Acultura&Itemid=18&lang=pt
Extraído de http://www.miradaglobal.com/index.php?option=com_content&view=article&id=1356%3Acine-frances-un-panorama-de-la-nouvelle-vague&catid=29%3Acultura&Itemid=18&lang=pt
A Nouvelle Vague, há meio século, mudou para sempre o cinema francês e influenciou enormemente a filmografia do mundo.
Sei que começarei esta coluna com algo que talvez deixe muitas pessoas desconcertadas. No entanto, quero dar-me um gosto. Quero mencionar dois diretores: um, entreabrindo a porta do grupo sobre o qual falarei —a Nouvelle Vague—, Roger Vadim, que não é parte em si do movimento. E entrecerrando a porta, Claude Lelouch, que também não o integra.
Com Françoise Sagan e seu romance Bom-dia tristeza de 1954, escrita a contrapelo da nova novela “ Nouveau Roman”, Roger Vadim, com seu filme E Deus criou a mulher de 1956, romperam os modelos da quietude do pós-guerra. Por outro lado, Claude Lelouch com Um homem e uma mulher de 1966, que segundo certas pessoas estava “em estado de graça” quando filmou esta fita de fotografia maravilhosa, grande manejo de câmara, música indelével e diálogos simples mas cativantes, além da excelente atuação de seus protagonistas, conseguiu Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro. E seu “broche de ouro” foi em 1980, com um filme ícone da cinematografia francesa moderna, Uns e os outros.
Também devemos mencionar com muitos méritos Marcel Camus, embora não pertença propriamente ao movimento, com seu filme Orfeu negro, filme que ganhou o Festival de Cannes em 1959 como o melhor filme em idioma estrangeiro (português), e Louis Malle, que seguiu nessa época um caminho paralelo mas com dois grandes filmes, ambos com sua musa Jeanne Moreau, Elevador para o cadalso, onde reflete sua paixão pelo jazz com trilha sonora de Miles Davis, e Os amantes.
Como os mais renomados da Nouvelle Vague encontramos Claude Chabrol, Alain Resnais, Jean-Luc Godard e François Truffaut. Mas não deixaremos de mencionar Eric Rohmer, também membro do grupo por um ensaio publicado com Godard, chamado Hitchcock,os primeiros 44 filmes. Destaco este último pela profunda admiração que os diretores que mencionamos sentiam pelo grande mestre do suspense; a mesma que sentiam também por Orson Welles.
Pois bem, todos foram fortemente influenciados por Jean Pierre Melvilla, seu precursor e iniciador, e que definiu seu cinema como “a busca de uma linguagem”. O filme que dá início a tudo isto é : Dois homens em Manhattan, de 1958.
Depois disso, vamos ao que nos interessa…
Vamos começar dizendo que quase todos os membros da Nouvelle Vague começaram como críticos, dando um novo enfoque a esta atividade, na prestigiosa revista Cahiers de Cinemá. Daí deram o grande salto para incursionar pela direção de cinema. Mas embora todos tivessem uma prolífica produção, para não abarrotar o leitor com excessos de informação, só mencionarei um filme de cada um; algum que certamente tenha marcado alguma meta e tenha iniciado este movimento que renova a cinematografia francesa: Chabrol, O belo Sergio; Resnais, Hiroshima meu amor, sobre a novela de Margueritte Duras; Truffaut, Os quatrocentos golpes e, finalmente, Godard, No final da escapada (À bout de soufflé), mais conhecido por nós como Acossado, e que para a Nouvelle Vague passa a ser um verdadeiro manifesto em imagens.
François Truffaut, muito antes, quando ainda era crítico, escreveu um artigo premonitório para o que viria posteriormente: “Une certaine tendence du cinema française”, que junto ao filme de Godard recém nomeado, foi a partida da nova tendência.
Este movimento não só conseguiu criar, mas também deu um peso definitivo ao que hoje se conhece como “cinema de autor”, passando para um importantísimo e quase exclusivo primeiro plano o trabalho do diretor. Asseguravam que, assim como o escritor escreve com a pena, o diretor deve fazer isso com sua câmara, que usavam levando-a sobre seus ombros durante a filmagem. Isso não era habitual. Filmavam com câmaras de 8 ou 16 mm. Outro dos aspectos que mudaram diametralmente era a locação utilizada, passando a ser cenários naturais, prescindindo dos estudos e o plateaux.
A linha argumentativamudou de modo significativo, especialmente ao apresentar-nos a temática de uma maneira interessante, mas com grande profundidade, e sem descuidar jamais do alto grau de verossimilhança sem enfeites artificiais que tirassem o espectador do nó central do roteiro.
Eram muito soltos, chegando inclusive a deixar alguns vazios intencionais, que permitiam dois outros aspectos mais característicos de seus filmes: a liberdade que os atores, muito bem selecionados, tinham para improvisar diálogos que davam muita fluidez e agilidade aos textos. Não esqueçamos de que este movimento deu grande importância à linguagem, transformando-a sob o ponto de vista cinematográfico. A regra de ouro para os atores é que não havia regras.
Foi tal a aposta destes realizadores, que só o neorrealismo italiano de Visconti, Rosellini e De Sica, no pós-guerra, pode comparar-se com a influência na tendência cinematográfica. O mesmo ocorreu com estes jovens cineastas franceses dos final doa anos cinquenta e inícios dos sessenta.
O que realmente está claro, é que a Nouvelle Vague, há meio século, mudou para sempre o cinema francês e influenciou enormemente a filmografia do mundo.
*Georges-Michel Darricades é colunista da Corporação Proyecta América a cargo da seção Cultura; também do Centro de Estudios Sociales Avance e na revista Política&Espíritu. Colaborador de Mirada Global.
Nenhum comentário:
Postar um comentário