sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Crítica: A Noite dos Mortos Vivos (George Romero, 1968)

por Equipe Otacrazy Go!Go!

Filmes de terror e preconceito sempre andaram lado a lado. Os expectadores comuns, frequentemente, detêm a imagem que esse gênero é dispensável, vazio, puro entretenimento, quando não o repudiam. No entanto, as pessoas ignoram a importância do terror, que como qualquer outro estilo contribuiu para o desenvolvimento cinematográfico. A premissa dos filmes de terror é evocar as emoções mais obscuras, basicamente, o medo. Todavia, o cinema vai além dos sentimentos, racionalmente, esse gênero já realizou relevantes críticas a sociedade, como é o caso de A Noite dos Mortos Vivos (1968).

Esse longa metragem é um divisor de águas, dando início a uma nova fase de terror. Esse período aproxima-se mais da realidade e afasta-se da antiga estética gótica, que era adotada em filmes como o expressionista alemão Nosferatu (1922) dirigido por Murnau. Na década de 30, no auge do Terror na Universal Studios, criaturas inexistentes (vampiros, lobisomens, múmias) eram os protagonistas. Enquanto, na nova fase, o destaque são os zumbis. Mesmo que a probabilidade dos mortos vivos existirem seja pequena, esta é maior do que as demais criaturas, pois já foram seres humanos um dia.

A fama e a adoração dos zumbis concretizaram-se graças A Noite dos Mortos Vivos, apesar de não ser o primeiro filme a tratar desse tema, trouxe o reconhecimento internacional. Diferente dos zumbis velozes conhecidos, George Romero, optou por seres rastejando, o que é mais lógico, pois estão em processo de decomposição que dificulta sua locomoção.

A Noite dos Mortos Vivos começa com a visita de Barbra e Johnny ao túmulo de seu pai, quando são atacados por um cadáver. Na tentativa de ajudar a irmã, John cai e bate a cabeça em uma lápide. Barbra, com a ajuda de seu novo amigo Ben, refugia-se em uma casa isolada numa fazenda, na qual também estão abrigados Harry, Helen (sua esposa) e Karen (sua filha), e o jovem casal Tom e Judy.

Praticamente, toda a história, se passa na casa que é cenário das constantes discussões entre os dois líderes: o negro, racional, passivo Ben e o branco, impulsivo, pai de família Harry. Irão permanecer na casa esperando o fim do ataque dos mortos vivos? Tentaram fugir da fazenda? Como protegeram a casa dos invasores? Quem será o líder, o porta voz do grupo? Embora, Harry não possua aptidão para liderar o grupo, sendo inseguro e irracional, está constantemente disputando poder com Ben, pois não quer confiar o destino de sua família nas mãos de um negro. Esse embate revela a primeira crítica à sociedade americana da década de 60, o racismo.

O personagem de Harry é também utilizado para realizar a crítica referente aos conflitos no âmbito familiar. Em vez de apoiar sua família nesse momento difícil e de apreensão, ele gasta a maior parte do tempo discutindo com sua esposa a respeito de sua filha que está doente por razões desconhecidas.

O desfecho do filme, o ápice do apocalipse zumbi, demonstra como há falta de comunição na sociedade com a morte de um dos refugiados, pois foi confundido pelos policiais como um zumbi. Na verdade, estes nem pensaram em averiguar se era ou não um humano sobrevivente, apenas atiraram. O mundo está em constante processo de desenvolvimento e aprimoramento de suas tecnologias. O progresso dos meios de comunicação deveria aproximar mais as pessoas ao invés de afastá-las. É o que ocorre, atualmente, com o advento do computador. As pessoas saciam a necessidade do contato humano apenas por meio da Internet (meio virtual), afastando-se cada vez mais.

A película foi filmada em preto e branco, devido ao baixíssimo orçamento. Além de, praticamente, a inteira narrativa concentrar-se na casa para reduzir os custos, também foi utilizada de forma estratégica para mostrar a claustrofobia das personagens que estavam sendo encurralas pelos mortos vivos. E esse cenário abarrotado de mobilha favorecia a formação de sombras que contribuía para um clima mais obscuro e tenso.

O primeiro filme de terror dirigido por George Romero, pai dos zumbis, é a prova de que o gênero terror não é uma simples forma de entretenimento, tendo bastante a acrescentar ao cinema.

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