terça-feira, 26 de outubro de 2010

Biografia: Carlos Reichenbach

Extraído de seu blog pessoal http://www.olhoslivres.com/Biografia.htm

Carlos Oscar Reichenbach Filho, nasceu em Porto Alegre, Rio Grande Do Sul, em 14 de Junho de 1945. Com quatro meses, quando sua mãe, Luise Tinger Reichenbach, foi autorizada pelos médicos a viajar de avião, se instalou definitivamente em São Paulo, terra natal de seu pai, Carlos Reichenbach, onde mora e trabalha até hoje.

O avô Gustav Reichenbach, veio ao Brasil, no início do século, com seu sócio Hartmann, à convite do governo brasileiro, instalar a primeira industria litográfica no país.Por ser neto, filho e sobrinho de editores e industriais gráficos, Carlos teve desde cedo uma ligação profunda com a literatura e o jornalismo.

Carlos Reichenbach, pai, foi durante vários anos o editor de revistas conceituadissimas como Seleções Do Readears Digest (edição portuguesa e castelhana), Casa e Jardim (que lançou no Brasil), O Médico Moderno, Dirigente Industrial, e sobretudo a prestigiosa revista LADY (que lhe rendeu dois infartos, um deles fatal). Nada mais natural que Carlos Reichenbach, filho, tenha sido editor de todos os jornais nos colégios em que estudou. Em entrevista, há dez anos atrás, para o jornal Folha de São Paulo, revelou que o presente mais inesquecível que recebeu na vida, foi um mimeógrafo à tinta, ganho de seu pai, quando fez nove anos de idade. Com a morte do pai, em 1960, interrompeu os estudos em um colégio alemão na cidade de Rio Claro (estava sendo preparado para estudar artes gráficas na Alemanha), voltou para a capital de São Paulo, onde gradativamente foi abandonando o ramo da família e se interessando por cinema.

Assíduo freqüentador das salas de arte, dos "poeiras" do centro de São Paulo e das sessões do Museu de Arte, na rua Sete de Abril, promovidas pela Sociedade Amigos da Cinemateca, Reichenbach fez vários cursos de história e crítica cinematográfica, com Paulo Emílio Salles Gomes, Francisco Luiz de Almeida Salles, Alberto D´Aversa e outros. Na hora de optar por uma faculdade, Carlos prestou, em 1965, entre outros, vestibular no primeira curso de cinema de nível universitário no Brasil, a Escola Superior de Cinema São Luiz. Reichenbach imaginava, naquela época, que existisse a profissão de roteirista cinematográfico, por isso trocou o curso de neo-latinas na Universidade de São Paulo para integrar a segunda turma da São Luiz. Colega de João Callegaro, Ana Carolina, Paulo Rufino, Carlos Alberto Ebert, Enzo Barone, Sílvio Bastos e outros estudantes que, posteriormente, se profissionalizaram, Reichenbach foi aluno de mestres como Roberto Santos, Anatol Rosenfeld, Paulo Emílio Salles Gomes, Mário Chamie, Décio Pignatari, e sobretudo, Luiz Sérgio Person, responsável pelo seu interesse em dirigir filmes. A São Luiz, durante os anos 60, reunia o meio cinematográfico emergente de São Paulo. Embora não fossem alunos, freqüentavam a ESC/São Luiz, Rogério Sganzerla, Jairo Ferreira, José Mojica Marins, Ozualdo Candeias, Fauzi Mansur, etc. De certa maneira, pode-se dizer que o "cinema marginal" (ou "bôca-do-lixo") é fruto desta convivência nascida na ESC/São Luiz.

Produzido por Luiz Sérgio Person, Reichenbach realiza seu primeiro curta-metragem em 35 mm, ESTA RUA TÃO AUGUSTA, como exercício de curso. Já naquele momento, apaixonado pela cultura japonesa, Reichenbach começa à escrever críticas de cinema em jornais de bairro e a colaborar com Jairo Ferreira e Orlando Parolini em suas colunas semanais no jornal São Paulo Shimbun. Em 1966, Reichenbach fotografa o curta-metragem VIA SACRA de Orlando Parolini, primeiro filme "underground" feito no Brasil e jamais concluído porque Parolini, num acesso de paranóia, em 1970, sob a ameça de ter seu material filmado confiscado pela polícia federal, picotou todo o negativo, fotograma por fotograma. Por ter uma câmera Paillard Bolex 16mm, Reichenbach fotografou diversos curtas metragens para colegas e amigos, que participaram do Festival JB-Mesbla. Ávido leitor do Cahiers Du Cinema na década de 60 e um dos únicos assinantes brasileiros da revista FILM CULTURE dos irmãos Meckas, Reichenbach realizou o curta-metragem DUAS CIGARRAS, 16mm, mudo, de teor experimental. Apesar de sua formação literária, ou talvez por isso, Reichenbach foi cada vez mais se desinteressando pelo texto e se aproximando da técnica cinematográfica, tendo feito câmera e fotografia em vários filmes amadores de colegas seus.

Antes de abandonarem a São Luiz, para se profissionalizarem, Reichenbach e João Callegaro se uniram ao crítico mineiro Antonio Lima, e fundaram a Xanadú Produções Cinematográficas. Colocando de lado todos os conceitos estéticos, políticos e culturais da época, os três cinéfilos resolveram produzir um filme em episódios de teor exclusivamente comercial. Nascia alí, na porta de saída da Faculdade São Luiz, o "cinema cafajeste". Um cinema absolutamente sintonizado com seu tempo. Como disse Anatol Rosenfeld, a arte mal comportada do pós-64, optou por uma estética do mau gosto e radicalmente indigente, com a cara do país. "As Libertinas" e "O Bandido Da Luz Vermelha", realizados simultaneamente, foram as respostas fílmicas para o nascente movimento tropicalista.

Após As Libertinas, Reichenbach e Lima realizam Audácia !. O episódio de Reichenbach é um tributo à sua geração, influenciado pela vivência contra-cultural no período do "desbunde". Um anti-filme, que propunha "o péssimo para chegar ao ótimo". "A Badaladíssima dos Trópicos" é a prova de que naquele época, a vida era muito mais interessante do que a arte e o cinema. "A repressão comia solta, o mundo estava mudando, vivíamos 68 à vinte e quatro quadros por segundo. Jimmy Hendrix e Janis Joplin na cabeça feita. Meu episódio em AUDÁCIA! é delírio à luz do barato. Um prolongamento do meu dia a dia anárquico; transgressão pura e niilista até a medula, como tudo que fazíamos na época. ", afirma Reichenbach. "Um filme ultra datado e que só fazia sentido na época.".

À partir de 69, Reichenbach começa à iluminar e fazer câmera em longas metragens de outros diretores. De 69 até hoje, fotografou e operou a câmera de mais de 36 longas metragens. Foi premiado como melhor diretor de fotografia pelos filmes: "EXCITAÇÃO" (1977), de Jean Garret, "A FORÇA DOS SENTIDOS" (1979), de Jean Garret, e "DOCE DELÍRIO" (1982), de Manoel Paiva. Em 1969, Reichenbach iniciou, na raça, um longa metragem de agudo teor político, GUATEMALA, ANO ZERO. Chegou a rodar mais de cinqüenta por cento das cenas previstas em um roteiro de oito páginas (!!!), mas interrompeu o trabalho por pressões familiares.


Verificar ortografiaEm 1970, foi convidado pelo produtor Renato Grecchi à dirigir um filme do gênero infanto-juvenil, com corredores de automóvel, garotas de biquini e música jovem. Realiza então, o seu autêntico e primeiro longa metragem: CORRIDA EM BUSCA DO AMOR. Devido aos enormes problemas de produção enfrentados durante as filmagens, Reichenbach foi obrigado à improvisar o roteiro diariamente com seus assistentes, Jairo Ferreira e Percival Gomes de Oliveira. As cenas eram escritas, à noite, conforme os atores e carros à disposição no dia seguinte. "Nenhuma escola de cinema me ensinaria tanto quanto este filme. Aqui comprovei o truísmo de que o cineasta brasileiro é obrigado à transformar a falta de condições em elemento de criação." diz Reichenbach.

Em 1971, Reichenbach torna-se sócio-gerente da Jota Filmes, tradicional produtora de filmes publicitários em São Paulo. Durante 4 anos, escreveu, produziu, dirigiu e fotografou mais de 150 comerciais e filmes institucionais. Durante este período lecionou fotografia de cinema na Faculdade Alvarez Penteado e cinema publicitário na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Em 1974, insatisfeito com os rumos de sua vida profissional, despede-se da profissão de publicitário, exatamente no momento em que começava à se tornar o "diretor da moda". Investe tudo que sobrou da experiência empresarial e dos bens familiares no longa metragem LILIAN M., RELATÓRIO CONFIDENCIAL. Usando a infra-extrutura de sua empresa, sucatas de cenário de seu estúdio e o equipamento que possuía, fez o seu filme de linguagem mais radical. Com o filme concluído, vende sua parte na Jota Filmes, e jura à si mesmo nunca mais retornar ao ramo publicitário. "Sai no início de uma carreira yuppie. Quando percebi que tinha três cartões de crédito na carteira, senti que era hora de pular fora... Joguei tudo que tinha acumulado em três anos, mais a experiência técnica adquirida durante este período, num filme súmula: do experimental ao cinema de gênero, do udigrudi amador ao rigor técnico extremo.".

Ao sair da Jota Filmes, Reichenbach assume definitivamente a profissão de técnico cinematográfico. Da direção, produção, fotografia, operador de câmera, roteiro e, às vezes até como ator, participou em mais de quarenta filmes de longa metragem. Dirigiu e fotografou vários documentários institucionais, incluindo uma série de filmes em 16 mm para a Ford tratores, caminhões Volvo e um documentário de média-metragem para a multinacional holandesa Hunter Douglas, "FORROS E FACHADAS", filmado por todo o Brasil, do Oiapoque ao Chuí, produzido por João Callegaro. A filmografia de Carlos Reichenbach como autor e diretor compreende 6 curtas-metragens, 4 episódios em longas metragens e 14 longas metragens. Tem exercido, esporadicamente, a função de crítico e ensaísta em diversas publicações, assinou durante dois três duas prestigiadas colunas semanais de cinema em sites específicos, participado de inúmeros cursos e palestras sobre o filme brasileiro no Brasil e exterior, lecionou cursos de roteiro cinematográfico em diversos lugares, fez parte da diretoria e conselho de diversos órgãos de classe cinematográfica e foi, durante quatro anos, titular da cadeira de direção cinematográfica e "expressão em cinema e vídeo", do curso de cinema e vídeo da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo.

Considerado um dos mais importantes realizadores paulistas, Reichenbach teve sua obra reconhecida internacionalmente em 1985 no Festival de Rotterdam, Holanda, onde participou com seus filmes por cinco anos consecutivos. Foi por duas vezes premiado pela Cinemateca Real de Bruxelas, recebeu com ALMA CORSÁRIA, o prêmio dos 30 anos do Festival do Novo Cinema de Pesaro. Em 2001, após ter sobrevivido a três infartos do miocárdio e ganhar três pontes de safena e uma mamária, foi o primeiro cineasta a receber o Troféu Eduardo Abelim, no 29° Festival de Gramado. Recebeu também o troféu Barroco, pela obra, na 3ª Mostra de Cinema Brasileiro de Tirandentes, Minas Gerais, e o troféu especial do Guarnicê de Cine-Vídeo, em São Luiz do Maranhão.

Reichenbach, que continua morando em São Paulo, cidade personagem de seus filmes, é casado com a dentista Lygia, é pai de três filhos adultos e divide os cargos de sócio-gerente com a produtora Sara Silveira, na Dezenove Som e Imagens Produções Ltda, e com sua filha, Eleonora, na Beethoven Street Filmes.

FILMOGRAFIA
como diretor de curtas e episódios
1965 - Duas cigarras
1966/68 - Esta rua tão Augusta
1967 - Alice, primeiro episódio de As libertinas
1969 - Prólogo (co-direção com Antônio Lima) e
A badaladíssima dos trópicos x Os picaretas do sexo,
primeiro episódio de Audácia! - A fúria dos desejos
1979 - Sonhos de vida
1979 - O M da minha mão
1979 - Sangue corsário
1982 - Rainha do flipper, primeiro episódio de As safadas
1989 - Desordem em progresso, episódio de City life
1994 - Olhar e sensação
2002 - Equilíbrio e Graça

como diretor de longas metragens
1972 - A corrida em busca do amor
1975 - Lilian M., relatório confidencial
1979 - Sede de amar (Capuzes negros)
1979 - A ilha dos prazeres proibidos
1980 - Império do desejo
1981 - Amor, palavra prostituta
1981 - O paraíso proibido
1984 - Extremos do prazer
1986 - Filme demência
1987 - Anjos do arrabalde, as professoras
1994 - Alma corsária
1999 - Dois Córregos
2002/03 - Garotas do ABC (Aurélia Schwarzenega)
2003/04 - Bens Confiscados

como diretor de fotografia e operador de câmera
1969 - Audácia! - A fúria dos desejos
1969 - Orgia ou o homem que deu cria, de João Silvério Trevisan
1970 - Os Amores de Um Cafona - de Penna Filho e Osiris Parcifal de Figueiroa
1975 - Lilian M., relatório confidencial
1977 - Excitação, de Jean Garret
1978 - Meus homens, meus amores, de José Miziara
1979 - Mulher, Mulher - de Jean Garret
1979 - J.J.J., o amigo do super-homem, de Denoy de Oliveira
1979 - A força dos sentidos, de Jean Garret
1979 - A ilha dos prazeres proibidos
1979 - A dama da zona (Hoje tem gafieira), de Ody Fraga
1980 - A mulher que inventou o amor, de Jean Garret
1980 - Viúvas precisam de consolo, de Ewerton de Castro
1980 - O gosto do pecado, de Cláudio Cunha
1981 - Amor, palavra prostituta
1982 - As prostitutas do dr. Alberto, de Alfredo Sternheim
1982 - Rainha do flipper, primeiro episódio de As safadas
1982 - Instinto Devasso, de Luiz Castillini
1983 - Doce delírio, de Manoel Paiva
1984 - Extremos do prazer
1984 - Elite Devassa, de Luiz Castillini
1985 - Gozo Alucinante - de Jean Garret
1991 - Sua Excelência, o Candidato - de Ricardo Pinto e Silva
1994 - Alma corsária

como diretor de fotografia de curtas e médias metragens
1965 - Via Sacra, de Orlando Parolini (16mm - inacabado)
1968 - Odisséia, de Miguel Chaia (16mm - inacabado)
1974 - O Gurú e os Guris - de Jairo Ferreira
1979 - Nem Verdade, Nem mentira - de Jairo Ferreira
1995 - Glaura, de Guilherme de Almeida Prado (15 min)
1998 - A voz e vazio: a vez de Vassourinha, de Carlos Adriano (15 min)
(para confirmar as datas)
Hamlet - de Ricardo Elias
Amor, Aventura e Transporte Público - de Bruno de André

como diretor de fotografia
(assinando com o pseudônimo de Alfred Stinn)
1980 - Império do desejo
1981 - O paraíso proibido

como compositor e executante da Trilha Musical Original
1994 - Alma Corsária
1994 - Olhar e Sensação

como autor da Seleção Musical
1974 - Até A Última Bala, de Luigi Picchi
1978 - Snuff, Vítimas Do Prazer, de Cláudio Cunha
1978 - Belas e corrompidas, de Fauzi Mansur
1980 - A mulher que inventou o amor, de Jean Garret

como ator
1968 - O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla
1970 - Ritual de sádicos (O Despertar da Besta), de José Mojica Marins
1970 - O pornógrafo, de João Callegaro
1970 - Sertão em festa, de Osvaldo Oliveira
1971 - Finis Hominis, de José Mojica Marins
1971 - No Rancho fundo, de Oswaldo Oliveira
1972 - Gringo, o último matador, de Edward Freund
1975 - Ainda Agarro este Machão, de Edward Freund
1976 - A casa das tentações, de Rubem Biáfora
1977 - O vampiro da cinemateca, de Jairo Ferreira
1978 - Belas e corrompidas, de Fauzi Mansur
1978 - Noite em chamas, de Jean Garret
1980 - A mulher que inventou o amor, de Jean Garret
1986 - Filme demência

como roteirista de outros diretores
1977 - Vítimas do prazer, de Cláudio Cunha (argumento e roteiro)
1978 - Noite em chamas, de Jean Garret


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