Extraído de http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3089&secao=322
Carlos Gerbase é um cineasta gaúcho, integrante da Casa de Cinema de Porto Alegre. É também professor de cinema na PUCRS, escritor e músico, tendo sido membro da banda Replicantes como baterista e depois, vocalista.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Quais os principais pontos que marcam a trajetória do diretor polonês Krzysztof Kieślowski?
Carlos Gerbase - Ele é um cineasta que conseguiu construir uma obra verdadeiramente autoral e coerente, que alcançou distribuição internacional. Não são muitos os diretores do leste europeu que conseguem, em relativamente pouco tempo, um reconhecimento assim.
IHU On-Line - Como você define ou qualifica a obra Decálogo, projeto de dez médias-metragens?
Carlos Gerbase - Prefiro destacar apenas um filme da série: "Não matarás". É um dos filmes mais impressionantes sobre a morte (e a culpa de quem mata) que já foram produzidos. A cena em que o motorista de táxi é assassinado dura tanto tempo, e é tão angustiante, que o espectador pode ficar nauseado. Nesses tempos de mortes espetaculares, executadas às dúzias, com sentido mais coreográfico que emocional, essa cena é um exemplo de cinema humanista de primeira qualidade.
IHU On-Line - O que caracteriza a ética do cotidiano e o sentido da vida humana na obra de Kieślowski?
Carlos Gerbase - Na Trilogia das Cores, creio que há uma preocupação com os grandes desafios éticos do mundo contemporâneo, ao mesmo tempo em que certos valores ditos "universais" são questionados e, de certa forma, resgatados. A moral é sempre histórica, como já dizia Nietzsche, mas isso não resolve todos os nossos problemas de avaliação. É muito difícil fazer uma reflexão sobre o sentido da vida no cinema, mas Kieślowski não foge da luta. E me parece que, principalmente no "Branco", ele oferece ao espectador sua perplexidade com algumas soluções do nosso tempo. É como se ele dissesse: esse mundo parece tão sem sentido, tão absurdo, que alguém precisa encontrar, urgentemente, bases um pouco mais sólidas para aliviar a nossa angústia. Mas, é claro, ele não sabe que bases são essas. A filosofia e as religiões procuram essas bases, e talvez por isso o trabalho de Kieślowski possa ser classificado como filosófico e religioso.
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