Se os filmes de reconstrução histórica realizados por Hollywood causam arrepios nos historiadores por conta do grande número de deturpações e imprecisões históricas; é no cinema chamado “de arte” que a história encontra seu reduto nas artes audiovisuais, seja em documentários ou em filmes de ficção. A relação entre cinema e história vem sendo discutida desde a criação do cinema, no final do século XIX. O polonês Boleslas Matuszewski, integrante da equipe dos irmãos Lumière que inventou o cinema, acreditava que a imagem cinematográfica, era um testemunho ocular verídica e infalível, capaz de controlar a tradição oral.
A partir dos anos 40, contudo, essa visão proposta por Matuszewski começa a ser questionada. O jornalista Siegfried Kracauer em seu livro De Caligari a Hitler (1947) defende que os filmes de ficção refletiam de forma imediata a mentalidade de uma nação, estabelecendo assim uma relação direta entre o filme e o meio que o produz. Kracauer citava como exemplo o cinema expressionista que, segundo ele, refletia os anseios da sociedade alemã da década de 1920 prenunciando a ascensão do nazismo. Apesar da obra de Kracauer ter tido grande impacto na sociologia do cinema, só é a partir dos anos 70 que o cinema passa a ser reconhecido como um novo objeto de análise histórica, por conta da obra do historiador francês Marc Ferro.
Ferro foi um pioneiro na incorporação do cinema como fonte para o entendimento das ideologias e mentalidades dos sujeitos da História. Através dos filmes, passou a buscar evidências que pudessem ajudá-lo a perceber e compreender determinados eventos e períodos históricos. Conforme afirmou em uma conferência, quando da sua recente presença no Brasil, "estudar só o cinema é um absurdo, como também é um absurdo estudar o mundo sem o cinema". Segundo Ferro, o filme seria uma importante fonte para revelar tanto aquilo que o autor busca expressar – que está contido na narrativa, as idéias sobre determinados personagens, fatos, práticas ou ideologias – como para se perceber o que não se queria mostrar, como os modos de narrar uma história, a maneira utilizada para marcar as passagens do tempo, os planos de câmera. A partir destes seria possível penetrar, de acordo com Ferro, em "zonas ideológicas não-visíveis" da sociedade. Ferro defende assim que, através do filme, chega-se ao caráter desmascarador de uma realidade político e social. Como exemplo, ele analisa o filme soviético Tchapaev (Sergueï e Gueorgui Vassiliev 1934), tentando demonstrar como se construía naquele caso uma ideologia stalinista.
Outra área de atuação postulada por Ferro para os historiadores situa-se na produção de filmes históricos. Para Ferro, os historiadores devem procurar também fazer uso do cinema como meio de comunicação de suas concepções sobre a História. O trabalho dos historiadores seria importante para acrescentar algo que, segundo ele, o jornalismo geralmente não faz que é explicar a origem dos fenômenos e poderia acontecer tanto em colaboração com jornalistas e cineastas como em documentários históricos.
Atualmente diversos professores de história do ensino fundamental, médio e superior vêm utilizando filmes em suas salas de aula, como um instrumento pedagógico, não só como fonte de estudos acadêmicos, mas também como fomentador de discussões e questionamentos a serem desenvolvidos em sala de aula. Abaixo uma pequena lista de alguns outros filmes que retratam acontecimentos importantes da história.
Aproximação (Amos Gitai, 2007) – Questão Palestina
A Batalha de Argel (Gillo Pontecorvo, 1966) – Independência da Argélia
Berlim Alexanderplatz (Reiner Werner Fassbinder, 1980) – República de Weimar
Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho, 1985) – Questão Agrária no Brasil
Canal (Andrzej Wajda, 1957) – Segunda Guerra Mundial
Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil (Carla Camurati, 1995) – Período Joanino
A Confissão (Costa-Gavras, 1970) – Totalitarismo século XX
Desmundo (Alain Fresnot, 2003) – Colonização Brasileira
Os Deuses Malditos (Luchino Visconti, 1969) - Nazismo
Danton - O Processo da Revolução (Andrzej Wajda, 1983) – Revolução Francesa
Hotel Ruanda (Terry George, 2004) – Genocídio em Ruanda
Outubro (Sergei Eisenstein, 1928) – Revolução Russa
Terra de Ninguém (Danis Tanovic, 2001) – Guerra da Bósnia
Terra e Liberdade (Ken Loach, 1994) – Guerra Civil Espanhola
A partir dos anos 40, contudo, essa visão proposta por Matuszewski começa a ser questionada. O jornalista Siegfried Kracauer em seu livro De Caligari a Hitler (1947) defende que os filmes de ficção refletiam de forma imediata a mentalidade de uma nação, estabelecendo assim uma relação direta entre o filme e o meio que o produz. Kracauer citava como exemplo o cinema expressionista que, segundo ele, refletia os anseios da sociedade alemã da década de 1920 prenunciando a ascensão do nazismo. Apesar da obra de Kracauer ter tido grande impacto na sociologia do cinema, só é a partir dos anos 70 que o cinema passa a ser reconhecido como um novo objeto de análise histórica, por conta da obra do historiador francês Marc Ferro.
Ferro foi um pioneiro na incorporação do cinema como fonte para o entendimento das ideologias e mentalidades dos sujeitos da História. Através dos filmes, passou a buscar evidências que pudessem ajudá-lo a perceber e compreender determinados eventos e períodos históricos. Conforme afirmou em uma conferência, quando da sua recente presença no Brasil, "estudar só o cinema é um absurdo, como também é um absurdo estudar o mundo sem o cinema". Segundo Ferro, o filme seria uma importante fonte para revelar tanto aquilo que o autor busca expressar – que está contido na narrativa, as idéias sobre determinados personagens, fatos, práticas ou ideologias – como para se perceber o que não se queria mostrar, como os modos de narrar uma história, a maneira utilizada para marcar as passagens do tempo, os planos de câmera. A partir destes seria possível penetrar, de acordo com Ferro, em "zonas ideológicas não-visíveis" da sociedade. Ferro defende assim que, através do filme, chega-se ao caráter desmascarador de uma realidade político e social. Como exemplo, ele analisa o filme soviético Tchapaev (Sergueï e Gueorgui Vassiliev 1934), tentando demonstrar como se construía naquele caso uma ideologia stalinista.
Outra área de atuação postulada por Ferro para os historiadores situa-se na produção de filmes históricos. Para Ferro, os historiadores devem procurar também fazer uso do cinema como meio de comunicação de suas concepções sobre a História. O trabalho dos historiadores seria importante para acrescentar algo que, segundo ele, o jornalismo geralmente não faz que é explicar a origem dos fenômenos e poderia acontecer tanto em colaboração com jornalistas e cineastas como em documentários históricos.
Atualmente diversos professores de história do ensino fundamental, médio e superior vêm utilizando filmes em suas salas de aula, como um instrumento pedagógico, não só como fonte de estudos acadêmicos, mas também como fomentador de discussões e questionamentos a serem desenvolvidos em sala de aula. Abaixo uma pequena lista de alguns outros filmes que retratam acontecimentos importantes da história.
Aproximação (Amos Gitai, 2007) – Questão Palestina
A Batalha de Argel (Gillo Pontecorvo, 1966) – Independência da Argélia
Berlim Alexanderplatz (Reiner Werner Fassbinder, 1980) – República de Weimar
Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho, 1985) – Questão Agrária no Brasil
Canal (Andrzej Wajda, 1957) – Segunda Guerra Mundial
Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil (Carla Camurati, 1995) – Período Joanino
A Confissão (Costa-Gavras, 1970) – Totalitarismo século XX
Desmundo (Alain Fresnot, 2003) – Colonização Brasileira
Os Deuses Malditos (Luchino Visconti, 1969) - Nazismo
Danton - O Processo da Revolução (Andrzej Wajda, 1983) – Revolução Francesa
Hotel Ruanda (Terry George, 2004) – Genocídio em Ruanda
Outubro (Sergei Eisenstein, 1928) – Revolução Russa
Terra de Ninguém (Danis Tanovic, 2001) – Guerra da Bósnia
Terra e Liberdade (Ken Loach, 1994) – Guerra Civil Espanhola
Um comentário:
Belo texto...
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